Prof. Felismar Manoel,
Unigranrio, Escola de Ciências da Saúde, Duque de Caxias, RJ,
2015.1
Unidade
1.0 – Organização da sociedade e seus modos de produção.
Segundo
Oliveira (2004), os seres humanos necessitam de seus semelhantes para
sobreviver. É vivendo em grupo que os indivíduos da espécie humana se tornam
realmente humanos; é na vida em grupo que se educam, comunicam, criam símbolos,
formas de expressão cultural, perpetuam a espécie e se realizam como indivíduos.
O ser humano tem a capacidade natural para viver em sociedade, interagindo uns
com os outros através dos processos de socialização, que podem ser de pessoa a
pessoa, de pessoa a grupo e de grupo a grupo. Os indivíduos vivem normalmente
em famílias (nuclear, parental, afetiva e social), formando as comunidades
sociais de convivencia.
Os
processos sociais podem ser associativos, através da cooperação, acomodação e
assimilação entre pessoas; podendo também ser dissociativos, através da competição
e do conflito.
A
maneira pela qual a sociedade produz seus bens e serviços constitui o seu modo de produção, bem
como o modo como os utiliza e distribui, sendo formado portanto, das forças
produtivas mais as relações de produção.
O
modo de produção é constituído de fatores dinâmicos, que mudam constantemente,
sendo composto pelas forças produtivas,
que se modificam com o desenvolvimento dos métodos de trabalho, com os avanços
tecnológicos e científicos, mais as relações de produção, estas também sujeitas
a transformações.
È
nesse processo de desenvolvimento que historicamente surgiu os diversos modos de produção:
a) Comunal primitivo – coleta e
extrativismo, caça, pesca, etc.;
b) Escravista – relações de domínio e
sujeição, na qual o senhor era dono do escravo, considerado um objeto de
produção;
c) Asiático – a sociedade era subordinada
ao Estado – os meios de produção e a força de trabalho pertenciam ao Estado, na
pessoa do Imperador;
d) Feudalismo – sociedade estruturada entre
senhores e servos, onde as relações de produção se baseavam na propriedade do
senhor sobre a terra e no trabalho agrícola do servo;
e) Capitalismo – relações assalariadas de
produção e propriedade privada dos meios de produção pela burguesia. O
desenvolvimento da produção é movido pelo desejo do lucro. Etapas do
capitalismo:
·
Pré-capitalismo – do século XI ao século XV;
·
Capitalismo
comercial, ou mercantil – do século XV ao século XVIII;
·
Capitalismo
industrial – do século XVIII ao século XX;
·
Capitalismo
financeiro – a maior parte do século XX;
·
Sociedade
pós industrial – do século XX ao século
XXI;
===è Com base no texto acima, faça uma
análise e construa um mapa conceitual, fundamentando a sua compreensão sobre o
assunto.
=è Reflita sobre... Socialismo,
Globalização, Neoliberalismo, Exclusão Social...
Para
ler mais:
Introdução à Sociologia, Reinaldo Dias. São Paulo:
Pearson Prentice Hall, 2010
Introdução à Sociologia, Pérsio Santos de Oliveira, 2004
Unidade
2.0 –
Educação, cultura e organização da sociedade
2.1
– A educação como instrumento de organização social
Educar
comporta uma ideia de acompanhar um movimento, conduzir, ajuda-lo em sua
manifestação, podendo assim ser de crescimento, ou desenvolvimento em qualquer
área; é muito comum falar em educação com a ideia de acompanhar o movimento de alguém na busca do conhecimento.
Em
qualquer educação é preciso destacar as grandes perguntas sobre nossas
possibilidades de conhecer. O conhecimento é uma aventura para a qual a
educação deve fornecer o apoio indispensável.
Na
atualidade necessitamos desenvolver teorias abertas, racionais, críticas,
reflexivas, autocríticas, aptas a se auto reformar; necessitamos do enraizamento
de um modelo que permita o conhecimento complexo.
A
questão cognitiva tem importância antropológica, política, social e histórica.
Para que haja um progresso na época atual, os homens e as mulheres não podem se
permitir ser brinquedos inconscientes de suas ideias, mas principalmente das
suas mentiras. A tarefa principal da educação é armar cada um para a busca
constante e vital da lucidez como domínio próprio e na convivência social.
Para
a educação do futuro, Edgar Morin (2004) propõe como segue:
I
– Conhecer As Cegueiras do Conhecimento: o erro e a ilusão
A
educação naturalmente trabalha o conhecimento; mas que conhecimento? O
conhecimento apresenta erro e ilusão. É preciso estar atentos para os erros
mentais, intelectuais, de raciocínio e das inadequações de modelos, as questões
paradigmáticas.
É
importante que na busca do conhecimento tenha atenção na possessão das ideias,
esteja alerta na busca e aberto aos agradáveis inesperados que se pode
descobrir. Esse conhecimento surpresa, que se descobre por acaso, é denominado serendipidade. É preciso estar ciente das incertezas do
conhecimento.
II
– Conhecer os princípios do conhecimento pertinente
Todo
conhecimento é contextualizado e isto deve ser levado em conta. Deve-se estar
atento para as correlações entre o todo e as partes e entre as partes e o todo,
pois é preciso uma vinculação com o conhecimento globalizante; considerar a
multidimensionalidade do conhecimento complexo. Hoje, mais que antes, é
necessário ter uma abertura para uma visão holística do ser humano.
III
– Conhecer a condição humana
É
preciso avaliar o enraizamento ou
desenraizamento do ser humano, em suas diversas condições: Estar atento
aos aspectos das diversas condições do ser humano: condição cósmica, condição
física, condição terrestre, condição humana, espiritual e social.
Ter
presente a questão do que é verdadeiramente humano no ser humano: Sua unidualidade;
a relação entre o cérebro, a mente e a cultura; o circuito entre razão, afeto, pulsões e também a circularidade entre
individuo, sociedade e espécie.
Considerar a unidade na complexidade do ser humano, seus
diversos aspectos em diferentes esferas; esfera individual, esfera social,
diversidade cultural e pluralidade de indivíduos com suas identidades e subjetividades.
Considerar
os diversos potenciais do ser humano como ser holístico, como verdadeiro Homo complexus.
IV
– Conhecer a identidade terrena
Situar
o ser humano na era planetária, entendendo as correlações entre as condutas e
comportamentos dos terráqueos atuais e as ameaças que elas podem significar
para a vida na terra.
Conhecer
o patrimônio recebido do século XX com
seus terríveis acenos de sofrimento e desventura: a herança de morte, quer por
armas nucleares, quer por outros perigos, como o aumento do aquecimento no
planeta; considerar a quase sentença de morte para a modernidade, se nada for
feito de urgente e geral e de modo global. Refletir nas bases de esperanças
que surgem e podem prosperar com
as correntes de conscientização e esforços positivos para livramento da
destruição precoce da vida na terra.
É
preciso que se firme a ideia de que somos filhos da vida na terra, consolidando nossa
identidade terrena.
V
– Aprender a enfrentar as incertezas
Conhecer
a incerteza histórica, tanto da história criadora, quanto da destruidora, para
saber que vivemos em um mundo incerto.
Enfrentar
as incertezas da realidade e do conhecimento bem como a ecologia da ação, que
acena com algumas estratégias significativas: as circularidades risco e precaução, fins e meios, ação e
contexto. Há uma imprevisibilidade em longo prazo que se nos apresenta como
desafio a encontrar estratégias de enfrentamento para soluções viáveis.
VI
– Aprender a compreensão
É
preciso que se aprenda a discernir a correta compreensão, diluindo os seus
obstáculos, como o egocentrismo (erro de pensar que só o eu importa), o
etnocentrismo (erro de pensar que só minha cultura importa), o sociocentrismo
(erro de pensar que só aminha sociedade importa) e o espírito redutor. É
preciso compreender com a ética do bem pensar, buscando a introspecção que leve
a consciência da complexidade humana, com abertura subjetiva em relação ao
outro diverso de mim, com interiorização da tolerância em uma atmosfera de
alteridade, inserindo sua compreensão em uma dimensão de ética e cultura
planetária.
VII
– Assumir a ética do gênero humano
Existe
uma circularidade entre o individuo e sua sociedade que conduz a aprendizagem
da democracia; há que considerar as subjetividades na complexidade do ser
humano e a democracia como meio conciliador para o entrosamento; o melhor
resultado como dialógica das relações democráticas; bem como considerar a
adequação futura da democracia.
Existe
uma circularidade entre o individuo e a espécie que conduz a aprendizagem da
cidadania terrestre; há uma forte vocação da humanidade para o seu destino
planetário, tendo a terra como o lar da humanidade, através de ações adequadas
e responsáveis envolvendo as sociedades de forma global.
Como
você imagina a questão do que aprender, do que ensinar para uma boa inserção na
sociedade?
===è Reflita sobre isto e produza um texto
com o seu ponto de vista.
Para saber mais:
Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro, Edgar
Morin. São Paulo / Brasília: Cortez/UNESCO, 2002;
Educação Popular - metamorfoses e veredas, Luiz Eduardo W
Wanderley. São Paulo: Cortez, 2010
2,2
– As Culturas nas Comunidades
De
um modo geral toda produção humana pode ser considerada cultura, por isso, na
atual fase da humanidade não existe ninguém desprovido de cultura. Não vamos
aqui discutir quando surgiu a cultura e nem quais foram as suas causas; estamos
preocupados em refletir sobre as culturas das comunidades, como elas surgem e
qual a sua importância quando internalizadas nas vidas das pessoas.
É
claro que as culturas são produções dos
seres humanos; do ponto de vista da taxonomia, os seres humanos são assim classificados:
Reino animal, Filo dos vertebrados, Classe dos
mamíferos, Ordem dos primatas, Família
dos hominídeos, Gênero Homo e Espécie sapiens sapiens – Há um certo vínculo com o processo
evolutivo.
O
gênero humano atual é admitido como resultante desta espécie sapiens sapiens,
com um cérebro complexamente desenvolvido e adequado às exigências funcionais
dos nossos padrões contemporâneo de
vida.
A
cultura que interessa muito aos profissionais de saúde, é aquela que é
internalizada pela própria pessoa, como certa e verdadeira na sua vida e que é ativada pelas crenças pessoais,
estimulando seus mecanismos biopsíquicos, podendo, portanto, alterar as funções
dos seus padrões bioquímicos e seu sistema imunológico, tendo relação com o processo saúde –x- doença.
Uma
cultura desse tipo surge de uma vida
compartilhada em uma mesma localidade (mesmo prédio, mesmo condomínio, mesmo
bairro, mesma religião, etc); embora influenciada pela cultura geral dominante,
esta cultura comunitária surge como resultado da visão de mundo do grupo, que a
traduz em forma de verdades, conceitos, explicações e valores em beneficio dos
que ali convivem. Trata-se de uma cultura intra-orgânica, posto ser aquilo que
a pessoa assume, sendo uma cultura que “está internalizada, dentro dele”.
Em
virtude de ser esta cultura aceita e praticada como um valor, que gera um bem
para o grupo, esse grupo vai elaborar normas de condutas e comportamentos
ostensivos orientados para a boa convivência, tornando essa norma a sua moral (etnocêntrica),
que posta em prática vai gerar um comportamento ético (ética da convicção),
ambos influindo na vida coletiva, através da socialização da convivência e da
ação das instituições sociais, como a
família, a escola, a igreja, os clubes, entre outros.
Existem
alguns termos técnicos derivados da língua grega que categorizam alguns
elementos citados no parágrafo acima;
Hethos = dinâmica da
localidade de convivência que influencia seus moradores;
Ethos = costumes
predominantemente praticados pela pessoas da localidade;
Cosmovisão = visão de
mundo das pessoas que compartilham a convivência;
Cultura = conceitos,
ideias, crenças, artes, ciências, etc. produzidos pelo grupo em consequência de
sua visão de mundo local.
Moral etnocêntrica =
Normas de condutas elaboradas pelo grupo de convivência e livremente
internalizadas pelos seus componentes.
Ética da convicção =
Padrões de comportamento observado pelo grupo, livremente adotado e compatível
com as suas normas morais.
===è ...
Para
ler mais;
Introdução à
Sociologia, Reinaldo Dias. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010
Cultura – um conceito antropológico, Roque de Barros
Laraia, Rio de Janeiro: Zahar, 2009
A Explicação Sociológica na Medicina Social, José Carlos
de M. Pereira, São Paulo: UNESP, 2005
Unidade
3.0 – Determinantes sociais em saúde
3.1
– De acordo com a Teoria do Campo da Saúde de Lalonde
Tradicionalmente
no Brasil os enfoques das questões de saúde, historicamente vem sendo
praticados de acordo com a visão
flexneriana, que aborda a saúde após a instalação da doença. Neste caso
considera o hospital como o centro das
práticas assistenciais; nesse caso trata-se de uma atividade de muito maior
gasto financeiro.
Aqui
vamos utilizar o ponto de vista de Lalonde, que fez uma abordagem do campo da
saúde, ou seja, o lugar onde o processo saúde –x- doença se desenvolve. Isto permite trabalhar a
questão da saúde em todos os níveis, promoção, proteção, prevenção e tratamento
das doenças, prevenção e tratamento dos agravos
e sequelas, recuperação da saúde e
assistência custodial para as doenças crônicas e progressivas.
Lalonde
definiu assim o conceito de “campo da saúde”:
3.1
(A) – Influência do ambiente na saúde.
Quando
se avalia o ambiente do ponto de vista dos determinantes de saúde, deve-se
considerar a topografia do terreno e sua dimensão em área, visando avaliar
escoamento das águas de chuvas (se fluxo laminar, ou turbilhonar); a drenagem
do solo, para condução de águas pluviais e esgotos; abastecimento de água
potável; registrar se trata de zona urbana, rural, ou mista; natureza do solo
(rochoso, pedregoso, arenoso, argiloso, manguezal, etc); a questão da acessibilidade do ir e vir
(barreiras arquitetônicas, animais soltos nas pistas, etc); o clima local
predominante nas estações do ano; a qualidade dos espaço: tratamento de lixos, resíduos
sólidos (lembrar que resíduos
contaminados possibilitam vetores biológicos espalhar contaminação); qualidade
do ar (chaminés de fábricas, queimadas, resíduos de combustíveis de veículos); poluição
sonora (sons muito alto); poluição visual ; iniquidades de convivência (insegurança,
trocas de tiros, coisas que incomodam e que você não consegue descartar); vegetação
local; tipos de moradias predominantes; outros.
3.2
(B) – Estilos de vida da população / Aspectos socioculturais e econômicos
O
estilo de vida tem uma estreita relação com os hábitos e costumes
socioculturais e econômicos de uma população, tais como: Prática de atividade
física; esforços para evitar dependências como fumo, álcool, maconha, outras
drogas, jogos viciantes; fuga do ócio, sedentarismo, vida sem sentido; fuga de uma dieta rica em carboidratos simples,
gorduras, sal; fuga de uma dieta pobre em fibras e alimentos integrais; pratica
de higiene mental, lazer, meditação, vida prazerosa; outros.
3.3
(C) – Organização dos serviços de saúde e sua
interface com o processo saúde –x- doença
Os
serviços de saúde devem dar conta de atender a população adequadamente, tanto
nas baixas e medias complexidades, quanto nas altas complexidades,
preferentemente a partir das comunidades e domicílios sanitários do individuo;
quando isto não ocorre torna-se uma iniquidade para as condições de saúde da
população.
3.4
(D) – Aspectos biológicos da saúde
Quando
se fala aqui dos aspectos biológicos da saúde, não estamos focando os fatores
próprios de cada indivíduo (fatores endógenos, intrínsecos das pessoas), nem as
classes de riscos biológicos à saúde; estes serão abordados em disciplinas
específicas durante cada curso. Estamos aqui nos limitando àqueles aspectos ou
fatores que podem cultivar-se em nichos locais e que podem ser transmitidos por
vetores animais.
Diversos
vetores do reino animal, podem ter contatos com resíduos contaminados e levar
essa contaminação para outros locais, produzindo infecções ou surto de doenças:
formigas, moscas, mosquitos, baratas, ratos, aves, morcegos, são tipos de
vetores de doenças de cunho biológico, que podem transitar em mais de um
território levando agentes de contaminação e doenças para as populações. Nas
localidades podem existir nichos, ou
alojamentos de fungos, bactérias, parasitas, ou assemelhados, que são fontes de
infecções e infestações, podendo contaminar moradores, animais domésticos e
outros vetores que espalham as infecções.
Os
fatores biológicos intrínsecos aos animais e aos humanos, que constituem bases
endógenas animais de doenças, serão
estudados quando do exame do individuo doente; certos fatores biológicos próprios de uma comunidade ou território, podem constituir bases da geração de doenças
do ser humano e dos animais, sendo transmitidos
por vetores animais.
Em
outras disciplinas mais específicas, vocês estudarão estas questões, conhecendo
as classes de riscos biológicos à saúde.
===è Estes
itens apontados na unidade 3 e suas subunidades, poderão ser usados para a
elaboração do projeto de pesquisa; grupos de três a cinco, farão as pesquisas
em suas comunidades onde vivem, orientadas pelos professores, e poderão ao
final do período fazer uma apresentação relatando a situação atual das
comunidades e/ou publicá-los, dependendo
do nível de excelência.
Para
saber mais:
Ecologia, Epidemiologia e Sociedade, Oswaldo P. Foratini.
São Paulo, Artes Médicas, 2004
Conceito de Campo da Saúde – Uma Perspectiva Canadense.
Portal da Unigranrio
Unidade
4.0 – Educação das relações étnicorraciais, identidade e gênero
4.1
–Etnorracialidade: A formação da identidade brasileira
Tratados
Internacionais sobre Direitos Humanos,
definem que os povos têm o direito de suas afirmações étnicorraciais, pois
elas tem vínculos com suas respectivas
identidades culturais e até mesmo com as singularidades dos indivíduos.
O
brasileiro é um povo que traz variedades de influências étnicorraciais e culturais, presentes
em sua identidade cultural, conforme nos aponta Darcy Ribeiro (2013).
Geralmente pratica-se um reducionismo simplista, quando
se afirma que o Brasil foi descoberto
pelos portugueses em 1500. É preciso ter consciência que o território
brasileiro já era habitado por várias etnias indígenas e estas com suas culturas
próprias, comunicando entre si com suas línguas próprias. Já havia entre os
índios do Brasil, a língua Tupi como
tronco linguístico de compreensão geral
entre as principais etnias indígenas do Brasil, semelhante ao Guarani que era
uma língua geral entre os nativos ali pelas bandas do Paraguai. Os missionários
jesuítas aprenderam essas línguas, que foram ensinadas a outros para facilitar
a catequese e a comunicação entre o
povos que aqui viviam.
Essa
língua geral do Brasil, usando elementos
Tupi-Guarani, é conhecida pelo nome Nhenhegatu (significa boa língua), sendo
também conhecida como Língua Brasílica e
usada em nosso país até cerca de 1940, só caindo em desuso por essa época e depois
no esquecimento, sendo hoje ignorada até pela população universitária.
A
mestiçagem começou no Brasil inicialmente
pelo cruzamento dos homens brancos com as índias, já que não havia
outras mulheres disponíveis. É importante saber que os índios adotam o
princípio do cunhadismo, constituído pelo hábito de arranjar uma mulher índia
para o estrangeiro e incorporá-lo à sua tribo. Desse relacionamento de brancos com índias surgiram os mamelucos, também conhecidos como caboclos,
melhor adaptado à vida na floresta. Essa população cresceu chegando a formar
comunidades maiores que as comunidades dos índios. Mas qual era a sua
identidade? Eram filhos de europeu, mas não eram europeus; eram filhos de
indígenas, mas não eram índios, embora falassem o Nhenhengatu. Ai começa a surgir a necessidade da busca de
identidade; Darcy Ribeiro denomina essa população de Brasilíndios.
A
produção econômica do Brasil dessa época usava trabalho escravo da mão de obra
indígena (no I século após o descobrimento), mas que tornou-se mais tarde
difícil e insuficiente, surgindo logo a seguir a aquisição dos escravos
africanos, durando o regime afro-escravista no Brasil cerca de três séculos.
Vieram
da primeira leva africanos de cultura Sudanesa, os Yorubá, também conhecidos como Nagô;
de cultura Dahomey, conhecidos com Gêge; e de cultura Fanti-Ashanti, conhecido como Minas. Da segunda leva vieram africanos
da cultura Islâmica, os Peuhl, os Mandinga e os Haussa e da terceira leva os africanos da cultura Bantu, os Congo-angolês. Todos esses africanos suportaram terríveis
sofrimentos na vida de escravidão, por isso muitos tentavam fugir para as
florestas e criavam suas próprias comunidades denominadas Quilombos e seus moradores conhecidos como quilombolas, ainda
existindo em nossa Pátria a população descendentes de alguns desses quilombos.
Semelhante
ao cruzamento do branco com a índia que fez surgir os mamelucos, ou caboclos,
também houve cruzamento do branco com as africanas surgindo os mulatos, bem
como o cruzamento do negro com índia surgindo os curibocas. Esta população
assim formada é denominada por Darcy Ribeiro como os Afro-Brasileiros e que
constituem os principais responsáveis pela aprendizagem e divulgação da língua
portuguesa em nosso território.
Esses
povos se tornavam numerosos, sendo suas comunidades maiores do que as comunidades
indígenas e dos reinóis portugueses (europeus partidários ou servidores aos
reis); por outro lado havia os filhos de casais de brancos portugueses nascidos
no Brasil, estes denominados por Mazombos.
Os mazombos também tinham crise
de identidade, pois não eram bem aceitos pelos de Portugal, já que nascidos no
Brasil, nem eram considerados brasileiros, posto que esta nacionalidade não
tinha sido configurada ainda na alma dos povos aqui nascidos.
Este
grande contingente de pessoas que então surgira no território brasileiro constituiu
os Neobrasileiros, usando
predominantemente a língua Nhenhengatu,
embora os Afro-Brasileiros já usassem o Português também, que constituía sua
língua de comunicação no ambiente de trabalho.
É
claro que todos esses povos que aqui viviam buscavam uma identidade própria,
pois nem eram portugueses, nem eram índios, nem eram africanos, havendo
rejeição de parte a parte. Esses povos estabeleceram boas relações de
convivência, sendo a parte Afro-Brasileira mais numerosa, que somada aos
reinóis, facilitou a maior divulgação da língua Portuguesa, que acabou por ser
o instrumento de constituição e consolidação da unidade e identidade cultural
do brasileiro. Podemos considerar que hoje constituímos uma nova etnia, a etnia
brasileira, restando consolidar nossa plena cidadania e comportamento de
alteridade com as diferenças.
===è ...
Para
ler mais:
O Povo Brasileiro, Darcy Ribeiro. São Paulo: Companhia
das Letras, 2006, Reimpressão 2013
Origens Africanas do Brasil Contemporâneo: Histórias,
línguas, Culturas e Civilizações, K. Munanga. São Paulo: Global, 2009
4.2
– Alteridade, Identidade e Gênero
Alteridade é a capacidade de apreender o
outro na plenitude da sua dignidade e singularidade, dos seus direitos e,
sobretudo, da sua diferença. Quanto menos alteridade existe nas relações
pessoais e sociais, mais preconceitos e conflitos ocorrem entre os povos.
Existe uma tendência geral no ser humano, em querer colonizar o outro diferente de si, partindo do princípio de que “eu sei e ensino”
para ele, como se “eu fosse o espelho” no qual ele deveria olhar para ver a sua
própria imagem. É como se eu soubesse
melhor e mais do que ele. É evidente que cada um de nós sabe algumas coisas,
mas que também os outros diferentes de
nós sabem outras tantas coisas, e é graças a essa complementação que vivemos bem
em sociedade.
Precisamos adotar a perspectiva
da generosidade. Só existe generosidade na medida em que percebo o outro como
outro é, com sua diferença em relação a mim. Então sou capaz de entrar em
relação com ele pela via do amor, usando uma expressão evangélica; pela via do
respeito, usando uma expressão ética; pela via do reconhecimento dos seus
direitos, usando uma expressão jurídica; pela via do resgate da sua dignidade
como ser humano, usando uma expressão moral. Isso supõe a via mais curta da
comunicação humana, que é o diálogo e a capacidade de entender o outro a partir
da sua experiência de vida e da sua interioridade. Isto é alteridade.
Identidade é o conjunto de caracteres próprios e exclusivos com os quais se
podem diferenciar pessoas, animais, plantas e objetos inanimados uns dos
outros, diante do conjunto das diversidades ou ante seus semelhantes.
Sua conceituação interessa a vários ramos do
conhecimento (história, sociologia, antropologia, direito, psicologia, etc.), e
tem diversas definições, conforme o enfoque que se lhe dê, podendo ainda haver
uma identidade individual ou coletiva, falsa ou verdadeira, presumida ou ideal,
perdida ou resgatada.
Identidade
ainda pode ser uma construção legal, traduzida em sinais e documentos, que
acompanham os indivíduos.
Existem
diversos conceitos de identidade: Para a sociologia identidade é o compartilhar
de várias ideias e ideais de um determinado grupo;
para a Antropologia, Identidade consiste na soma nunca concluída de um aglomerado de
signos, referências e influências que definem o entendimento relacional de
determinada entidade, humana ou não-humana, percebida por contraste, ou seja,
pela diferença ante as outras, por si ou por outrem. A ideia de identidade está relacionada a alteridade, sendo necessário existir o
outro e seus caracteres para definir por comparação e diferença com os
caracteres pelos quais me identifico.
Para a psicologia identidade é o conjunto de singularidades próprias do
indivíduo, com as quais ele se identifica e se constrói como sujeito, para
sustentar suas idiossincrasias.
Para a Medicina
legal identidade consiste
numa série de exames feitos no vivo ou no morto, onde se apuram, no ser humano,
a raça, sexo, estatura, idade, dentição, peso e conformação corpórea, sinais
particulares (má-formações, cicatrizes, tipo sanguíneo, feições faciais, etc.).
Na Filosofia a identidade
constitui objeto de cogitações por variados pensadores e correntes filosóficas,
e seu conceito varia, portanto, de acordo com os mesmos.
Para o Direito, a Identidade
constitui-se num conjunto de caracteres que, delimitados legalmente, tornam a
pessoa ou um bem individuado e particularizado, diferenciando-o dos demais, e
como tal sujeito a direitos e/ou deveres.
************************************************************************
Gênero faz referência
à identidade adotada ou
atribuída a uma pessoa, homem ou mulher, de acordo com seus genitais, sua psicologia ou seu papel na sociedade. Ainda que gênero seja usado
como sinônimo de sexo para a maioria das pessoas, nas ciências
sociais e na psicologia gênero se refere às diferenças sociais,
(conhecidas nas ciências
biológicas como papel de gênero).
Historicamente, o feminismo posicionou os papéis de
gênero como construídos socialmente, independente de qualquer base biológica.
Pessoas cuja identidade
de gênero difere do gênero designado de acordo com os
genitais são normalmente identificadas como transexuais ou transgêneras.
No Brasil o conceito de gênero foi introduzido por
pesquisadoras norte-americanas, que utilizavam a categoria gender para
abordar as “origens exclusivamente sociais das identidades subjetivas de homens
e mulheres”.
O feminismo tem mostrado, através de estudos
sociológicos e antropológicos, que as explicações de ordem natural são, na
verdade, uma formulação ideológica, utilizada para justificar e legitimar os
comportamentos sociais de homens e mulheres em determinada sociedade.
Gênero serve, dessa forma, para determinar tudo que
é social, cultural e historicamente definido e não é sinônimo de sexo. É
mutável, pois está em constante processo de ressignificação devido às
interações concretas entre indivíduos do sexo feminino e masculino.
===è ...
Para ler mais:
Introdução à
Sociologia, Reineldo Dias. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010
Educação
, Raça e Gênero: Relações Imersas na Alteridade, Nilma Lino Gomes, Cadernos
Pagu, 1996
Gênero, Identidade,
Diferença, Sandra Regina Goulart Almeida, UFMG - A L E T R I A - 2 0 0
2 Disponível em: http://www.letras.ufmg.br/poslit
Unidade
5.0 – Dimensões da Gestão do Cuidado em
Saúde
Gestão
do cuidado em saúde pode ser definida como a disponibilização das tecnologias
de saúde, conforme as necessidades singulares de cada pessoa, em diferentes
momentos da sua vida, objetivando o seu bem estar, segurança e autonomia para
seguir com uma vida produtiva e feliz.
Podemos entender a gestão do cuidado em saúde sendo
realizada em seis dimensões, como segue:
I – Dimensão individual da gestão do cuidado em
saúde – assume o cuidar de si, significando o cuidar de cada um de nós sobre
nós mesmos, o modo como levamos a vida, fazendo escolhas, se conscientizando
sobre as consequências dos nossos comportamentos sobre nós mesmos.
Em saúde coletiva considera-se estar sadio como
sinônimo de autonomia; estar sadio é estar capacitado para produzir novas
normatividades diante das adversidades da vida, produzir novos modos de viver;
pois enquanto estivermos vivos estaremos fazendo escolhas produzindo o nosso
modo de viver.
Essa dimensão individual do cuidado envolve o
estar atualizado sobre os conceitos de
indivíduo e de autonomia: é como ser de autonomia que o individuo constroi sua
subjetividade, com certa constância, influenciado pelos diversos contextos de
sua vida, como ser de abertura entre o organismo e seu meio, vinculados às
regras da vida que definem nossos eus.
II – Dimensão familiar da gestão do cuidado em
saúde – envolve a família, os ciclos de amigos, os vizinhos. É uma gestão localizada
no mundo da vida, mesmo quando das dificuldades e contradições; existem
complexidades nos laços familiares, sobrecargas de trabalho para os cuidadores,
exigências constantes para a realização do cuidado. Há uma certa colonização
institucional em consequência dos programas de desospitalização, atendimento
domiciliar, devendo assumir maior importância com o envelhecimento da
população.
III – Dimensão profissional do cuidado em saúde
- se dá no encontro entre os diversos
profissionais e usuários em saúde. Trata-se de um encontro privado em espaços
protegidos, fora de qualquer olhar externo de controle. Três são os elementos
principais o que regem: a) competência técnica dos profissionais em seus
núcleos profissionais específicos; b) postura ética do profissinal – mobilizar
tudo que sabe e tudo o que pode fazer em
suas condições reais de trabalho, para atender da melhor forma possivel – c) capacidade
de construir vínculos com os que precisam de cuidados.
IV – Dimensão organizacional do cuidado em saúde – equipe
e gerente - se realiza nos serviços de
saúde, marcada pela divisão técnica e social do trabalho, evidenciando novos
elementos, tais como: a) trabalho em equipe; b) atividades de coordenação e
comunicação em saúde; C) função gerencial proporiamente dita – trabalho,
centralidade, organização do processo de trabalho, definição de fluxos e regras
de atendimento, adoção de de dispositivos compartilhados por todos os
profissionais (agendas, protocolos únicos, reuniões de equipes, planejamento,
avaliação,, etc) .
A gestão organizacional do cuidado em saúde depende
da ação cooperativa de vários atores, a ser conseguida em territórios marcados
com frequência pelo dissenso, pela
diferença, pelas disputas, pela assimetria de poder.
V – Dimensão sistêmica da gestão do cuidado em
saúde – constroi conexões formais regulares e regulamentadas entre os serviços
de saúde, compondo redes ou linhas de cuidados buscando construir a integralidade do cuidado. Historicamente
concebida como uma pirâmide, constituida por serviços de complexidade
crescente, interligados entre si, através de processos formais de
referência/contrareferência, que deveriam resultar em fluxos ascendentes /
descendentes ordenados e racionalizados por usuários. Assim: o modo como constroem itinerários
terapêuticos que escapam à
racionalidade pretendida pelos gestores; a transversalidade que o trabalho
médico produz ainda no sistema de saúde, apesar
das estrategias disciplinadoras a que são submetidos;
as várias portas de entrada para o sistema, principalmente no
pronto-atendimento , que desafia a própria ideia de porta de entrada. Tudo isso tem obrigado gestores e pesquisadores a
adotarem conceitos mais flexiveis: redes de cuidados construidas a partir dos
usuários, trabalhadores e gestores.
A despeito desta complexidade e multiplicidade de
atores e movimentos, aqueles que se ocupam de cargo de direção nos sistemas
locais de saúde, tem uma grande responsabilidade na gestão sistêmica do cuidado
em saúde.
VI – Dimensão societária da gestão do cuidado em
saúde – o Estado e a Sociedade Civil – como em cada sociedade se produzem as
políticas públicas em geral e particularmente a saúde; como é pensado o papel
do Estado em suas estratégias para a
garantia dos trabalhadores que implementarão as políticas sociais.
Esta é a dimensão mais ampla da gestão do cuidado,
sendo nela que se aprecia como cada sociedade produz cidadania, direito à vida
e acesso a tudo que contribua para uma vida melhor.
Nessa dimensão ocorre o encontro da sociedade civil
desigual com o Estado, e a disputa de diferentes projetos societários que
oferecerão melhores ou piores condições de vida para amplos extratos da
população.
====è ....
Para Ler Mais:
Apontamentos
teórico-conceituais sobre processos avaliativos considerando as múltiplas
dimensões da gestão do cuidado em saúde, Luiz Carlos Oliveira Cecilio. Interface
Comunicação Saúde Educação v. 15 n. 37, p. 589-99. Abr./jun. 2011
Unidade
6.0 – Território e Territorialidade
6.1
– Aspectos de proteção e riscos presentes no ambiente que estão relacionados ao
processo saúde –x- doença
Território
e territorialidade são conceitos de geografia política e etologia, que traz
grande importância para as questões de saúde. O território é uma área demarcada
por fronteiras conhecidas, como os municípios, os estados, as nações.
Existem
territórios rurais, urbanos e mistos; grande parte de nossas questões de saúde
se encontram nos territórios urbanos, nas cidades, que no Brasil se dividem em
distritos, compostos por áreas rurais, urbanizadas e mistas.
Esses
territórios se diferenciam entre si, como expressão da desigualdade
sócio-espacial, resultante da lógica que preside a organização da sociedade e a
produção do seu espaço.
Em
função da divisão social do trabalho, a cidade é antes de tudo uma concentração
de pessoas exercendo atividades concorrentes ou complementares, podendo surgir
uma disputa de usos: uso produtivo do espaço da cidade, que depende das características do processo de reprodução
do capital e uso residencial, com os serviços essenciais, onde ocorre a
reprodução da vida social.
No
território da cidade poderá surgir uma contradição entre os interesses do
cidadão e das grandes empresas, e na prática, a decisão nessa disputa tem na
maioria das vezes, acontecido em favor das empresas. O cidadão tem direito a
moradia digna garantido pela
Constituição Federal, não sendo, entretanto, atendido neste quesito toda a
população, proliferando em consequência a sub moradia, a sub habitabilidade,
nos mocambos e favelas.
O
lugar onde o indivíduo vive é fundamental para aquisição de seu valor, como produtor, consumidor,
cidadão, entre outros. O lugar onde se vive compõe o ambiente com seus fatores
interferentes no processo saúde –x- doença; é aí que ele construirá a sua
cultura de convivência, incorporando os valores da visão de mundo do grupo; é
aí que subsistirão os fatores ambientais interferentes no seu processo de saúde
–x- doença; é aí que surgirão hábitos e costumes socioculturais e econômicos
que manifestarão nos seus estilos de vida.
O
conceito de territorialidade refere-se
às relações de poder delimitadas espacialmente e operando sobre um referencial.
As empresas, e os mais diversos agentes sociais, desenvolvem suas próprias estratégias
de apropriação do território, suas territorialidades, frequentemente
justapostas sobre o mesmo espaço social, podendo gerar conflitos.
Do
ponto de vista etológico, a territorialidade sustenta os costumes de certos
vetores, que embora localizados em nichos territoriais delimitados por
fronteiras, ultrapassam essas fronteiras podendo ser agentes propagadores de
enfermidades em outros territórios.
Pode
também surgir o territorialismo, em que o controle territorial pode ser um
imperativo para os grupos sociais, com fechamento do espaço social, com recusa
de acesso ao outro, como exemplos temos o territorialismo das elites
econômicas, com agentes de segurança, muros, cercas eletrificadas, circuitos
internos de TV, etc
Ainda
se deve pensar na desterritorialização, com desapropriação do espaço social;
lugares são desconectados dos circuitos integradores da sociedade capitalista,
como mercado de trabalho, consumo e cidadania, multiplicando os
aglomerados de exclusão. Em muitos
desses lugares se sobrepõem os vários territórios e redes: narcotráfico,
presídios conectados por centrais telefônicas clandestinas, gangues, torcidas agressivas
organizadas etc.. O aglomerado de exclusão é sempre um território contestado.
===è Estas informações
sobre território e territorialidade, também devem ser consideradas quando da
elaboração dos projetos de pesquisas nas comunidades.
Para
ler mais:
A contribuição do conceito de território para
uma gestão socialmente justa da cidade. Carlos Alberto José de Carvalho - Ciclo
de Atividades com as Subprefeituras. Portal Unigranrio
Unidade
7.0 – Ética e Bioética
7.1
– Aspectos da Moral Social e Ética Humana
Já
conhecemos as morais etnocêntricas e as éticas relacionadas com as nossas convicções
(sub-unidade 2.2). Essa é uma moral e ética de cunho pessoal, comunitário, nem sempre possível no viver da coletividade
social multicultural.
Necessitamos
da moral social e ética humana que permeiam a nossa vida coletiva no meio social;
elas, em uma sociedade multicultural, como é no caso a sociedade brasileira, surgem
dos pontos diversos que são comuns às varias culturas comunitárias e que são
consensualmente aceitas pela maioria da população.
A
moral social e a ética humana derivam do consenso social e orientam o
comportamento das pessoas e a elaboração das leis nacionais.
No
mundo imerso na globalização, quer da economia, quer das ciências e
tecnologias, nosso comportamento, nosso agir público e privado, tendem a se
adequar a uma moral é ética de maior aceitação universal. É preciso que não nos enclausuremos apenas em nossos
valores da vida comunitária, religiosa, filosófica, ou ideológica; é necessário
que nos abramos para os valores universais que visam o bem da humanidade, o bem
da vida planetária
7.2
– Origem e Principios da Bioética
Principíalista
No
mundo da ciência e da tecnologia, ao qual estamos sendo incorporados como
profissionais da saúde, área atualmente grandemente envolvida com as altas
tecnologias, iremos atuar nas fileiras das práticas assistenciais, nas
pesquisas científicas e tecnológicas, exigindo de nós uma nova postura, mais
cuidadosa, acurada e responsável; geralmente os filósofos se ocupam destas
reflexões.
Existe
um filósofo contemporâneo, Hans Jonas, que desenvolveu uma séria reflexão ética sobre o “princípio responsabilidade”,
que tem recebido com entusiasmo a acolhida das áreas científicas e
tecnológicas, devido a sua harmonização com as preocupações bioéticas, que
estão presente universalmente nas ações que se relacionam com os seres humanos
e a vida no planeta terra, quer seja no plano assistencial, ou das pesquisas
científicas e tecnológicas,
Hans
Jonas desenvolveu as suas reflexões sobre um imperativo categórico, “age de tal forma que, os efeitos da tua
ação sejam compatíveis com a permanência da vida humana autêntica sobre a
terra”.
As
reflexões de Hans Jonas sobre a ética da responsabilidade é perfeitamente compatível
com a bioética principialista adotada pelo Conselho Nacional de Saúde do
Ministério da Saúde do Brasil – CNS/MS, que rege a CONEP (Comissão Nacional de
Ética em Pesquisa) e os CEPs (Comitês de ética em Pesquisas) existentes
nas diversas instituições pelo Brasil a
fora.
A
dinâmica da bioética que conhecemos atualmente, teve sua origem a partir das preocupações de um
clínico cancerologista nos Estados Unidos em 1970, chamado Van Rensselaer
Potter, e que teve acolhida praticamente em todas as partes do mundo da ciência
e tecnologia, motivando a criação de diversas sociedades, predominantemente
vigorando a bioética baseada em quatro princípios.
É
de acordo com estes princípios que se organiza o CEP-Unigranrio, que avalia o
perfil ético dos projetos de pesquisa aqui na Unigranrio. A Sociedade
Brasileira de Bioética, alinhada à Sociedade Internacional de Bioética e outras
congêneres de diversos países, postulam os princípios da Bioética
Principialista, embora existam outras abordagens.
A
Bioética Brasileira compatibilizada na Resolução 466/2012 do CNS/MS, se
harmoniza com os seguintes princípios orientadores do nosso agir na assistência
aos seres humanos e nas pesquisas científicas e tecnológicas:
·
Respeitar a autonomia da pessoa;
·
Praticar
Justiça e equidade nas nossas ações ;
·
Agir
com beneficência predominantemente;
·
Não
maleficiência nas ações.
===è ....
Para ler mais:
Princípios de Ética Biomédica, Tom L. Beauchamp; James F
Childress. São Paulo: Loyola, 2011
O Princípio
Responsabilidade de Hans Jonas: Um Princípio Ético para os Novos Tempos. Cláudia Battestin, Gomercindo Ghiggi. Thaumazein, Ano III, número 06, Santa Maria (Outubro de
2010), pp. 69-85.
MANOEL, Felismar. Roteiro de Estudos de Saúde, Educação,
Sociedade. Blog do Professor Felismar (www.professorfelismar.blogspot.com). Duque de Caxias RJ: Unigranrio, 2014