sábado, 30 de janeiro de 2016

Formação da Consciência Pessoal - 1

Construindo o “Si Mesmo” verdadeiro
(Trabalhando o Self ideal)
Prof. Dr. Felismar Manoel – Fisioterapeuta, Psicomotricista e Psicanalista Clínico (*)
felismarmanoel@gmail.com




O ser humano é um ser de abertura e de consciência e esta se elabora em três dimensões, conforme as etapas do seu desenvolvimento ao longo da existência, quando ele estrutura as três instâncias da personalidade, na visão psicanalítica freudiana:

a) Na instância do Id, responsável pela programação biológica, se manifestando em pulsões na busca da sobrevivência e do prazer – quando se elabora as estruturas do inconsciente, durante o desenvolvimento infantil, da concepção até mais ou menos os seis anos, em quatro fases distintas:

i – Na fase matricial – mais ou menos a partir dos três meses de gestação, quando o feto já organizou o seu sistema neural básico, recolhendo elementos das relações afetivas da vida materna, formando um repositório de dados memoriais que poderão facilitar a manifestação de tendências identificatórias quando na fase adulta;

ii – Na fase oral – após o nascimento, durante a amamentação, quando a criança recolhe e registra as experiências prazerosas adquiridas através da zona da oralidade, que passa a ser para ela uma zona erógena, aumentando o seu repositório de dados memoriais, podendo esses dados reforçar padrões de comportamentos na fase adulta;

iii – Na fase anal – desencadeada principalmente nos episódios das cólicas intestinais, que na verdade cessam trazendo alívio, quando a mesma faz cocô e em consequência vai levá-la a receber o prazeroso ritual de cuidados na limpeza (banhos, cremes, talcos, fraldas limpas e o costumeiro ninar), constituindo esta área corporal como zona erógena, enriquecendo o repositório de dados memoriais que poderão reforçar padrões de comportamentos na fase adulta;

iiii – Na fase genital (chamada por alguns de fase fálica), desencadeada principalmente pela maturação do controle neural do esfincter miccional, controlado por mecanismos da parede da bexiga, que no início, gera mal estar e desconforto pela bexiga cheia, passando esse desconforto, naturalmente, pela “mijada” da criança, que levará a mãe a se dedicar à limpeza do neném, com seu ritual de cuidados prazerosos para a criança, levando a constituir esta área corporal, também uma zona erógena, aumentando seu repositório de dados memoriais, que poderão reforçar padrões de comportamentos na fase adulta.

Observação – Segue-se uma fase genital neutra, de “sexualidade latente”, que dará lugar às vivências familiares e comunitárias, para aquisição consciente dos valores predominantes no seu contexto familiar e sócio cultural, que serão importantes para a formação do superego na consciência consciente.


b) Na instância do Superego – Consciência consciente – responsável pela internalização dos valores culturais e sociais da criança (sexualidade latente, em potencial) e pré adolescente em seu confronto com a realidade (primeiras manifestações dinâmicas da sexualidade própria), quando ele ou ela desenvolve a consciência familiar e social, buscando identificar outros e outras afins, elegendo ídolos a serem imitados, elaborando as estruturas dos interditos, dos juízos, causadoras dos recalques, produtores dos sintomas neuróticos.

c) Na instância do Ego – Consciência consciente – quando o jovem e adulto desenvolve a consciência do Ego Autônomo responsável pela construção e afirmação da sua identidade singular pessoal, cultural, social, mediante a sua visão de mundo e idiossincrasias manifestas nas suas subjetividades.

Normalmente, haverá também a elaboração da consciência do Self Ideal (o verdadeiro Eu, o si mesmo autêntico), principalmente na fase mais madura, ou no envelhecimento, através da adoção de modelos elegíveis pela identificação e afinidades, que pela auto reflexão produz as correções para aquilo que não deu certo na vida do adulto jovem, através da simples afirmação de seu ego; aqui entra geralmente padrões de modelos conhecidos através de diferentes fontes, como culturas, filosofias, religiões, ideais, imitação de ídolos, entre outros.

Algumas pessoas conseguem sua auto transcendência e superação do Ego Autônomo, pela auto reflexão e identificação com padrões idealizados pelas religiões e filosofias, entrando na fase da Consciência Teantrópica.

Tudo isto pode ser trabalhado com a ajuda terapêutica, através do exercício da vontade e da disciplina pessoal.


Referências Bibliográficas


Alvarenga, Rodrigo. Esquema Corporal e Intencionalidade em Merleau Ponty. Anais do IV Congresso de Fenomenologia da Região Centro-Oeste. Pontifícia Universidade Católica do Paraná, 2011

Freud, Sigmund. O Ego e o Id e Outros Trabalhos, Obras Completas – Volume XIX, Edição Standard Brasileira, Imago Editora, 1974

Jorge, Marco Antônio Coutinho. Fundamentos da Psicanálise – de Freud a Lacan, volume I - As Bases Conceituais. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editores, 2000

Kathleen, M. Haiwood e Getchell, Nancy. Desenvolvimento Motor ao Longo da Vida. Porto Alegre: Editora Artmed,2004

Leloup, Jean-Yves. O Corpo e seus Símbolos – Uma Antropologia Essencial. Petrópolis: Editora Vozes, 2010

Manoel, Felismar. Apostila de Psicomotricidade Institucional e Clinica. Blog do Professor Felismar, 2015 – www.professorfelismar.blogspot.com

Mondim, Batista. O Homem Quem É Ele. São Paulo: Editora Paulus, 2011



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(*) Professor da Unigranrio; Doutor em Ciência da Religião-SETESA; Mestre em Motricidade Humana-UCB; Bacharel em Fisioterapia-IBMR, Bacharel em Teologia-SETESA; Bacharel em Filosofia-SETESA; Especialista em Docência do Ensino Superior-IBMR; Formação em Psicomotricidade Sistêmica-CEC; Formação em Psicanálise Clinica-SFP.