sábado, 28 de julho de 2012

Contextos Socioantropológicos - Módulo para Estudos


Prof. Felismar Manoel (1)
III Parte - 3 de 4

3.0 - – REPRESENTAÇÃO SOCIAL DA REALIDADE


Considera-se como realidade tudo que tem existência em nosso mundo cognoscitivo, seja da existência material, social, cultural, espiritual; coisas concretas, ou abstratas fazem parte da realidade e podem ter representação social para nós, dependendo do como nós vamos apreender e significar aquela realidade internamente.

Vocabulário Técnico

Aculturação = Processo de aprendizado cultural na fase adulta.
Autorreflexão = Capacidade de refletir sobre si mesmo.
Cognição = Faculdade que se tem de conhecer as coisas.
Cognoscitivo = Refere-se a capacidade de aquisição de um conhecimento qualquer.
Corporeidade Humana = A dimensão corporal que permite o ser humano se manifestar no mundo e aí criar a cultura.
Consciente = Em psicanálise, a dimensão humana que permite ao Ego situar-se e situar as coisas.
Contra-transferência = Fala-se da interferência terapêutica, quando o terapeuta absorve a projeção do cliente e vivencia o papel de modo pessoal, em razão das suas carências.
Cultura = Tudo que o ser humano faz, ou produz. Pode-se ter várias localizações: diz-se intra-orgânica quando se situa no interior das pessoas; diz-se inter-orgânica quando se localiza entre as pessoas; e diz-se extra-orgânica quando se localiza nos objetos materiais.
Deontologias Profissionais = Fala-se do que é conveniente para a profissão, seus profissionais e os clientes. É errôneamente denominados “códigos de éticas profissionais”.
Distanásia = Fala-se de uma dispensação terapêutica sofrida, desnecessária.
Empoderamento = Fala-se do processo mobilizador, educativo e de envolvimento das pessoas para assumir certos papéis na comunidade onde vive.
Endoculturação = Processo de aprendizado cultural na fase infantl.
Endorfinas e Encefalinas = Variedades de substâncias químicas produzidas pelo corpo, mediante certos padrões mentais sustentados pelas pessoas.
Estigmata = Fala-se da pessoa estigmatizada pela sociedade, que se identifica com a condição discriminada e assume tal papel, deteriorando sua identidade.
Estigmatização = Discriminação pessoal exercida pela sociedade, que gera exclusão social.
Eutanásia = Fala-se de uma morte sem sofrimento, gerenciada pelo médico. É ato crimonoso na maior parte do mundo.
Inconsciente = Em psicanálise, dimensão humana onde fica o material recalcado resultante das pulsões do Id interditadas pelo Superego, ocasionando as neuroses.
Ideais = Projeções, desejos, sonhos, propósitos, ou coisas que as pessoas empenham em realizar, de natureza superior, ou transcendente.
Linguagem Corporal = Gestuália sinalizadora de desejos ou intenções não verbalizadas, mas que o corpo projeta involuntariamente, por diferentes semantemas.
Motricidade Humana (Ciência da) = Emerge da corporeidade humana para realizar a intencionalidade da pessoa, construtora de sua práxis no mundo.
Obstinação Terapêutica = Atitude do profissional de saúde diante de quadros terminais de clientes, que insiste na prolongação da vida através de medicamentos e aparelhos, mesmo sem nenhum prognóstico de melhora ou cura.
Ortotanásia = Fala-se de uma morte natural para a pessoa, sua família e sua cultura, assistida com cuidados paliativos pelos profissionais de saúde, para evitar ou minorar o sofrimento.
Projeções Transferenciais = Certas carências emocionais do cliente que são projetadas para seu terapeuta quando se desenvolve a relação terapêutica.
Proxemia = Refere-se a uma área de saber que estuda as reações inconscientes e conscientes, que podem ser desencadeadas quando se ultrapassa certas distâncias entre os corpos do terapeuta e do cliente.
Psiconeuroimunologia = Ciência que estuda as relações de interferências do mundo das crenças pessoais influenciando os mecanismos de defesas orgânicas e os estados de saúde.
Pulsões Instintivas Libidinais = Impulso interno para as atividades de natureza sexual.
Semantemas Corporais = Sinais significantes que nossos corpos produzem, de modos inconscientes ou conscientes.
Socialização Primária = Processo de aprendizado dos modos sociais de ser desenvolvido durante a infância.
Socialização Secundária = Processo de aprendizado dos modos sociais de ser na fase adulta.
Sujeito Suposto Saber = Certa projeção que os clientes têm, com relação aos profissionais de saúde que lhes oferecem cuidados, como se eles soubessem sempre as soluções para seus problemas.
Vassalagem = Submissão, como se fossem servos.
Vida Gregária = Vida em grupo, geralmente dos mamíferos.
Volição = Faculdade que refere-se a capacidade de querer.

3.1- Localização das Culturas: Socialização Primária e Endoculturação; Socialização Secundária e Aculturação.

As culturas locais tem uma estreita relação com a realidade existencial do ambiente e se alojam de modo diversificado nas pessoas. É através da cultura intra-orgânica, a cultura que se localiza no interior das pessoas, que os individuos dão significância social para os atos, os fatos, as crenças, os costumes, e tudo que faça parte da realidade experienciada no ambiente onde vivem. Aí, nesse espaço privilegiado, as pessoas vão compartilhar sentidos, significados, simbolizações, valores, através da socialização da convivência.

A socialização primária acontece normalmente na infância, mas pode se repetir mais tarde, na vida adulta. Trata-se de uma educação bem sucedida .
Os agentes da socialização primária podem ser os pais , ou outras pessoas, com as quais as crianças se identificam. São os "outros significativos" para as crianças, sendo que elas assumem o mundo deles como se fosse simplesmente o mundo, sem notar que se trata de um mundo filtrado pelo modo de ver e sentir do outro significativo.
Além do aprender cognoscitivo, a socialização primária inclui a ligação emocional com o outro significativo, uma identificação e absorção de suas atitudes, ajudando no despertar de sua própria personalidade, na descoberta do seu eu, em uma identidade coerente e plausivel pela localização em um mundo social.
A socialização primária cria uma abstração crescente das atitudes e papéis, segundo Rabuske. O individuo se identifica com a sociedade, aprende a viver em sociedade.
Simultaneamente com a socialização primária ocorre o processo de endoculturação, quando a criança vai aprender a cultura local e familiar, seus significados, seus modos de ser, seus valores, internalizando o modo de ser próprio daquela cultura específica, com a qual vai criar identidade e ajustar o seu caráter e personalidade.
A socialização secundária ocorre mais tarde, levando em conta a socialização primária, quando o individuo já tem uma personalidade formada e um mundo já internalizado. Ela é a interiorização de modos institucionais de agir específicos, na aquisição de conhecimentos de funções específicas e do comportamento adequado a elas.
Pode-se tomar como exemplos típicos da socialiazação secundária, os aprendizados dos modos específicos de comportamentos profissionais, as mudanças relacionadas com os modos de ver as coisas, ou de se comportar, quando das conversões de uma religião para outra, de uma ideologia para outra, de uma escola filosófica para outra.
Como ocorre no caso da socialização primária e a endoculturação, também na socialização secundária pode ocorrer o processo da aculturação.

A aculturação é o processo do aprendizado cultural em uma fase da vida adulta, ou seja, quando já se tem o uso da razão. O adulto irá confrontar-se com outras culturas, outras ideologias, outras filosofias ou religiões diferentes daquelas que aprendeu em sua infância, principalmente nas sociedades multiculturais e globalizadas dos nossos dias, onde há diferentes visões de mundo, ou modos de ser e existir diferentes. Isto oferece a oportunidade de se fazer escolhas e mudanças para diversificados padrões de vidas.
Quando fazemos essas mudanças, passamos por esse processo de aculturação aprendendo novos valores, novas formas de ver o mundo.
No Brasil multirreligioso, por exemplo, a ocorrência das conversões religiosas verdadeiras, impõe aos convertidos, um novo aprendizado para a ressignificação das coisas, uma nova visão com a aquisição de novos valores, novos comportamentos, um verdadeiro processo de aculturação e socialização secundária.
A cultura com seus símbolos, seus falares, seus significados e valores, pode ter localizações diferenciadas:
  1. Quando a cultura se localiza no interior do ser humano, formando ideias, conceitos, valores, ela é denominada cultura intra-orgânica e ajuda a formar padrões mentais nas pessoas. Esses padrões mentais podem interferir nos mecanismos psiconeuroimunológicos e influir nos seus estados de saúde;
  2. Quando a cultura se localiza entre as pessoas, facilitando as relações e entendimentos sociais, através do uso de símbolos, como alianças, fardas, hábitos ou distintivos religiosos, denomina-se cultura inter-orgânica;
  3. Ainda quando a cultura se localiza nos objetos materiais, como estilo próprio de uma produção, como um tapete persa, uma louça chinesa, uma construção tipo colonial, etc., trata-se nesse caso de uma cultura extra-orgânica, por localizar-se fora dos organismos humanos, mas nos objetos materiais.
A Evolução e Desenvolvimento da Consciência

A evolução da consciência humana acontece durante o desenvolvimento. O conceito de desenvolvimento envolve o ser humano, indo da concepção, infância, adolescência, juventude, fase adulta e envelhecimento, terminando com a morte. Certas culturas espiritualistas acreditam que o desenvolvimento humano continua após a morte, no plano espiritual. Durante essas fases do desenvolvolvimento humano, ocorrem os principais eventos da evolução da consciência.
Embora o ser humano tenha as pulsões instintivas interferindo de modo inconsciente no seu comportamento, é através dos seus atos conscientes que ele será julgado quando da sua participação na vida social.
Na visão da psicanálise o ser humano é portador de três dimensões em sua consciência, possuindo um patamar inconsciente, outro préconsciente e o consciente. Nos tempos atuais fala-se ainda em um patamar supraconsciente, embora pouco fundamentado academicamente.
É nas diferentes etapas do desenvolvimento do ser humano, desde a sua concepção no ventre materno, mas principalmente na infância, que ele desenvolverá as fases da consciência presente no seu caráter e na sua estrutura da personalidade, contribuindo para isso os fatores biológicos, socioculturais, ambientais e a história de vida.

3.2 – Relações Étnico-Raciais no Brasil – Direito às Afirmações Étnicas e Culturais dos Povos

O Brasil é uma Nação que desde o seu nascedouro como Pátria de um Povo, abrigou diversas raças e etnias, tendo construído a sua cultura, os seus valores, a sua economia, graças ao concurso de todos esses concidadãos, às vezes com o profundo sofrimento de alguns deles.
Quando aconteceu o descobrimento do Brasil pelos navegadores portugueses, o nosso território era habitado por várias etnias indígenas.
Compunham os índios diferentes nações com várias línguas, visões de mundo e repertório cultural próprio, tendo nossos primeiros mentores ignorado esses cabedais, nos deixando em vacuidade desses patrimônios.
Infelizmente os missionários e estudiosos aqui no Brasil, não fizeram registros dos diferentes sistemas de linguagens, suas culturas e modos de interpretar a realidade, às suas diferentes visões de mundo.
Houve um esforço missionário de descaracterização de seus valores culturais, com imposição dos valores cristãos europeizados, como ainda ocorre atualmente com indução de valores americanizados.

Ao lado dos índios brasileiros, nós tivemos a importação de povos africanos, também de diversas etnias e nações, com valores culturais diferenciados entre si. Aqui foram eles acolhidos na condição de escravos, sem nenhum investimento valorizativo de suas identidades e caracerísticas culturais por parte de nossos missionários e autoridades, com uma preocupação apenas na exploração da mão de obra produtiva.
A economia brasileira muito deve ao contingente de mão de obra africana, bem como nossos costumes e hábitos de celebrar a vida e conviver em comunidade.
O Brasil ainda é hoje um cenário de convivência com povos de diferentes etnias, culturas e visões de mundo, constituindo um excelente cenário para construir uma democracia etnorracial pacífica e ordeira, que na realidade ainda não existe. Entretanto, sendo um país com convivência pacífica de uma população pluricultural e multiétnica, construtora de suas grandezas, tem o dever de promover as suas respectivas inclusões, principalmente de modo reparador, naquelas que foram espoliadas e vilipendiadas em suas identidades.

O cidadão brasileiro precisa ser um indivíduo de alteridade, que relacione bem com o outro diferente de si, mas que tenha consciência que todos são portadores dos mesmos direitos e deveres, produzindo no conjunto uma nacionalidade em abertura, como cidadão do planeta.
O encurtamento das distâncias oportunizado pelas facilidades dos meios de comunicação e pelos modernos recursos de transportes, tem transformado o nosso planeta terra em uma aldeia global.
Nós brasileiros e os que aqui conosco compartilham a convivência, necessitamos nos exercitar na construção de uma sociedade que nos garanta, a nós todos, o direito de ser, aprender e ampliar conhecimentos, sem negar a si mesmos e ao grupo etnorracial a que pertencemos, sem a obrigatoriedade de adotar costumes, idéias e comportamentos que nos sejam adversos; oxalá possamos concretizar um dia a sonhada democracia étnorracial no Brasil.
Este é um dos melhores ideais dos povos da terra, que anseiam pela convivência na paz e na fraternidade, geradoura de uma cidadania da solidariedade entre os povos e as nações do planeta terra.

3.3 – Crenças Humanas e Conceitos de Vida e de Morte.

Os seres humanos são sociais e culturais e portanto são seres que tem um principio de vida gregaria, inclusive compartilhando culturas.
As culturas se caracterizam por firmar certos conceitos e definições das coisas do dia-a-dia das pessoas. Daí surgem as crenças pessoais sobre os eventos da vida.

O nascimento é um evento que faz parte, para a maioria das pessoas e culturas, do inicio da vida, sendo portanto, recebido com alegria; existem outras pessoas que acham que a vida tem origem antes do nascimento e depende da vontade de um Ser Superior aos humanos; há uma certa dimensão sagrada na variedade dessas concepções, por isso a celebram com alegria de modo bem generalizado.

O mesmo ocorre também com o evento da morte orgânica.
As diferentes culturas tem crenças diferentes sobre o nascer e o morrer, sobre o fenômeno da vida e o fenômeno da morte. Existem diferentes construções culturais fornecendo diferentes padrôes de crenças sobre vida e sobre morte.
Os profissionais de saúde são também portadores de crenças culturais sobre a vida e sobre a morte, partilham as celebrações da alegria pela vida e o luto pela morte, cada um com seus respectivos padrões de crenças culturais.
Ao lidar com esses fenômenos no dia-a-dia de nossas profissões, é preciso que tenhamos cuidado para não impor aos outros, nossos clientes ou pacientes, os padrões de nossas convicções e que aprendamos a respeitá-los em suas convicções diferentes das nossas.
Os pacientes tem para nós profissionais de saúde, um olhar idealizado, na condição de “sujeito suposto saber”, condição esta atribuída a todo profissional que detém alguma qualificação para atender o outro necessitado do cuidado profissional.
Há uma certa submissão, quase vassalagem, aos profissionais cuidadores, por parte daqueles que estão sofrendo de alguma maneira.

Existe uma dimensão no exercicio de nosso livre arbitrio, que não é normatizada pelos códigos de deontologias profissionais.
Assim, é preciso critério no respeito pela autonomia da pessoa sob os nossos cuidados.
Nós lidamos com altas tecnologias que possibilitam a banalização da vida e da morte.
A Bioética Brasileira, conforme exposta na Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde – MS, oferece um bom referencial para orientar as relações envolvendo seres humanos.
Existem seguras reflexões nos dias atuais orientando sobre temas que são complicados, como a obstinação terapêutica, a distanásia e da eutanásia, com uma razoável aceitação consensual sobre a ortotanásia, tanto pelas diferentes religiões, quanto pelas profissões regulamentadas.
É preciso maduras reflexões sobre os temas morais e éticos que norteiam a sociedade, com relação ás questões da vida e às questões da morte, para que o profissional de saúde possa aliar a sabedoria ao conhecimento técnico e científico e, então, assumir uma atitude responsável.

3.4 – Corporeidade, Saúde e Doença.

A física define corpo como algo que tem massa e que ocupa lugar no espaço. Ora, o corpo animal tem massa e ocupa lugar no espaço enquadrando-se no conceito da física, entretanto ele vai além dessa definição, pois ele tambem é bios, manifestando os diferentes processos biológicos.
Normalmente o designamos de corpo orgânico, pois os entes animais se manifestam por meio dele. Os animais não humanos são corpóreos, vivem através dos processos biológicos ocorridos no corpo e corporalmente podem ter saúde ou ter doenças, mas não se tem informações que esses animais façam uma reflexão sobre si mesmos, sobre as suas próprias condições.
Com o homem e a mulher a questão é um pouco diferente, pois são capazes de autorreflexão, de terem consciência de si mesmos, de elaborarem projetos agindo na transformação da própria concepção de mundo que ele cria e utiliza.
Além do animal, o homem e a mulher assumem a dimensão de ser humano, portador de ideais, cultivador de sentimentos elevados, praticantes das virtudes que enriquecem a convivência humana na terra.

Este ser humano que focamos tem sua existência no corpo, ele é um ser corporal. Nessa condição não falamos mais em corpo humano , mas sim em corporeidade humana.
É pela corporeidade que o ser humano se manifesta no mundo. Ele é carente do mundo, para no mundo realizar o seu projeto de existência.
É através da corporeidade que o ser humano pode assumir a sua função de sujeito da sua história no mundo onde ele vive.
Nos processos de assistência à saúde das comunidades, quando necessitamos trabalhar no empoderamento da população, é nessa dimensão da corporeidade do cliente que vamos investir, para que ele assuma a função consciente de ator naquele cenário comunitário onde vive, na construção das melhorias que sua população carece.

A dimensão da saúde ou da doença tem uma profunda relação com a noção da corporeidade humana. Pois tanto a saúde, quanto a doença se configuram como processos e que , portanto, ocorrem através de fases sucessivas na corporeidade.
É atraves da corporeidade que irá emergir a motricidade intencional do ser humano, para agir na construção dos padrões de vida saudável, na promoção e proteção da saúde, na prevenção das enfermidades e na responsabilidade de investir na consulta e tratamento precoces , quando das doenças já instaladas.
A pessoa humana é um ser de corporeidade, como também o é o profissional de saúde, pela sua condição humana, ambos devendo refletir sobre essa situação específica.
A corporeidade ainda nos aponta para as “falas” do corpo. O corpo se comunica através de gestos, atitudes corporais, posturas corporais. A antropologia essencial relaciona muitas dessas exteriorizações corporais com semantemas significantes, compondo às vezes um verdadeiro "discurso" inconsciente, com fortes vinculações à saúde mental.

É possivel conhecer os semantemas corporais, com suas relações entre significantes e significados.
O profissional de saúde deve procurar estudar um pouco sobre limguagem corporal, treinar sua sensibilidade de observação para a percepção das falas do corpo.
A corporeidade nos assinala ainda para as barreiras da dimensão espacial oculta do corpo.
Desde os mamíferos e também nos pássaros, observa certas distâncias corporais na vida de relação entre eles.
Também entre nós, seres humanos, existem certas distâncias estudadas pela Proxemia, que são observadas e que inconscientemente ativam certas pulsões instintivas, quando seus espaços são invadidos.
Os profissionais de saúde, em sua maioria, invadem alguns desses espaços quando do seu exercicio profissional, pela proximidade ou toque corporal manipulativo no cliente.
A proxemia registra quatro espaços significativos dessa dimensão corporal oculta:
o espaço íntimo, do encostar ou tocar; o espaço pessoal, do estar próximo ou encostar; o espaço social, da vênia ou do aperto de mãos; e o espaço público, da "paquera", do "ataque e defesa", da fuga. Esses espaços quando são violados podem estimular pulsões instintivas libidinais, mesmo a nível inconsciente, possibilitando projeções transferenciais ou contra-tansferenciais, tanto do cuidador quanto do cliente, interferindo na ação do fazer terapêutico. Aconselha-se trabalhar a relação terapêutica de modo técnico, profissional, e se necessário, sob supervisão terapêutica.
Essas distâncias também podem estimular respostas projetivas de estados psiquicos mal resolvidos, tanto no cliente, quanto no cuidador, como inibições, ansiedades, fugas, negações, etc., que podem interferir em nosso fazer terapêutico.
O profissional de saúde deve estar ciente desses potenciais internos de cada um de nós, para um bom gerenciamento da relação terapêutica no seu fazer profissional.
Os estudos da proxemia comprovam a interferência dos padrões socioculturais interferindo nessas distâncias, registrando a sua presença em diferentes sociedades atuais, permitindo o estudos de proxemia comparada.

3.5 – Influenciação dos Mecanismos Biológicos pelo Pensamento e Ideação.

Todo ser humano é portador de cultura. Todas as culturas, desde as mais simples às mais elaboradas , mobilizam o pensamento para formar ideias, conceitos, atitudes, etc, diante das questões das realidades da existência, como elas são percebidas pelas pessoas.
O sistema neurológico está constantemente ativando as áreas cerebrais diversas, conforme forem as idéias e os conceitos cultivadas na mente das pessoas.
As culturas populares podem cultivar idéias de natureza positiva, ou negativa (…vou ter sorte,…vou ser abençoado; ou de modo contrário,…vou ter azar,… Deus vai me punir, …etc) e isto influenciar a nossa bioquímica corporal em consequência das ativações das áreas cerebrais, se com padrões mentais positivos, ou negativos.

Nesses exemplos acima, são ativadas áreas cerebrais da cognição, da volição e da motivação. Quando essas áreas são ativadas simultâneamente, elas ativam também o hipotálamo, que por sua vez estimula a produção de endorfinas, encefalinas neuronais, hormônios ativadores ou inibidores dos mecanismos imunológicos, bem como a produção de células sanguíneas.
Assim um pensamento ou ideia positiva, levará a produção de substâncias vitalizantes e de hormônios ativadores pelo organismo, esses por sua vez vão promover a euforia e as defesas orgânicas; já os pensamentos ou idéias mentais de natureza negativa , levarão à produção de substâncias deletérias e hormônios inibidores, que acarretarão a depressão do sistema imunológico.
Pode-se alimentar crenças culturais ativando a mente com padrões positivos ou negativos, influenciando os mecanismos biológicos e alterando a bioquímica humana a favor da saúde ou da doença.
Torna-se oportuno aos profissionais de saúde, criar um clima de afirmações positivas, sempre que isso se torna possivel, sem impor padrões falsos que gerem ilusões e falsas esperanças nos doentes.
Por outro lado não se pode, enquanto profissionais de saúde, valer da nossa situação de “sujeito suposto saber” e seduzir o cliente a aceitar nossas posições culturais como se elas fossem as melhores e mais corretas.

3.6 – A Estigmatização, o Estigmata e os Profissionais de Saúde.

Em nossa sociedade vivemos padrões de grande desigualdade social e econômica. Temos um grande contingente de pessoas excluidas do sistema social por padrões de beleza, questões de raça, de etnia, de gênero, de classe social, de poder econômico, ou por ser portador de direitos especiais, etc.
Essas pessoas são excluidas e discriminadas com frequência no ordenamento social, consideradas como cidadãos inferiores, ou de segunda classe.
Elas são vistas como se tivessem uma marca, uma cicatriz, uma rotulação como se fossem inferiores, ou menos adequadas para funcionar na sociedade.
Quando ocorre esse fenômeno social, gerado e alimentado pela própria sociedade, caracteriza-se a estigmatização.

A estigmatização é uma visão social deteriorada da identidade da pessoa, que traz um grande mal para a saúde social.
Muitas pessoas que são estigmatizadas, acabam por se identificar com a imagem inferiorizada criada para ele pela sociedade e se tornam estigmatas, ou por que aproveitam algum ganho secundário que essa posição lhe garante, ou porque deixam deteriorar a sua identidade por vários motivos da sua história de vida, assumindo e se identificando com o padrão de "menos valia social".
A maioria desses casos podem ser resgatados pelos profissionais de saúde e reconduzidos a um padrão de vida mais digno e aceitavel.
A grande dificuldade para erradicar essa situação é que a mudança tem que ocorrer na sociedade, composta por todos os cidadãos.
É preciso que se adote campanhas educativas, mobilização das pessoas de boa vontade e ações afirmativas que construam uma sociedade mais justa, mais solidária e responsável, sem alimentar um etnocentrismo social.

Questionário – Para fixar o conhecimento, consulte o texto acima e responda as questões que seguem:

1 - O que é cultura intra-orgânica?
2 - Qual a diferença entre socialização primária e socialização secundária?
3 - Qual a diferença entre endoculturação e aculturação?
4 - Quais os principais níveis de manifestação da consciência na visão psicanalítica?
5 - Quais as principais etnias entram na formação da identidade brasileira?
6 - Quais são os sentimentos dominantes por ocasião dos nascimentos e por ocasião dos falecimentos?
7 - O que significa a frase "sujeito suposto saber"?
8 - Procure entender de modo pessoal, o que significa as palavras eutanasia, distanasia, ortotanasia e obstinação terapêutica.
8 - O que quer dizer "corporeidade humana"?
9 - O que quer dizer "linguagem corporal"?
10 - Quais são os principais "espaços" das dimensões corporais ocultas?
11 - Por que as culturas podem alterar nossa bioquímica corporal?
12 - O que quer dizer "estigmatização" e "estigmata"?

Bibliografia Recomendada:

BERGER, P. L. e LUCKMAN , T.. A Construção Social da Realidade, 26ª edição. Petrópolis: Editora Vozes, 1985.
GOFFMAN, Erwing. Estigma – Notas sobre a Manipulação da Identidade Deteriorada, 4ª edição.Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos Editora S.A., 1988.
HALL, Edward T. A Dimensão Oculta, Lisboa (Portugal): Relógio D’Agua Editores, 1986.
LELOUP¸Jean-Yves. O Corpo e Seus Simbolos, 7ª edição. Petrópolis: Editora Voxes, 2000.
MUNANGA, Kabengele. Uma Abordagem Conceitual das Noções de Raça, Racismo, Identidade, Etnia. Niteroi: EDUFF. 2000.
RABUSKE, Edvino A.. Antropologia Filosófica, 8ª edição. Petrópolis: Editora Vozes, 2001.
WEIL, Pierre e TOMPAKOW, Roland. O Corpo Fala, 40ª edição. Petrópolis: Editora Vozes, 1986.

===> Continua em IV Parte - 4 de 4
------------------------------------------------------------------------------------------------------
(1) Fisioterapeuta - IBMR; Mestre em Motricidade Humana - UCB/Capes; Professor Mestre Adjunto I da UNIGRANRIO; Doutor em Filosofia da Religião - SETESA/Não Capes; Formação em Psicanálise Clínica - SFPC; Formação em Psicomotricidade Sistêmica - CEC; Formador-Didata em Terapia Psicomotora Analítico-Clínica - TEPAC do CEBRASC; Especialista em Educação - IBMR; Bacharel em Filosofia - SETESA; Bacharel em Teologia - SETESA; Bispo Primaz do Catolicismo Apostólico Salomonita - CAS/ICAI-TS(1902-2010).





Contextos Socioantropológicos
Módulo para Estudos
Prof. Felismar Manoel (1)

IV Parte - 4 de 4

4.0 – DIVERSIDADE E GLOBALIZAÇÃO

Nesta unidade, sempre que for oportuno, e houver tempo disponível, os alunos farão estudos envolvendo os temas propostos e sua relação de importância com o fazer profissional na área da saúde.
Poderão ser oficinas, seminários, ou outra qualquer modalidade que dê conta de desenvolver sua reflexão, visando a formação de conceitos a respeito dos temas propostos.
4.1 – O Multiculturalismo e a Globalização em uma Sociedade de Desigualdade Econômica Acentuada.
4.2 – As Questôes de Raça, de Etnia e de Gênero como Fatores de Discriminação Social.
4.3 – O Status Social e o Papel Social como Fatores de Privilegiação ou de Discriminação Social.
4.4 – O Desvio Social e a Estigmatização como Fatores de Discriminação Social.
4.5 – Os Portadores de Direitos Especiais, a Exclusão Social Discriminatória e as Ações Afirmativas.
4,6 – A Missão do Cuidador e a Humanização das Relações em Saude.
4.7 – A Complexidade da Pessoa Humana e a Fundamentação Holística na Atenção à Saude.
4.8 - Os Ethos Culturais, os Guetos dos "Diferentes" e a Alteridade e Solidariedade Humana.

Palavras Finais

Caros alunos! Os temas sobre os quais refletimos neste módulo (em 4 partes), tem uma profunda relação de pertinência com cada um de nós, sejamos os profissionais de saúde ou os nossos clientes, pois somos todos seres socioculturais, internalizamos conceitos e valores que nos mobilizam para atitudes pessoais que traduzem posições, comportamentos, modos de nos conduzir, reações psicobiológicas e tudo isso se relaciona com o nosso bem estar e qualidade de vida.
Consideremos todos esse dados como fatores que interferem nos processos da saúde ou da doença, podendo ser instrumentos que nos facilitarão no desempenho de nossas profissões. Desejo pleno êxito a todos! Prof. Felismar


(1) Fisioterapeuta - IBMR; Mestre em Motricidade Humana - UCB/Capes; Professor Mestre Adjunto I da UNIGRANRIO; Doutor em Filosofia da Religião - SETESA/Não Capes; Formação em Psicanálise Clínica - SFPC; Formação em Psicomotricidade Sistêmica - CEC; Formador-Didata em Terapia Psicomotora Analítico-Clínica - TEPAC do CEBRASC; Especialista em Educação - IBMR; Bacharel em Filosofia - SETESA; Bacharel em Teologia - SETESA; Bispo Primaz do Catolicismo Apostólico Salomonita - CAS/ICAI-TS(1902-2010).

Contextos Socioantropológicos - Módulo para Estudos


Prof. Felismar Manoel (1)

II Parte - 2 de 4

2.0 - – CULTURA E SOCIEDADE

Na unidade anterior percebemos que o ser humano tem presente em sí, elementos de natureza animal com os quais inicia o seu desenvolvimento e elementos próprios da socioculturalidade que ele cria, se ajusta e modifica permanentemente.
Nesta unidade vamos refletir sobre todos nós, como seres criadores de culturas, capazes de avaliar as realidades dos ambientes em que vivemos e de lhes atribuir valores, visando o bem estar pessoal e do grupo de convivência.

Vocabulário Técnico

Aéticos = Pessoas que se comportam com indiferença aos padrões ideais do grupo cultural.
Afinidades = Relação de pertinência boa que se estabelece entre pessoas, identificação.
Amorais = Pessoas que são indiferentes às normas ideais decondutas do grupo cultural.
Anáthema - (Ou anátema) = Condenação recebida da religião em razão do comportamento contrário ao padrão religioso aceito.
Antiéticos = Pessoas que se comportam de modo contrário aos padrões ideais do grupo cultural.
Caráter = Modo de ser verdadeiro de cada um de nós.
Cidadania = Refere-se ao atributo da pessoa alteritária em sociedade, dotada de direitos e deveres.
Cognoscitivo = Refere-se à capacidade de conhecer.
Cosmovisão = Modos de ver o mundo, de interpretar a realidade circundante.
Cultura = Tudo o que é produzido pelo ser humano.
Dinâmica da Alteridade = Refere-se a aceitação do outro como ele é, diferente de si, sem imposições, ou preconceitos e de se revelar ao outro, autenticamente, como si é.
Ethos = Palavra originária da língua grega, com a idéia de costumes locais.
Etnocentrismo Cultural Transitório = Posição de identificação com a cultura, na fase da juventude, ajudando na construção da identidade, formação do caráter e personalidades.
Etnocentrismo Social = Posição preconceituosa de sobrevalorização de uma cultura, julgando-a a melhor que as demais.
Ética da Convicção = Comportamento ostensivo baseado nas convicções pessoais.
Ética Humana = Diz-se do comportamento ostensivo baseado nas normas sociais de condutas aprovadas pela maioria cultural em uma sociedade.
Hethos = Palavra originária da língua grega, com a idéia da "dinâmica da localidade", para influenciar na formação da cultura da convivência do grupo.
Idiossincrasia = O que é próprio da singularidade de alguém, resultante de múltiplas influências, presente no seu jeito de ser.
Identidade Cultural = Relação de afinidades e identificação que ocorre entre o indivíduo e sua cultura.
Imorais = Fala-se de pessoas que adotam um comportamento ostensivo contrário ás normas de conduta adotadas pela maioria .
Interação Social = Aproximação colaborativa que ocorre entre as pessoas que vivem em comunidades sociais.
Leis Positivas = Fala-se das leis sancionadas, ou outorgadas por autoridades legítimas.
Moral Etnocêntrica = Norma de conduta aprovada pelo grupo cultural e livremente internalizada.
Moral Social = Norma de condutas aprovada pela maioria das culturas da sociedade.
Multiculturalidade = Existência de múltiplas culturas em uma sociedade convivendo em harmonia e colaboração.
Monocultural = Refere-se a sistema social onde predomina uma única cultura.
Personalidade = Modos de ser dos individuos diante das várias situações, ou circunstâncias, revelando traços do caráter pessoal.
Processos Sociais = Fases que ocorrem com as pessoas, na convivência comunitária, podendo ser tanto associativo, quanto dissociativo.
Relativismo Cultural = Conceito antropológico de que as culturas são sempre úteis para seus praticantes formarem identidades, caráter e personalidade, não havendo uma cultura melhor que outra, sendo as mesmas, apenas diferentes entre si.
Símbolos = Significantes de algo, através de um sinal arbitrário.
Subjetividade = O que é singular em cada um, fazendo de nós indivíduos únicos, sem outro igual.

2.1 - Hethos Local, Visão de Mundo, Valores e Bem Comum.

Convivência Local Compartilhada - Existe uma dinâmica na vida compartilhada, quando habitamos em uma mesma localidade, convivendo uns com os outros. Vivendo nessa localidade juntamente com outros, temos a tendência de interpretar a realidade à nossa volta, dando-lhe sentido de valor. Achamos que algumas coisas são boas para nós, como individuos, grupos ou comunidade, enquanto achamos que outras coisas não são boas. Aprovamos certas realidades existentes, enquanto condenamos outras. Este é o nosso juizo de valor, que no conjunto de conceituações vai criar a cultura local.
Os gregos antigos usavam a palavra hethos para designar a realidade da dinâmica desta vida compartilhada em uma localidade com uma mesma visão de mundo, agregada a valores, visando o bem geral do grupo, e usavam a palavra ethos para designar os costumes que se observava na vida dessa comunidade a partir desses valores cultivados ostensivamente.
Esse modo de interpretar as realidades do ambiente, os fatos e atos da vida do grupo, os fenômenos naturais, as interpretações da vida, do mundo; esse modo geral de interpretar as coisas, constitui a cosmovisão, ou visão de mundo dos que ali formam uma comunidade.

Esses conceitos construídos pelos que compartilham a vida local, são agregados às idéias de que são bons, ou são maus para a vida da maioria dos que ali vivem, constituindo seus valores culturais.
Esse conjunto de “verdades” construidas pelo grupo local, passa a constituir a sua cultura, aquilo que é aceito e cultivado pelo grupo como certo, o melhor , o que convém àquela comunidade, pois são esses valores que garantem o bem geral do grupo.

2.2 –Identidade Cultural, Moral Etnocêntrica, Ética da Convicção e Socialização da Convivência.

Esta cultura local passa a ser admirada pelas novas gerações que com ela se identificam. As crianças e jovens percebem que seus valores são bons e constroem suas referências a partir deles; criam com eles afinidades e identidade cultural.
Esses saberes e definições que surgem nessa localidade em consequência da sua cosmovisão, com seus valores , seus símbolos e significâncias, constitui o patrimônio cultural com o qual o grupo vai se identificar e viver , como modos de ser, em vida compartilhada socialmente.

Essa identificação é significativa para que os indivíduos construam suas subjetividades, tanto cultural como de gênero, que serão manifestas pelas idiossincrasias pessoais. Nesse sentido vai surgir aí um certo etnocentrismo cultural transitório, considerando esta cultura como significativa para cada um, ajudando seus membros na construção do caráter e estruturação da personalidade, principalmente na fase da adolescência.
Fala-se de etnocentrismo cultural transitório, porquanto é util para a construção da identidade cultural, principalmente na juventude, mas que não deve prevalecer como etnocentrismo social, por ser esse uma postura preconceituosa, que se julga melhor que outros sistemas culturais; deve-se ceder lugar ao relativismo cultural, quando da convivência com outros padrões culturais diferentes, pois o mesmo afirma que todas as culturas, mesmo sendo diferentes, são úteis para seus praticantes.
A cultura local construída e alimentada pelas pessoas visando o bem geral da comunidade, faz surgir alguns princípios, como normas de condutas preferidas para aqueles que ali vivem. Essas normas de condutas preferidas pelo grupo, quando são aceitas e internalizadas livremente por seus membros, passam a constituir a moral etnocêntrica dessas pessoas.
Em consequência dessa moral etnocêntrica livremente internalizada pelos membros do grupo, surgirão também os padrões de comportamentos livremente aceitos, classificados como ética da convicção desse grupo cultural que ali compartilha a experiência da vida em comunidade.
A socialização da convivência ocorrerá, através das instituições sociais adotadas, como a familia, a escola, a igreja, o estado, etc., cuidando de consolidar os ideais ali elaborados, em favor do bem estar geral da comunidade.
Quando convivemos em uma sociedade compostas por diversas comunidades, de modo multicultural, a convivência nossa com outras culturas, com suas diferenças de simbolos, significados e valores, não deve ser motivos para uma inibição de nossa cultura internalizada, a cultura que solidifica nossas convicções; também não deve nos levar ao desrespeito pela cultura dos outros, diferentes da nossa, pois a convivência harmoniosa com as diferenças e os diferentes enriquece a sociedade humana, tornando-a mais solidária e fraterna.

Na convivência com outras culturas deve-se dar lugar a ideia do relativismo cultural, que afirma ser as culturas , nem melhores nem piores umas em relação às outras, sendo as mesmas apenas diferentes entre si.

2.3 – Comunidade, Dinâmica da Alteridade e Cidadania.

Em uma comunidade social poderá haver diversos grupos sociais de convivência, mas há um certo vínculo afetivo unindo as pessoas, além de certos limites territoriais; há aí uma tendência da continuidade do modo de vida de uma geração com outra; as pessoas tendem a ter um estilo de vida que vai do berço ao túmulo; a proximidade física permite vínculos mais significativos.

É nesse ambiente que surgirá a dinâmica da alteridade orientando as relações interpessoais, ajudando a conhecer-se melhor através do outro , diferentes nas subjetividades, mas um ser igual ao outro em direitos e deveres (cidadania).
A alteridade é uma relação dialogal que se estabelece entre duas pessoas, - entre um eu e um tu. Trata-se de uma relação igualitária, ordeira e equilibrada; nenhuma das partes se sobrepõe à outra de nenhuma forma ; a relação entre as duas pessoas se estabelece em prol de uma terceira relação, que poderá ser uma causa comum, um ideal, ou algo a ser construido em conjunto.
O cultivo da alteridade produz a verdadeira cidadania, onde se protege e cumpre direitos e deveres, gerando a solidariedade, a paz e a convivência mais humana e fraterna.

2.4 – Sociedade, Moral Social, Ética Humana e Lei Positiva.

A sociedade se caracteriza pela convivência em um espaço onde há um conjunto de leis e regulamentos racionalmente elaborados. As relações sociais tendem a ser formalizadas e impessoais. Ai os individuos não dependem uns dos outros para seu sustento e estão menos comprometidos moralmente entre si.
A sociedade é composta de agrupamentos humanos, diversas comunidades sociais, onde predominam contatos sociais secundários e interpessoais, com uma complexa divisão do trabalho e forte presença do Estado, que é sustentado por forte aparelho burocrático.

Nas sociedades tem lugar a multiculturalidade, pois diferentes comunidades culturais as compõem. É aí que vai conviver cidadãos de diversos matizes culturais com seus diferentes costumes, seus valores, suas morais etnocêntricas e suas respectivas éticas das convicções.
Nesse conjunto variado de normas de condutas e padrões de comportamento de cada comunidade cultural, em constantes contatos de comunicação , aproximação e convivência das diferenças, além de melhor conhecer uns aos outros, reforça-se normas de condutas que são comuns, ou que se adequam aos diferentes grupos culturais, passando a ser aceitos e constituídos como moral social.
De modo semelhante ocorre com os diferentes padrões de comportamentos ostensivos, das éticas das convicções dos variados grupos culturais, facilitando a identificação daqueles pontos que são similares nas diferentes éticas, compondo pontos em comum, ou que se adequam à maioria dos grupos culturais, passando a constituir a ética humana.
O Estado ao elaborar as Leis Positivas nas sociedade multiculturais para o controle da ordem, o faz em sintonia com a moral e a ética comum da sua população, considerando-se a moral social e a ética humana comumente reconhecidas.
Em uma sociedade, ou mesmo nas comunidades sociais , ou grupos culturais, surgem membros do grupo que se tornam indiferentes às normas de condutas e aos padrões de comportamento, constituindo-se nos amorais e aéticos.
Por outro lado, ocorrem aqueles que se colocam contra as normas morais e contra os padrões éticos aceitos, sendo considerados imorais e antiéticos.
Esses imorais e antiéticos trazem grave prejuizo a normalidade da vida comunitária e social, levando o Estado a elaborar as Leis Positivas, no sentido de impor a ordem e normalizar a vida coletiva.
O cumpridor da lei é o cidadão de bem, regularmente aceito e recomendado na vida social. O descumpridor da lei é considerado marginal, meliante , ou criminoso, sendo punido pelo Estado que detém o poder de polícia.
Também as Igrejas (as religiões), que se organizam como instituições de direito privado, elaboram suas leis positivas para ordenar a vida dos seus membros no seio da comunidade, sendo os cumpridores dessa lei considerados crentes ou fieis, bem aceitos, enquanto os descumpridores são considerados anáthema e geralmente mal vistos pela comunidade.

É nos grupos culturais, nas comunidade sociais e nas sociedades que ocorrem a interação social , podendo ser de pessoa a pessoa, de pessoa a grupo, e de grupo a grupo, supondo assim, a existência de reciprocidade nas ações entre individuos.
Também ocorrem os processos sociais podendo ser processos associativos, como cooperação, acomodação e assimilação, que estabelecem formas de ações por esforço comum, convivência harmoniosa e consenso no grupo em prol do bem comum; ou processos dissociativos, como competição e conflito, quando relacionados a formas de divergência, oposição e querelas, que podem se manifestar de modos diferentes, desarmonizando a convivência.
Os profissionais de saúde, quando desenvolvendo missões de saúde em outros paises, ou outras culturas, devem estar atentos; pois existem repúblicas monoculturais, onde não se permitem outras manifestações culturais; suas respectivas morais etnocêntricas e éticas das convicções, são , nesses casos, impostas como moral social e ética humana.
Um bom indicativo para o profissional de saúde, nessas situações acima referidas, é, em primeiro lugar, observar os costumes praticados pela população e respeitá-los; em segundo lugar , procurar conhecer os principios que norteiam tais normas de condutas e padrões de comportamentos; pois assim, estará conhecendo a moral social e a ética humana, adotada por aquela monocultura; e por último, conhecer a lei positiva que vigora naquela localidade.

É sempre bom e até imperativo, que os profissionais de saúde sejam cumpridores da lei do pais ou nação onde estiverem exercendo suas profissões.

Ainda é conveniente uma reflexão sobre as estratificações sociais.
A estratificação social é o agrupamento dos membros de uma sociedade em camadas ou estratos superpostos e hierarquizados segundo algum critério de importância sociológica. Existem sociedades nas quais os seus estratos se fazem por castas, como acontecia no inicio do Brasil Colônia, onde havia o povo, o clero e a nobreza e ainda se vislumbra alguma presença deste sistema em alguns paises, como na India.
Em nossa sociedade atual capitalista, consumista, prevalece o sistema de classes sociais baseada no poder econômico, como se houvesse "mais valia" em quem tem o maior poder aquisitivo. Esse tipo de sociedade geralmente se perde no "ter", ignorando o "ser", embora os valores confessados em nossa civilização ocidental, de origem judaico-cristã, sejam pelo ser, afirmando-se na cidadania jurídica, filosófica e cristã.


Em nossa sociedade fala-se em classe baixa, classe média e classe alta, podendo ser pensada em forma de uma pirâmide social, onde a base muito mais ampla é formada pela classe baixa dos assalariados, um pouco acima, no centro da pirâmide, em número menor situa a classe média e acima, no topo da pirâmide fica a classe alta, de maior poder econômico, composta com um menor número de pessoas. Este tipo de sociedade sustenta um sistema desequilibrado de distribuição das riquezas do país.
Embora, teoricamente exista a mobilidade social, permitindo que seus elementos migrem de uma situação para outra, sabe-se que é muito difícil os elementos da classe baixa, mais ampla, migrarem para a classe média e classe alta, sendo talvez os estudos superiores e técnicos especializados, o meio mais eficiente para permitir a ascensão social no Brasil atual.

Questionário – Para fixar o conhecimento, consulte o texto acima e responda as questões que seguem:

1 - Diferencie os conceitos de hethos e ethos.
2 - O que quer dizer identidade cultural?
3 - Qual a diferença entre etnocentrismo cultural transitório e etnocentrismo social?
4 - O que é relativismo cultura?
5 - Qual a diferença entre comunidade social e sociedade?
6 - O que é a dinâmica da alteridade?
7 - Diferencie moral etnocêntrica de moral social e ética da convicção de ética humana.
8 - O que é estratificação social?

Bibliografia Recomendada:

DIAS, Reinaldo. Introdução à Sociologia. Reinaldo Dias, São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005.
HELMAN, Cecil G. Cultura, Saude e Doença, 4ª edição. Porto Alegre: ArtMed, 2003.
LARAIA, Roque de Barros. Cultura – Um Conceito Antropológico, 22ª edição. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.
OLIVEIRA, Pérsio Santos de. Introdução à Sociologia. São Paulo: Editora Ática, 2004.

===> Continua em III Parte - 3 de 4
----------------------------------------------------------------------------------------------------
(1) Fisioterapeuta - IBMR; Mestre em Motricidade Humana - UCB/Capes; Professor Mestre Adjunto I da UNIGRANRIO; Doutor em Filosofia da Religião - SETESA/Não Capes; Formação em Psicanálise Clínica - SFPC; Formação em Psicomotricidade Sistêmica - CEC; Formador-Didata em Terapia Psicomotora Analítico-Clínica - TEPAC do CEBRASC; Especialista em Educação - IBMR; Bacharel em Filosofia - SETESA; Bacharel em Teologia - SETESA; Bispo Primaz do Catolicismo Apostólico Salomonita - CAS/ICAI-TS(1902-2010).