Prof.
Dr. Felismar Manoel (1)
Relato
de Caso Próprio
Resumo:
Emprega-se
a prática mental com a intenção de promover a aprendizagem de uma
habilidade motora, entendendo-se como prática mental a simulação
mental de repetidos movimentos. O
objetivo deste estudo é relatar o êxito obtido, mediante as
atividades psicocinéticas de relaxamento, ideação mental e
imaginação, da realização dos movimentos comportamentais que
envolvem a ação miccional, e em sequência, a realização
cinesioterapêutica dos movimentos musculares que foram inicialmente
imaginados. A metodologia de base psicocinética trabalha com a
teoria de que os movimentos ideados, mentalizados e imaginados
sequencialmente, como uma vivência, entendido, sentido e imaginado
mentalmente, fisiologicamente melhoram a irrigação sanguinea das
áreas cerebrais que têm relação de pertinência com as ações
motoras referidas, melhorando as próprias ações motoras quando
posteriormente são realizadas, ou facilitando o retreinamento de
movimentos que tiveram suas performances prejudicadas, ou
suprimidas. Conclui-se como exitosa a metodologia da fisioterapia
psicocinética e como operante a técnica do treinamento mental e da
imaginação vivencial, ideando os movimentos a nivel do pensamento,
antes da execução dos exercicios cinesioterapêuticos.
Palavras
Chaves: Ideação Motora, Treinamento Mental, Imagética Motora,
Bexiga Neurogênica Parcial.
Introdução
A
Resolução COFFITO 80, que complementa a Resolução COFFITO 8, em
suas considerações iniciais, afirma que a fisioterapia sendo uma
ciência aplicada, tem como objeto de estudo o movimento humano em
todas as suas formas de expressão e potencialidades, tanto nas
alterações patológicas, como nas repercuções psíquicas e
orgânicas, objetivando a preservação, a manutenção, o
desenvolvimento e a restauração da integridade de órgãos
sistemas, ou funções do ser humano. Considera também o seu
processo terapêutico, com conhecimentos e recursos próprios,
valendo-se das condições psico-física e social do cliente, ou
paciente, para buscar, promover, aperfeiçoar ou adaptar o individuo
a uma melhor qualidade de vida, através da relação terapêutica
(COFFITO - Resolução nº 80).
Atualmente
tem sido empregada a prática mental com a intenção de promover a
aprendizagem de uma habilidade motora, entendendo-se como prática
mental a simulação mental de repetidos movimentos. Publicações
bem recentes tem demonstrado êxito da prática mental, combinada à
cinesioterapia, para promover a reaprendizagem motora, fortalecendo
a crença que ela reforça processos encefálicos indutores da
reogarnização cortical (Pacheco et all, 2007 ).
Pesquisadores
das Universidades Federais de Santa Maria e Rio Grande do Sul,
avaliaram a qualidade de vida em mulheres com incontinência urinária
de esforço, antes e depois da aplicação de um protocolo de
tratamento com Imagética Motora, consistindo no treinamento e
aprendizagem de habilidades motoras e força muscular. A intervenção
teve foco principal no ensino e na realização de exercícios
perineais, que após mentalizados, foram efetuados através da
prática mental (Torriani el all, s/d).
Semelhante
à imagética motora, também o reconhecimento de partes do corpo
aciona representações somatosensoriais específicas, ativando-as
implicitamente para comparar o corpo com o estímulo. (Lameira et al,
2008).
O
objetivo deste estudo é relatar o êxito obtido, mediante as
atividades psicocinéticas de relaxamento, ideação mental e
imaginação, da realização dos movimentos comportamentais que
envolvem a ação miccional, e em sequência, a realização
cinesioterapêutica dos movimentos musculares que foram inicialmente
imaginados e mentalizados vivencialmente.
Relato
de Caso
Pessoa
do sexo masculino, 73 anos, residente em Caxias, RJ; fisioterapeuta
com formação psicanalista e atuação em psicocinética, praticante
de meditação, atividades físicas leves e treinamento da energia
vital (QI); usuário de dieta vegetariana preferencial, com
substituição da proteina animal pela proteina de soja (sem dosagem
dos níveis de vitamina B 12); portador de hipertensão arterial
familiar compensada (sob o uso de losartana potássica, 50 mg/dia e
amilorida com hidroclorotiazida, 5-50 mg dia respectivamente), bem
como, portador de uma manifestação de mioclonia hemi-fascial
esquerda, de natureza idiopática; com 1,65 metros de altura quando
jovem, tendo diminuído para 1,55 metros de altura na idade atual,
pesando 72 quilos. A cerca de três anos atrás sonhou que estava
urinando, e ao acordar percebeu que estava todo molhado de urina e
que estava sem o controle esfincteriano para o término da micção;
sentia a vontade de urinar em seu inicio, mas não conseguia perceber
se tinha acabado a micção, levando de 15 a 20 minutos, vasando a
urina sem perceber. Procurou exame médico, sendo examinado a
próstata, constatando normalidade para a faixa etária. Não
conseguiu adaptar-se ao uso de fraldas absorventes, desenvolvendo
irritação da pele, alergia cutânea, lesão da pele peniana e dois
episódios de infecção urinária, além do mau cheiro. Optou-se
por não usar nenhum recurso e passar a esperar a conclusão de cada
micção , o que tornou muito constrangedor, em consequência a estar
sujeito a usar sanitários públicos, quer de bares e shopings, quer
do próprio ambiente do trabalho, pois pela demora da micção levava
as pessoas a interpretarem mal a demora e fazerem mau juizo. Talvez
seja a parte mais dificil, sofrida e constrangedora, durando este
período cerca de oito a onze meses, mais ou menos. Recusou a
intervenção médica e médico-cirúrgica para episódio de bexiga
neurogênica. Diante
da situação desconfortável pela qual passava, resolveu desenvolver
uma tentativa de atividades neurobióticas para retreinamento de
controle esfincteriano, uma metodologia e técnica que estava ao seu
próprio alcance, a seguir descrita.
Metodologia
No
presente estudo não consta o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido, conforme normas da Resolução 196 do CNS, por se
tratar de um autorrelato da pessoa envolvida.
A
metodologia de base psicocinética trabalha com a teoria de que os
movimentos ideados, mentalizados e imaginados sequencialmente como
uma vivência, entendido, sentido e imaginado mentalmente,
fisiologicamente melhoram a irrigação sanguinea das áreas
cerebrais que têm relação de pertinência com as ações motoras
referidas, melhorando as próprias ações motoras quando
posteriormente são realizadas, ou facilitando o retreinamento de
movimentos que tiveram suas performances prejudicadas, ou
suprimidas.
Durante
os três primeiros meses, duas, ou três vezes ao dia, estando em
posição corporal confortável, entrava em exercicio de relaxamento,
com respiração diafragmática e sentimento de bem estar; em
sequência, exercicio de imaginação e mentalização, como uma
experiência vivencial: estava se levantando e indo ao sanitário, se
despindo apropriadamente e iniciando a micção, acompanhando o ato
miccional e concluindo a micção, seguido do vestir-se adequadmente
e retornando à posição do conforto anterior; toda essa sequência
era imaginada mentalmente. Após três meses desses exercicios,
começou-se por perceber a finalização do ato miccional, embora
ainda sem o controle total do esfincter vesical. Esta situação
durou por mais três meses, passando a fazer os exercicio duas vezes
ao dia e incorporando os exercicios cinesioterapêuticos, que foram
orientados por dois fisioterapeutas, Dr. João Guilherme e Dra.
Adriana Verçosa, em razão das suas habilidades especializadas.
Houve progresso no controle esfincteriano e ao completar seis meses
de treinamento, passou-se a dispensar as atividades imagéticas em
separado, passando as mesmas a serem exercidas durante os atos
miccionais normais. Conseguiu-se normalizar o controle miccional, com
uma diferença entretanto: o inicio da micção ficou mais demorado,
cerca de dois a três minutos, sendo mais fácil quando na posição
sentado, o que nem sempre é possivel. As atividades
cinesioterapêuticas referidas acima, são exercicios de contração
voluntária para musculatura do assoalho pélvico e dos esfinteres
vesical e anal.
Resultado
e Discussão
As
atividades mentais imaginando determinados movimentos e tendo
repercussões com a musculatura agonista de tais movimentos, já são
conhecidas a bastante tempo. Não me lembro da referência que
publicou tal trabalho, mas parece-me ter acontecido lá pelo final de
1800 ou inicio de 1900, com uma experiência de Jacobson, que colocou
eletrodos na musculatura do pescoço, nos músculos agonistas da
extensão da cabeça, como se olhasse para o alto; estando a pessoa
deitada em uma cama, solicitava a ela que imaginasse que estava
olhando para o alto e observou-se que os músculos agonistas da
extensão de cabeça, registrava os fluxos energéticos recebidos,
embora só se estivesse imaginando a ação.
Muitas
práticas da moderna neuropsicologia trabalha com essas bases
teóricas, sendo o moderno conceito de engramas neurais e de
engramatizações cerebrais de comportamentos, incluindos
comportamentos motores, se enquadrarem nesses principios. Com
certeza, na prática clínica, fortalece-se a convicção de que
quando se trabalha o aprendizado, ou o reaprendizado motor,
começando-se pela ideação, mentalização, ou imaginação do
movimento, a performance se constroi com menos tempo e com maior
perfeição do ato motor. É claro que é preciso considerar, que a
faixa etária do paciente, situações relacionadas com a nosologia
e com a patologia, disposições temperamentais do cliente antes do
seu acometimento, são fatores interferentes e que devem ser
avaliados, quando em uma programação terapêutica. Esse relato
confirma o êxito terapêutico usando a técnica da imagética, de
acordo com os principios da fisioterapia psicocinética. Confirma-se
satisfatoriamente para o cliente, ter se livrado dos incômodos da
incontinência parcial, do grande sofrimento e desconforto,
notadamente ter-se livrado do constrangimento social a que estava
exposto.
Acerta
o COFFITO quando faz as considerações da Resolução 80, incluindo
as repercuções psiquicas e orgânicas, bem como as condições
psico-física e social do cliente, corroborando com esse pensamento
os trabalhos referidos na introdução.
Conclusão
Pode-se
concluir como exitosa a metodologia da fisioterapia psicocinética e
como operante a técnica do treinamento mental e da imaginação
vivencial, ideando os movimentos a nivel do pensamento, antes da
execução dos exercicios cinesioterapêuticos.
Há
que se debruçar sobre esses fatores envolvidos, para se pesquisar
com maior objetividade e melhor controle de variáveis
intervenientes, já que se tem recursos técnicos, por meios mais
modernos de pesquisa.
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Referências
Bibliográficas
COFFITO
- Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional - Resolução
nº 80 - DOU nº 093 - 21/05/87, Seção I, Págs.7609;
Lameira
AP, Guimarães-Silva S, Ferreira FM, Lima LV, Pereira Jr A,
Gawryszewski LG. Postura da mão e imagética motora: um estudo
sobre reconhecimento de partes do corpo. Rev
Bras Fisioter. 2008;
Pacheco
M, Machado S, Lattari JE, Portella CE, Velasques B, Silva
JG,
Bastos VH, Ribeiro P. Efeitos da prática mental combinada à
cinesioterapia em pacientes pós acidente vascular encefálico: uma
revisão sistemática. Revista Neurociências, 2007 ;
Torriani,
Juliana Marazini, Ana Lucia Cervi Prado, Nara Maria Severo Ferraz
Marília
Rossato Marques.
O
Efeito da Imagética Motora na Qualidade de Vida em Mulheres com
Incontinência Urinária. UFSM e UFRGS, s/d
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(1)
- Professor Mestre Adjunto I da UNIGRANRIO; Doutor em Filosofia da
Religião - SETESA/Não Capes; Mestre em Ciências da Motricidade
Humana - UCB/Capes; Formação em Psicanálise Clínica - SFPC;
Formação em Psicomotricidade Sistêmica - CEC; Formador-Didata em
Terapia Psicomotora Analítico Clínica - TEPAC do CEBRASC;
Especialista em Docência Superior - IBMR; Bacharel em Fisioterapia -
IBMR; Bacharel em Filosofia - SETESA; Bacharel em Teologia - SETESA;
Bispo Primaz do Catolicismo Evangélico Salomonita - ICAI-TS.
Endereço:
felismarmanoel@gmail.com