Prof.
Felismar Manoel (1)
III
Parte - 3 de 4
3.0
- – REPRESENTAÇÃO SOCIAL DA REALIDADE
Considera-se
como realidade
tudo que tem existência em nosso mundo cognoscitivo,
seja da existência material, social, cultural, espiritual; coisas
concretas, ou abstratas fazem parte da realidade e podem ter
representação social para nós, dependendo do como nós vamos
apreender e significar aquela realidade internamente.
Vocabulário
Técnico
Aculturação
= Processo de aprendizado cultural na fase adulta.
Autorreflexão
= Capacidade de refletir sobre si mesmo.
Cognição
= Faculdade que se tem de conhecer as coisas.
Cognoscitivo
= Refere-se a capacidade de aquisição de um conhecimento qualquer.
Corporeidade
Humana
= A dimensão corporal que permite o ser humano se manifestar no
mundo e aí criar a cultura.
Consciente
= Em psicanálise, a dimensão humana que permite ao Ego situar-se
e situar as coisas.
Contra-transferência
= Fala-se da interferência terapêutica, quando o terapeuta absorve
a projeção do cliente e vivencia o papel de modo pessoal, em razão
das suas carências.
Cultura
= Tudo que o ser humano faz, ou produz. Pode-se ter várias
localizações: diz-se intra-orgânica quando se situa no interior
das pessoas; diz-se inter-orgânica quando se localiza entre as
pessoas; e diz-se extra-orgânica quando se localiza nos objetos
materiais.
Deontologias
Profissionais =
Fala-se do que é conveniente para a profissão, seus profissionais e
os clientes. É errôneamente denominados “códigos de éticas
profissionais”.
Distanásia
=
Fala-se de uma dispensação terapêutica sofrida, desnecessária.
Empoderamento
= Fala-se do processo mobilizador, educativo e de envolvimento das
pessoas para assumir certos papéis na comunidade onde vive.
Endoculturação
= Processo de aprendizado cultural na fase infantl.
Endorfinas
e Encefalinas
= Variedades de substâncias químicas produzidas pelo corpo,
mediante certos padrões mentais sustentados pelas pessoas.
Estigmata
= Fala-se da pessoa estigmatizada pela sociedade, que se identifica
com a condição discriminada e assume tal papel, deteriorando sua
identidade.
Estigmatização
= Discriminação pessoal exercida pela sociedade, que gera exclusão
social.
Eutanásia
=
Fala-se de uma morte sem sofrimento, gerenciada pelo médico. É
ato crimonoso na maior parte do mundo.
Inconsciente
= Em
psicanálise, dimensão humana onde fica o material recalcado
resultante das pulsões do Id interditadas pelo Superego, ocasionando
as neuroses.
Ideais
= Projeções, desejos, sonhos, propósitos, ou coisas que as
pessoas empenham em realizar, de natureza superior, ou transcendente.
Linguagem
Corporal
= Gestuália sinalizadora de desejos ou intenções não
verbalizadas, mas que o corpo projeta involuntariamente, por
diferentes semantemas.
Motricidade
Humana (Ciência da)
= Emerge da corporeidade humana para realizar a intencionalidade da
pessoa, construtora de sua práxis no mundo.
Obstinação
Terapêutica =
Atitude do profissional de saúde diante de quadros terminais de
clientes, que insiste na prolongação da vida através de
medicamentos e aparelhos, mesmo sem nenhum prognóstico de melhora
ou cura.
Ortotanásia
=
Fala-se de uma morte natural para a pessoa, sua família e sua
cultura, assistida com cuidados paliativos pelos profissionais de
saúde, para evitar ou minorar o sofrimento.
Projeções
Transferenciais
= Certas carências emocionais do cliente que são projetadas para
seu terapeuta quando se desenvolve a relação terapêutica.
Proxemia
= Refere-se a uma área de saber que estuda as reações
inconscientes e conscientes, que podem ser desencadeadas quando se
ultrapassa certas distâncias entre os corpos do terapeuta e do
cliente.
Psiconeuroimunologia
=
Ciência que estuda as relações de interferências do mundo das
crenças pessoais influenciando os mecanismos de defesas orgânicas e
os estados de saúde.
Pulsões
Instintivas Libidinais
= Impulso interno para as atividades de natureza sexual.
Semantemas
Corporais =
Sinais significantes que nossos corpos produzem, de modos
inconscientes ou conscientes.
Socialização
Primária
= Processo de aprendizado dos modos sociais de ser desenvolvido
durante a infância.
Socialização
Secundária
= Processo de aprendizado dos modos sociais de ser na fase adulta.
Sujeito
Suposto Saber
= Certa projeção que os clientes têm, com relação aos
profissionais de saúde que lhes oferecem cuidados, como se eles
soubessem sempre as soluções para seus problemas.
Vassalagem
= Submissão, como se fossem servos.
Vida
Gregária =
Vida em grupo, geralmente dos mamíferos.
Volição
=
Faculdade que refere-se a capacidade de querer.
3.1-
Localização das Culturas: Socialização Primária e
Endoculturação; Socialização Secundária e Aculturação.
As
culturas locais tem uma estreita relação com a realidade
existencial do ambiente e se alojam de modo diversificado nas
pessoas. É através da cultura
intra-orgânica, a
cultura que se localiza no interior das pessoas,
que os individuos dão significância social para os atos, os fatos,
as crenças, os costumes, e tudo que faça parte da realidade
experienciada no ambiente onde vivem. Aí, nesse espaço
privilegiado, as pessoas vão compartilhar sentidos, significados,
simbolizações, valores, através da socialização da convivência.
A
socialização
primária
acontece normalmente na infância, mas pode se repetir mais tarde,
na vida adulta. Trata-se de uma educação bem sucedida .
Os
agentes da socialização primária podem ser os pais , ou outras
pessoas, com as quais as crianças se identificam. São os "outros
significativos"
para as crianças, sendo que elas assumem o mundo deles como se fosse
simplesmente o mundo, sem notar que se trata de um mundo filtrado
pelo modo de ver e sentir do outro significativo.
Além
do aprender cognoscitivo, a socialização primária inclui a
ligação emocional com o outro significativo, uma identificação e
absorção de suas atitudes, ajudando no despertar de sua própria
personalidade, na descoberta do seu eu, em uma identidade coerente e
plausivel pela localização em um mundo social.
A
socialização primária cria uma abstração crescente das atitudes
e papéis, segundo Rabuske. O
individuo se identifica com a sociedade, aprende a viver em
sociedade.
Simultaneamente
com a socialização primária ocorre o processo de endoculturação,
quando a criança vai aprender a cultura local e familiar, seus
significados, seus modos de ser, seus valores, internalizando o modo
de ser próprio daquela cultura específica, com a qual vai criar
identidade e ajustar o seu caráter e personalidade.
A
socialização
secundária
ocorre mais tarde, levando em conta a socialização primária,
quando o individuo já tem uma personalidade formada e um mundo já
internalizado. Ela é a interiorização de modos institucionais de
agir específicos, na aquisição de conhecimentos de funções
específicas e do comportamento adequado a elas.
Pode-se
tomar como exemplos típicos da socialiazação secundária, os
aprendizados dos modos específicos de comportamentos profissionais,
as mudanças relacionadas com os modos de ver as coisas, ou de se
comportar, quando das conversões de uma religião para outra, de uma
ideologia para outra, de uma escola filosófica para outra.
Como
ocorre no caso da socialização primária e a endoculturação,
também na socialização secundária pode ocorrer o processo da
aculturação.
A
aculturação é o processo do aprendizado cultural em uma fase da
vida adulta, ou seja, quando já se tem o uso da razão. O adulto
irá confrontar-se com outras culturas, outras ideologias, outras
filosofias ou religiões diferentes daquelas que aprendeu em sua
infância, principalmente nas sociedades multiculturais e
globalizadas dos nossos dias, onde há diferentes visões de mundo,
ou modos de ser e existir diferentes. Isto oferece a oportunidade
de se fazer escolhas e mudanças para diversificados padrões de
vidas.
Quando
fazemos essas mudanças, passamos por esse processo de aculturação
aprendendo novos valores, novas formas de ver o mundo.
No
Brasil multirreligioso, por exemplo, a ocorrência das conversões
religiosas verdadeiras, impõe aos convertidos, um novo aprendizado
para a ressignificação das coisas, uma nova visão com a aquisição
de novos valores, novos comportamentos, um verdadeiro processo de
aculturação e socialização secundária.
A
cultura com seus símbolos, seus falares, seus significados e
valores, pode ter localizações diferenciadas:
- Quando a cultura se localiza no interior do ser humano, formando ideias, conceitos, valores, ela é denominada cultura intra-orgânica e ajuda a formar padrões mentais nas pessoas. Esses padrões mentais podem interferir nos mecanismos psiconeuroimunológicos e influir nos seus estados de saúde;
- Quando a cultura se localiza entre as pessoas, facilitando as relações e entendimentos sociais, através do uso de símbolos, como alianças, fardas, hábitos ou distintivos religiosos, denomina-se cultura inter-orgânica;
- Ainda quando a cultura se localiza nos objetos materiais, como estilo próprio de uma produção, como um tapete persa, uma louça chinesa, uma construção tipo colonial, etc., trata-se nesse caso de uma cultura extra-orgânica, por localizar-se fora dos organismos humanos, mas nos objetos materiais.
A
Evolução e Desenvolvimento da Consciência
A
evolução da consciência humana acontece durante o desenvolvimento.
O conceito de desenvolvimento envolve o ser humano, indo da
concepção, infância, adolescência, juventude, fase adulta e
envelhecimento, terminando com a morte. Certas culturas
espiritualistas acreditam que o desenvolvimento humano continua após
a morte, no plano espiritual. Durante essas fases do
desenvolvolvimento humano, ocorrem os principais eventos da
evolução da consciência.
Embora
o ser humano tenha as pulsões instintivas interferindo de modo
inconsciente
no seu comportamento, é através dos seus atos conscientes que ele
será julgado quando da sua participação na vida social.
Na
visão da psicanálise o ser humano é portador de três dimensões
em sua consciência, possuindo um patamar inconsciente, outro
préconsciente e o consciente. Nos tempos atuais fala-se ainda em um
patamar supraconsciente, embora pouco fundamentado academicamente.
É
nas diferentes etapas do desenvolvimento do ser humano, desde a sua
concepção no ventre materno, mas principalmente na infância, que
ele desenvolverá as fases da consciência presente no seu caráter
e na sua estrutura da personalidade, contribuindo para isso os
fatores biológicos, socioculturais, ambientais e a história de
vida.
3.2
– Relações Étnico-Raciais no Brasil – Direito às Afirmações
Étnicas e Culturais dos Povos
O
Brasil é uma Nação que desde o seu nascedouro como Pátria de um
Povo, abrigou diversas raças e etnias, tendo construído a sua
cultura, os seus valores, a sua economia, graças ao concurso de
todos esses concidadãos, às vezes com o profundo sofrimento de
alguns deles.
Quando
aconteceu o descobrimento do Brasil pelos navegadores portugueses, o
nosso território era habitado por várias etnias indígenas.
Compunham
os índios diferentes nações com várias línguas, visões de mundo
e repertório cultural próprio, tendo nossos primeiros mentores
ignorado esses cabedais, nos deixando em vacuidade desses
patrimônios.
Infelizmente
os missionários e estudiosos aqui no Brasil, não fizeram registros
dos diferentes sistemas de linguagens, suas culturas e modos de
interpretar a realidade, às suas diferentes visões de mundo.
Houve
um esforço missionário de descaracterização de seus valores
culturais, com imposição dos valores cristãos europeizados, como
ainda ocorre atualmente com indução de valores americanizados.
Ao
lado dos índios brasileiros, nós tivemos a importação de povos
africanos, também de diversas etnias e nações, com valores
culturais diferenciados entre si. Aqui foram eles acolhidos na
condição de escravos, sem nenhum investimento valorizativo de suas
identidades e caracerísticas culturais por parte de nossos
missionários e autoridades, com uma preocupação apenas na
exploração da mão de obra produtiva.
A
economia brasileira muito deve ao contingente de mão de obra
africana, bem como nossos costumes e hábitos de celebrar a vida e
conviver em comunidade.
O
Brasil ainda é hoje um cenário de convivência com povos de
diferentes etnias, culturas e visões de mundo, constituindo um
excelente cenário para construir uma democracia etnorracial pacífica
e ordeira, que na realidade ainda não existe. Entretanto, sendo um
país com convivência pacífica de uma população pluricultural e
multiétnica, construtora de suas grandezas, tem o dever de promover
as suas respectivas inclusões, principalmente de modo reparador,
naquelas que foram espoliadas e vilipendiadas em suas identidades.
O
cidadão brasileiro precisa ser um indivíduo de alteridade, que
relacione bem com o outro diferente de si, mas que tenha consciência
que todos são portadores dos mesmos direitos e deveres, produzindo
no conjunto uma nacionalidade em abertura, como cidadão do planeta.
O
encurtamento das distâncias oportunizado pelas facilidades dos meios
de comunicação e pelos modernos recursos de transportes, tem
transformado o nosso planeta terra em uma aldeia global.
Nós
brasileiros e os que aqui conosco compartilham a convivência,
necessitamos nos exercitar na construção de uma sociedade que nos
garanta, a nós todos, o direito de ser, aprender e ampliar
conhecimentos, sem negar a si mesmos e ao grupo etnorracial a que
pertencemos, sem a obrigatoriedade de adotar costumes, idéias e
comportamentos que nos sejam adversos; oxalá possamos concretizar um
dia a sonhada democracia étnorracial no Brasil.
Este
é um dos melhores ideais dos povos da terra, que anseiam pela
convivência na paz e na fraternidade, geradoura de uma cidadania da
solidariedade entre os povos e as nações do planeta terra.
3.3
– Crenças Humanas e Conceitos de Vida e de Morte.
Os
seres humanos são sociais e culturais e portanto são seres que tem
um principio de vida
gregaria, inclusive
compartilhando culturas.
As
culturas se caracterizam por firmar certos conceitos e definições
das coisas do dia-a-dia das pessoas. Daí surgem as crenças
pessoais sobre os eventos da vida.
O
nascimento é um evento que faz parte, para a maioria das pessoas e
culturas, do inicio da vida, sendo portanto, recebido com alegria;
existem outras pessoas que acham que a vida tem origem antes do
nascimento e depende da vontade de um Ser Superior aos humanos; há
uma certa dimensão sagrada na variedade dessas concepções, por
isso a celebram com alegria de modo bem generalizado.
O
mesmo ocorre também com o evento da morte orgânica.
As
diferentes culturas tem crenças diferentes sobre o nascer e o
morrer, sobre o fenômeno da vida e o fenômeno da morte. Existem
diferentes construções culturais fornecendo diferentes padrôes de
crenças sobre vida e sobre morte.
Os
profissionais de saúde são também portadores de crenças
culturais sobre a vida e sobre a morte, partilham as celebrações
da alegria pela vida e o luto pela morte, cada um com seus
respectivos padrões de crenças culturais.
Ao
lidar com esses fenômenos no dia-a-dia de nossas profissões, é
preciso que tenhamos cuidado para não impor aos outros, nossos
clientes ou pacientes, os padrões de nossas convicções e que
aprendamos a respeitá-los em suas convicções diferentes das
nossas.
Os
pacientes tem para nós profissionais de saúde, um olhar idealizado,
na condição de “sujeito
suposto saber”,
condição esta atribuída a todo profissional que detém alguma
qualificação para atender o outro necessitado do cuidado
profissional.
Há
uma certa submissão, quase vassalagem,
aos profissionais cuidadores, por parte daqueles que estão sofrendo
de alguma maneira.
Existe
uma dimensão no exercicio de nosso livre arbitrio, que não é
normatizada pelos códigos de deontologias
profissionais.
Assim,
é preciso critério no respeito pela autonomia da pessoa sob os
nossos cuidados.
Nós
lidamos com altas tecnologias que possibilitam a banalização da
vida e da morte.
A
Bioética Brasileira, conforme exposta na Resolução 196/96 do
Conselho Nacional de Saúde – MS, oferece um bom referencial para
orientar as relações envolvendo seres humanos.
Existem
seguras reflexões nos dias atuais orientando sobre temas que são
complicados, como a obstinação
terapêutica,
a distanásia
e da eutanásia,
com uma razoável aceitação consensual sobre a ortotanásia,
tanto
pelas diferentes religiões, quanto pelas profissões regulamentadas.
É
preciso maduras reflexões sobre os temas morais e éticos que
norteiam a sociedade, com relação ás questões da vida e às
questões da morte, para que o profissional de saúde possa aliar a
sabedoria ao conhecimento técnico e científico e, então,
assumir uma atitude responsável.
3.4
– Corporeidade, Saúde e Doença.
A
física define corpo como algo que tem massa e que ocupa lugar no
espaço. Ora, o corpo animal tem massa e ocupa lugar no espaço
enquadrando-se no conceito da física, entretanto ele vai além dessa
definição, pois ele tambem é
bios,
manifestando os diferentes processos biológicos.
Normalmente
o designamos de corpo orgânico, pois os entes
animais se manifestam por meio dele. Os animais não humanos são
corpóreos, vivem através dos processos biológicos ocorridos no
corpo e corporalmente podem ter saúde ou ter doenças, mas não se
tem informações que esses animais façam uma reflexão sobre si
mesmos, sobre as suas próprias condições.
Com
o homem e a mulher a questão é um pouco diferente, pois são
capazes de autorreflexão,
de terem consciência de si mesmos, de elaborarem projetos agindo
na transformação da própria concepção de mundo que ele cria e
utiliza.
Além
do animal, o homem e a mulher assumem a dimensão de ser humano,
portador de
ideais,
cultivador de sentimentos elevados, praticantes das virtudes que
enriquecem a convivência humana na terra.
Este
ser humano que focamos tem sua existência no corpo, ele é um ser
corporal. Nessa condição não falamos mais em corpo humano , mas
sim em corporeidade
humana.
É
pela corporeidade que o ser humano se manifesta no mundo. Ele é
carente do mundo, para no mundo realizar o seu projeto de existência.
É
através da corporeidade que o ser humano pode assumir a sua função
de sujeito da sua história no mundo onde ele vive.
Nos
processos de assistência à saúde das comunidades, quando
necessitamos trabalhar no empoderamento
da população, é nessa dimensão da corporeidade do cliente que
vamos investir, para que ele assuma a função consciente
de
ator naquele cenário comunitário onde vive, na construção das
melhorias que sua população carece.
A
dimensão da saúde ou da doença tem uma profunda relação com a
noção da corporeidade humana. Pois tanto a saúde, quanto a doença
se configuram como processos e que , portanto, ocorrem através de
fases sucessivas na corporeidade.
É
atraves da corporeidade que irá emergir a motricidade intencional do
ser humano, para agir na construção dos padrões de vida saudável,
na promoção e proteção da saúde, na prevenção das enfermidades
e na responsabilidade de investir na consulta e tratamento precoces ,
quando das doenças já instaladas.
A
pessoa humana é um ser de corporeidade, como também o é o
profissional de saúde, pela sua condição humana, ambos devendo
refletir sobre essa situação específica.
A
corporeidade ainda nos aponta para as “falas” do corpo. O
corpo se comunica através de gestos, atitudes corporais, posturas
corporais. A antropologia essencial relaciona muitas dessas
exteriorizações corporais com semantemas significantes, compondo às
vezes um verdadeiro "discurso" inconsciente, com fortes
vinculações à saúde mental.
É
possivel conhecer os semantemas
corporais,
com suas relações entre significantes e significados.
O
profissional de saúde deve procurar estudar um pouco sobre
limguagem
corporal,
treinar sua sensibilidade de observação para a percepção das
falas do corpo.
A
corporeidade nos assinala ainda para as barreiras da dimensão
espacial oculta do corpo.
Desde
os mamíferos e também nos pássaros, observa certas distâncias
corporais na vida de relação entre eles.
Também
entre nós, seres humanos, existem certas distâncias estudadas pela
Proxemia,
que são observadas e que inconscientemente ativam certas pulsões
instintivas, quando seus espaços são invadidos.
Os
profissionais de saúde, em sua maioria, invadem alguns desses
espaços quando do seu exercicio profissional, pela proximidade ou
toque corporal manipulativo no cliente.
A
proxemia
registra quatro espaços significativos dessa dimensão corporal
oculta:
o
espaço íntimo, do encostar ou tocar; o espaço pessoal, do
estar próximo ou encostar; o espaço social, da vênia ou do
aperto de mãos; e o espaço público, da "paquera", do
"ataque e defesa", da fuga. Esses espaços quando são
violados podem estimular pulsões
instintivas libidinais,
mesmo a nível inconsciente, possibilitando projeções
transferenciais
ou contra-tansferenciais,
tanto do cuidador quanto do cliente, interferindo na ação do fazer
terapêutico. Aconselha-se trabalhar a relação terapêutica de modo
técnico, profissional, e se necessário, sob supervisão
terapêutica.
Essas
distâncias também podem estimular respostas projetivas de estados
psiquicos mal resolvidos, tanto no cliente, quanto no cuidador, como
inibições, ansiedades, fugas, negações, etc., que podem
interferir em nosso fazer terapêutico.
O
profissional de saúde deve estar ciente desses potenciais internos
de cada um de nós, para um bom gerenciamento da relação
terapêutica no seu fazer profissional.
Os
estudos da proxemia comprovam a interferência dos padrões
socioculturais interferindo nessas distâncias, registrando a sua
presença em diferentes sociedades atuais, permitindo o estudos
de proxemia comparada.
3.5
– Influenciação dos Mecanismos Biológicos pelo Pensamento e
Ideação.
Todo
ser humano é portador de cultura. Todas as culturas, desde as mais
simples às mais elaboradas , mobilizam o pensamento para formar
ideias, conceitos, atitudes, etc, diante das questões das
realidades da existência, como elas são percebidas pelas pessoas.
O
sistema neurológico está constantemente ativando as áreas
cerebrais diversas, conforme forem as idéias e os conceitos
cultivadas na mente das pessoas.
As
culturas populares podem cultivar idéias de natureza positiva, ou
negativa (…vou ter sorte,…vou ser abençoado; ou de modo
contrário,…vou ter azar,… Deus vai me punir, …etc) e isto
influenciar a nossa bioquímica corporal em consequência das
ativações das áreas cerebrais, se com padrões mentais positivos,
ou negativos.
Nesses
exemplos acima, são ativadas áreas cerebrais da cognição,
da volição e da motivação.
Quando essas áreas são ativadas simultâneamente, elas ativam
também o hipotálamo,
que por sua vez estimula a produção de endorfinas,
encefalinas neuronais,
hormônios ativadores ou inibidores dos mecanismos imunológicos,
bem como a produção de células sanguíneas.
Assim
um pensamento ou ideia positiva, levará a produção de substâncias
vitalizantes e de hormônios ativadores pelo organismo, esses por
sua vez vão promover a euforia e as defesas orgânicas; já os
pensamentos ou idéias mentais de natureza negativa , levarão à
produção de substâncias deletérias e hormônios inibidores, que
acarretarão a depressão do sistema imunológico.
Pode-se
alimentar crenças culturais ativando a mente com padrões positivos
ou negativos, influenciando os mecanismos biológicos e alterando a
bioquímica humana a favor da saúde ou da doença.
Torna-se
oportuno aos profissionais de saúde, criar um clima de afirmações
positivas, sempre que isso se torna possivel, sem impor padrões
falsos que gerem ilusões e falsas esperanças nos doentes.
Por
outro lado não se pode, enquanto profissionais de saúde, valer da
nossa situação de “sujeito suposto saber” e seduzir o
cliente a aceitar nossas posições culturais como se elas fossem as
melhores e mais corretas.
3.6
– A Estigmatização, o Estigmata e os Profissionais de Saúde.
Em
nossa sociedade vivemos padrões de grande desigualdade social e
econômica. Temos um grande contingente de pessoas excluidas do
sistema social por padrões de beleza, questões de raça, de etnia,
de gênero, de classe social, de poder econômico, ou por ser
portador de direitos especiais, etc.
Essas
pessoas são excluidas e discriminadas com frequência no ordenamento
social, consideradas como cidadãos inferiores, ou de segunda
classe.
Elas
são vistas como se tivessem uma marca, uma cicatriz, uma rotulação
como se fossem inferiores, ou menos adequadas para funcionar na
sociedade.
Quando
ocorre esse fenômeno social, gerado e alimentado pela própria
sociedade, caracteriza-se a estigmatização.
A
estigmatização é uma visão social deteriorada da identidade da
pessoa, que traz um grande mal para a saúde social.
Muitas
pessoas que são estigmatizadas, acabam por se identificar com a
imagem inferiorizada criada para ele pela sociedade e se tornam
estigmatas,
ou por que aproveitam algum ganho secundário que essa posição lhe
garante, ou porque deixam deteriorar a sua identidade por vários
motivos da sua história de vida, assumindo e se identificando com o
padrão de "menos valia social".
A
maioria desses casos podem ser resgatados pelos profissionais de
saúde e reconduzidos a um padrão de vida mais digno e aceitavel.
A
grande dificuldade para erradicar essa situação é que a mudança
tem que ocorrer na sociedade, composta por todos os cidadãos.
É
preciso que se adote campanhas educativas, mobilização das pessoas
de boa vontade e ações afirmativas que construam uma sociedade
mais justa, mais solidária e responsável, sem alimentar um
etnocentrismo social.
Questionário
– Para fixar o conhecimento, consulte o texto acima e responda as
questões que seguem:
1
- O que é cultura intra-orgânica?
2
- Qual a diferença entre socialização primária e socialização
secundária?
3
- Qual a diferença entre endoculturação e aculturação?
4
- Quais os principais níveis de manifestação da consciência na
visão psicanalítica?
5
- Quais as principais etnias entram na formação da identidade
brasileira?
6
- Quais são os sentimentos dominantes por ocasião dos nascimentos
e por ocasião dos falecimentos?
7
- O que significa a frase "sujeito suposto saber"?
8
- Procure entender de modo pessoal, o que significa as palavras
eutanasia,
distanasia, ortotanasia e obstinação terapêutica.
8
- O
que quer dizer "corporeidade humana"?
9
- O que quer dizer "linguagem corporal"?
10
- Quais são os principais "espaços" das dimensões
corporais ocultas?
11
- Por que as culturas podem alterar nossa bioquímica corporal?
12
- O que quer dizer "estigmatização" e "estigmata"?
Bibliografia
Recomendada:
BERGER,
P. L. e LUCKMAN , T.. A Construção Social da Realidade, 26ª
edição. Petrópolis: Editora Vozes, 1985.
GOFFMAN,
Erwing. Estigma – Notas sobre a Manipulação da Identidade
Deteriorada, 4ª edição.Rio de Janeiro: Livros Técnicos e
Científicos Editora S.A., 1988.
HALL,
Edward T. A Dimensão Oculta, Lisboa (Portugal): Relógio D’Agua
Editores, 1986.
LELOUP¸Jean-Yves.
O Corpo e Seus Simbolos, 7ª edição. Petrópolis: Editora Voxes,
2000.
MUNANGA,
Kabengele. Uma Abordagem Conceitual das Noções de Raça, Racismo,
Identidade, Etnia. Niteroi: EDUFF. 2000.
RABUSKE,
Edvino A.. Antropologia Filosófica, 8ª edição. Petrópolis:
Editora Vozes, 2001.
WEIL,
Pierre e TOMPAKOW, Roland. O Corpo Fala, 40ª edição. Petrópolis:
Editora Vozes, 1986.
===>
Continua em IV Parte - 4 de 4
------------------------------------------------------------------------------------------------------
(1) Fisioterapeuta
- IBMR; Mestre em Motricidade Humana - UCB/Capes; Professor Mestre
Adjunto I da UNIGRANRIO; Doutor em Filosofia da Religião -
SETESA/Não Capes; Formação em Psicanálise Clínica - SFPC;
Formação em Psicomotricidade Sistêmica - CEC; Formador-Didata em
Terapia Psicomotora Analítico-Clínica - TEPAC do CEBRASC;
Especialista em Educação - IBMR; Bacharel em Filosofia - SETESA;
Bacharel em Teologia - SETESA; Bispo Primaz do Catolicismo Apostólico
Salomonita - CAS/ICAI-TS(1902-2010).
Contextos
Socioantropológicos
Módulo
para Estudos
Prof.
Felismar Manoel (1)
IV
Parte - 4 de 4
4.0
– DIVERSIDADE E GLOBALIZAÇÃO
Nesta
unidade, sempre que for oportuno, e houver tempo disponível, os
alunos farão estudos envolvendo os temas propostos e sua relação
de importância com o fazer profissional na área da saúde.
Poderão
ser oficinas, seminários, ou outra qualquer modalidade que dê conta
de desenvolver sua reflexão, visando a formação de conceitos a
respeito dos temas propostos.
4.1
– O Multiculturalismo e a Globalização em uma Sociedade de
Desigualdade Econômica Acentuada.
4.2
– As Questôes de Raça, de Etnia e de Gênero como Fatores de
Discriminação Social.
4.3
– O
Status
Social e o Papel Social como Fatores de Privilegiação ou de
Discriminação Social.
4.4
– O Desvio Social e a Estigmatização como Fatores de
Discriminação Social.
4.5
– Os Portadores de Direitos Especiais, a Exclusão Social
Discriminatória e as Ações Afirmativas.
4,6
– A Missão do Cuidador e a Humanização das Relações em Saude.
4.7
– A Complexidade da Pessoa Humana e a Fundamentação Holística na
Atenção à Saude.
4.8
- Os Ethos Culturais, os Guetos dos "Diferentes" e a
Alteridade e Solidariedade Humana.
Palavras
Finais
Caros
alunos! Os temas sobre os quais refletimos neste módulo (em 4
partes), tem uma profunda relação de pertinência com cada um de
nós, sejamos os profissionais de saúde ou os nossos clientes, pois
somos todos seres socioculturais, internalizamos conceitos e valores
que nos mobilizam para atitudes pessoais que traduzem posições,
comportamentos, modos de nos conduzir, reações psicobiológicas e
tudo isso se relaciona com o nosso bem estar e qualidade de vida.
Consideremos
todos esse dados como fatores que interferem nos processos da saúde
ou da doença, podendo ser instrumentos que nos facilitarão no
desempenho de nossas profissões. Desejo pleno êxito a todos! Prof.
Felismar
(1) Fisioterapeuta - IBMR; Mestre em Motricidade Humana - UCB/Capes; Professor Mestre Adjunto I da UNIGRANRIO; Doutor em Filosofia da Religião - SETESA/Não Capes; Formação em Psicanálise Clínica - SFPC; Formação em Psicomotricidade Sistêmica - CEC; Formador-Didata em Terapia Psicomotora Analítico-Clínica - TEPAC do CEBRASC; Especialista em Educação - IBMR; Bacharel em Filosofia - SETESA; Bacharel em Teologia - SETESA; Bispo Primaz do Catolicismo Apostólico Salomonita - CAS/ICAI-TS(1902-2010).