Prof.
Dr. Felismar Manoel (1), Rita Suellen Monteiro dos Santos, (2)
Leticia Maura G. Figueiredo (2), Ubiratam Curcino Júnior (2).
Resumo
Objetivando
verificar a melhora do rendimento acadêmico em alunos universitários
através de atividades corporais (psicomotoras), foi desenvolvido um
projeto piloto no período de fevereiro a junho de 2004 com quinze
alunos de graduação, sendo (dois homens e treze mulheres), que
apresentavam repetência em diferentes disciplinas em vários
períodos de seus cursos. Essas atividades corporais foram realizadas
uma vez por semana, com duração de sessenta minutos em um total de
até treze sessões. Esses alunos adultos da graduação relataram
dificuldades como, Insegurança,
baixa concentração e dificuldade de memória, baixa assimilação e
dificuldade de escrita, timidez, alta ansiedade e tensão,
dificuldades de raciocínio, baixo aprendizado,
sendo
essas queixas categorizadas para orientar uma pesquisa futura. Após
o período de aplicação dessas atividades físicas os alunos
relataram autopercepção de melhora, reduzindo e/ou extinguindo o
número de reprovações. O projeto foi aprovado pelo Comitê de
Ética em Pesquisa - CEP da Universidade do Grande Rio - UNIGRANRIO.
Palavras-chave:
Fisioterapia
Psicocinética; Baixo Rendimento Acadêmico de universitários;
Terapia Psicomotora Funcional.
Introdução:
A
cada início de período letivo, os professores percebem os espaços
das universidades repletos de alunos que se movimentam para as buscas
das realizações de seus sonhos pessoais, e às vezes, sonhos de
suas famílias. É um espaço de encontro dos novos com os velhos
alunos, de diferentes etnias e diferentes formações culturais, os
quais vão compartilhar as múltiplas tarefas de ensino-aprendizagem,
com novas linguagens pedagógicas.
Estudos
com universitários dos primeiros períodos acadêmicos relatam a
existência de dificuldades adaptativas desses alunos no ambiente
universitário, com repercussões desfavoráveis ao rendimento
acadêmico, citando como principais dificuldades, o enfrentamento aos
métodos de estudos, as bases de seus conhecimentos prévios e a
autopercepção das competências cognitivas (SANTOS E ALMEIDA,
1999).
Os
alunos das universidades particulares, em sua maioria, já trabalham
em algumas atividades em busca de recursos para pagarem ou
complementarem as parcelas do custo financeiro do seu curso
acadêmico, afetando as condições temporais que dificultam os seus
respectivos envolvimentos nas atividades extraclasses, que geralmente
são necessários como reforço e complemento de seus estudos na
universidade (CARELLI E SANTOS, 1999).
Existe
uma preocupação nas áreas pedagógicas e dos núcleos de apoio
pedagógicos das próprias universidades, em encontrarem estratégias
que ajudem os alunos que não conseguem um rendimento acadêmico
satisfatório em seus estudos (PERRENOUD, 1999).
As
intervenções terapêuticas psicomotoras, com suas atividades
físicas caracterizadas como moderadas, tem registrado algumas
evidências positivas, principalmente quando aplicadas na população
infantil e na idade escolar (LE CAMUS, 1986; VECHIATO, 1989;
KISHIMOTO, 2005).
Atualmente,
com as pesquisas no campo das neurociências, vêm se confirmando a
eficiência da experienciação corporal para as respostas da
plasticidade neural, tanto em animais de laboratório, quanto em
humanos adultos, esses últimos com melhoras da performance funcional
( KOLB E WISHAW, 2002).
É
sabido que as atividades físicas moderadas, como são as atividades
psicomotoras, tem um impacto positivo sobre o aspecto psicológico,
produzindo sensação de bem estar e prazer, com redução da
ansiedade e até mesmo da depressão (DUBOW, 2003). Por outro lado,
os benefícios também se verificam no sistema nervoso, melhorando a
saúde cerebral, através da promoção da vascularização, da
neurogênese e consequente melhora do aprendizado (ROGERS etal, 1990;
BLACK etal, 1990; VAN PRAG etal; LAURIN etal, 2001).
Estudos
bem recentes apontam para a resolutividade das atividades físicas
moderadas, como são os exercícios psicomotores, para a melhora da
plasticidade neural, com efeitos positivos para o rendimento escolar
e o aprendizado, desde a fase da infância até a velhice, podendo
ser útil para diminuir o índice de reprovação acadêmica e
melhorar o indivíduo como um todo, contribuindo para adaptação dos
alunos à vida universitária, com reflexos positivos nos seus
resultados de aproveitamentos acadêmicos (CASTELLI etal, 2007;
HILLMAN etal, 2005; ORTEGA etal, 2008). Esses estudos fornecem
subsídios animadores para a intervenção da fisioterapia
psicocinética funcional, através do uso de atividades corporais
psicomotoras, já proclamadas como legítimas para ajudar no
desenvolvimento do ser humano (LE BOUCH, 1978; 1987 E 2008).
A
fisioterapia psicocinética funcional é uma abordagem ainda pouco
divulgada, que se apropria das variedades de atividades corporais
psicomotoras para resolver questões da aprendizagem escolar,
enquadrando-se nos ditames da Resolução nº 80 do Egrégio Conselho
Federal de fisioterapia e Terapia Ocupacional, quando usa movimentos
corporais humanos objetivando repercussões psíquicas e orgânicas,
para preservar, manter, desenvolver e restaurar a integridade do
sitema neuroencefálico e suas funções cognitivas ( COFFITO,
Resolução 80).
Materiais
e Métodos
Este
projeto piloto foi desenvolvido entre o período de fevereiro a junho
de 2004 com quinze alunos de graduação (dois homens e treze
mulheres) que apresentavam repetência em diferentes disciplinas, em
vários períodos de seus cursos. Esses alunos foram individualmente
entrevistados e ouvidos, antes das atividades de reeducação
funcional global, relatando eles: Insegurança,
baixa concentração e memória, baixa assimilação e escrita,
timidez, alta ansiedade e tensão, dificuldades de raciocínio e
baixo aprendizado,
sendo
essas queixas categorizadas para orientar uma pesquisa futura. Foram
submetidos a uma sequência de atividades corporais, utilizando as
instalações do “dojô” da universidade, (uma sala com tatame,
com cinquenta metros quadrados), que possibilita atividades corporais
de solo. Essas atividades corporais seguiram os princípios de
ativação dos esquemas filogenéticos, que são normalmente
reprisados na ontogênese da pessoa, sendo este método denominado
de Reeducação
Funcional Psicomotora.
Este
método foi composto das seguintes sequências: rolamento
e reptação corporal; sentar e arrastar-se no tatame com o apoio e
tração dos braços e mãos; deslocar-se no tatame com apoio dos
joelhos e mãos, tendo o tronco elevado no solo, sobre os quatro
apoios; deslocar-se no solo, a partir dos quatro apoios e apoiar as
mãos em uma cadeira para ficar de joelhos e em pé, a partir desta
braqueação de apoio; deambular (em bipedismo) em linha reta,
visando um alvo à distância de sete metros, com olhos abertos e com
olhos fechados, para frente e para trás; deambular (em bipedismo)
contornando obstáculos, com olhos abertos e com olhos fechados.
Todas
estas atividades corporais visam, através dos estímulos aferentes,
disparados por todo o corpo, ativar os padrões e esquemas
filogenéticos e otimizar a irrigação sanguínea das estruturas do
sistema neuro encefálicos, e assim possibilitar uma melhor
performance pessoal e rendimento cognitivo nas diferentes tarefas
acadêmicas.
Resultados
Foram
desenvolvidas sessões de atividades corporais com alunos uma vez por
semana, com duração de sessenta minutos em um total de treze
sessões no período de fevereiro a junho de 2004 utilizando o “dojô”
da Universidade UNIGRANRIO em Duque de Caxias, visando a obtenção
de melhoras nas principais queixas dos mesmos. Após o período de
aplicação dessas atividades físicas todos os alunos (representados
por letras) tiveram uma melhora, reduzindo e/ou extinguindo o número
de reprovações, conforme tabelas 1 e 2 .
Tabela
1 - Acompanhamento de alunos antes e depois da terapia
Em
arial: antes da terapia
Em
Segoe: após a terapia
Reprovações
por períodos, antes e após a terapia
|
|||||||||
Alunos
|
1º
|
2º
|
3º
|
4º
|
5º
|
6º
|
7º
|
8º
|
|
A
|
7
|
3
|
3
|
5
|
5
|
1
|
|||
B
|
4
|
2
|
5
|
1
|
1
|
0
|
|||
C
|
0
|
0
|
1
|
1
|
1
|
0
|
0
|
||
D
|
7
|
4
|
4
|
1
|
5
|
1
|
|||
E
|
3
|
3
|
3
|
2
|
1
|
2
|
0
|
0
|
|
F
|
1
|
0
|
0
|
1
|
0
|
||||
G
|
7
|
7
|
5
|
3
|
6
|
0
|
0
|
||
H
|
1
|
2
|
1
|
2
|
4
|
0
|
1
|
0
|
|
I
|
0
|
1
|
1
|
0
|
2
|
0
|
0
|
||
J
|
2
|
2
|
2
|
2
|
2
|
2
|
1
|
0
|
|
K
|
5
|
5
|
9
|
5
|
2
|
0
|
Observações:
Quatro alunos que não forneceram dados completos foram excluídos
Tabela
2 - Relatos das autopercepções dos alunos
Aluno
|
Queixa
principal
|
Nº
sessões
|
Autopercepção
após terapia
|
A
|
Baixa
concentração e memória
|
4
|
Sente-se
bem
|
B
|
Insegurança
pessoal
|
10
|
Sente-se
bem
|
C
|
Insegurança
pessoal
|
13
|
Sente-se
bem
|
D
|
Baixa
concentração e raciocínio
|
4
|
Interrompeu
|
E
|
Timidez
|
6
|
Sem
relato
|
F
|
Baixa
concentração e memória
|
4
|
Sem
relato
|
G
|
Baixa
concentração
|
13
|
Sente-se
bem
|
H
|
Dificuldade
em relacionar com doente
|
10
|
Sem
relato
|
I
|
Baixa
memória
|
4
|
Sente-se
melhor
|
J
|
Baixa
concentração e memória
|
4
|
Sem
relato
|
K
|
Timidez
|
13
|
Sente-se
bem
|
Observações:
Quatro alunos sem dados básicos foram excluídos
Discussão
A
abordagem centrada na pessoa, adequada ao seu perfil pessoal, através
da mediação do corpo, possibilita a ativação dos esquemas neurais
elaborados durante a filogênese (evolução filogenética das
espécies) e que normalmente se repetem durante a ontogênese
(evolução embriológica, fetal e pós natal do ser humano), que
enquanto vivência e experiência individual estimula a plasticidade
neural, com melhoria da irrigação sanguínea cerebral local, do
metabolismo neuronal e da facilitação na execução dos engramas
sinápticos do encéfalo responsáveis pelos comportamentos pessoais,
otimizando em conseqüência as funções globais do ser humano,
conforme referência dos diversos autores citados acima.
Para
um entendimento sobre a efetividade dos testes no qual os alunos
foram submetidos, tomou-se de empréstimo algumas definições já
conhecidas, como filogênese
que
estuda a história da evolução criativa das espécies, nomeadamente
a constituição dos seres humanos como sujeitos cognitivos; a
paleontologia
humana,
baseada
em inúmeras investigações, com a afirmação de que os humanos nem
sempre tiveram a mesma constituição e capacidades. A explicação
mais consensual é que a evolução da constituição morfológica e
funcional humana foi feita em simultâneo com o desenvolvimento das
capacidades cognitivas (memória, linguagem e pensamento) e esta de
forma articulada com o desenvolvimento das realizações, praxias e
capacidades técnicas. Todos estes fatores de forma
inter-relacionadas contribuíram para gerarem a espécie atual; e a
ontogênese,
em
que o conhecimento é encarado como um processo de adaptações ao
meio, que desde o nascimento ocorre em todos os seres vivos. Segundo
diversos autores, a ontogênese
repete
e ativa os esquemas da filogênese,
isto
é, o desenvolvimento do ser humano é como que repetindo as fases de
desenvolvimento de cada ente biológico do filo dos vertebrados
(FONSECA, 1998), razão pela qual a sua reprodução como técnica
terapêutica, oferece resultados favoráveis ao gerenciamento
neuronal da performance pessoal do aluno.
Quando
se analisa as literaturas e/ou os artigos científicos, se depara
sempre com os autores se referindo às melhoras que as crianças têm
com as atividades corporais, com a ativação dos esquemas
filogenéticos que são normalmente reprisados na ontogênese da
pessoa. São pedagogos,
psicólogos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos e
outros profissionais, que relatam melhorias do desenvolvimento
neuropsicomotor dessas crianças, quando submetidas a essas
atividades. Este estudo propôs verificar, se, assim como as
crianças adquirem uma melhora em sua cognição quando submetidas a
essas atividades corporais, também os adultos quando submetidos às
mesmas atividades, obteriam melhora em seu comportamento de
aprendizados, melhorando sua concentração, memorização,
raciocínio e assim, proporcionar bem estar psicossocial e melhora na
sua performance cognitiva individualmente.
Conclusão
Há
consensualidade que a ontogênese humana reproduz etapas da
filogênese dos vertebrados e que técnicas de atividades corporais
utilizando tais esquemas são proveitosas terapeuticamente;
entretanto, a história de vida da pessoa é um fator que exige
individualização das abordagens, já que cada indivíduo é
diferente um do outro em suas subjetividades; existem olhares plurais
sobre as atividades corporais, o que não quer dizer que tais autores
concluam divergências, pelo contrário, são pautados em
pressupostos comuns da atividade física, da filogênese e da
ontogênese. Quanto ao aspecto da resolutividade da fisioterapia
psicocinética no enfrentamento do baixo rendimento acadêmico, foi
verificado que há maior número de estudos que comprovam a eficácia
em crianças e menor número envolvendo adultos, corroborando este
trabalho para somar-se àqueles que concluem positivamente a favor do
êxito também em adultos. Valorizou-se o aspecto fenomenológico do
estudo, através da autopercepção dos alunos envolvidos, que
relataram melhora
em seus rendimentos acadêmicos, melhora da autoestima, melhora do
grau de concentração, superação da timidez e da insegurança e
melhora na memorização. Deve-se
notar, que, parte dos alunos ao perceberem as melhoras, resolvendo
suas queixas principais, abandonam o cenário terapêutico, impedindo
uma avaliação mais plena por falta dos seus respectivos dados.
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---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
(1)
Fisioterapeuta - IBMR; Mestre em Motricidade Humana - UCB/Capes;
Professor Mestre Adjunto I da UNIGRANRIO; Doutor em Filosofia da
Religião - SETESA/Não Capes; Formação em Psicanálise Clínica -
SFPC; Formação em Psicomotricidade Sistêmica - CEC;
Formador-Didata em Terapia Psicomotora Analítico-Clínica - TEPAC do
CEBRASC; Especialista em Educação - IBMR; Bacharel em Filosofia -
SETESA; Bacharel em Teologia - SETESA; Bispo Primaz do Catolicismo
Apostólico Salomonita (1902-2010).
(2)
Bacharelandos de Fisioterapia da UNIGRANRIO que se envolveram como
voluntários na execução das atividades terapêuticas e na
apresentação dos resultados em eventos científicos.