Prof.
Felismar Manoel (1)
II
Parte - 2 de 4
2.0
- – CULTURA E SOCIEDADE
Na
unidade anterior percebemos que o ser humano tem presente em sí,
elementos de natureza animal com os quais inicia o seu
desenvolvimento e elementos próprios da socioculturalidade que ele
cria, se ajusta e modifica permanentemente.
Nesta
unidade vamos refletir sobre todos nós, como seres criadores de
culturas, capazes de avaliar as realidades dos ambientes em que
vivemos e de lhes atribuir valores, visando o bem estar pessoal e do
grupo de convivência.
Vocabulário
Técnico
Aéticos
=
Pessoas que se comportam com indiferença aos padrões ideais do
grupo cultural.
Afinidades
= Relação de pertinência boa que se estabelece entre pessoas,
identificação.
Amorais
= Pessoas que são indiferentes às normas ideais decondutas do grupo
cultural.
Anáthema
- (Ou anátema) = Condenação recebida da religião em razão do
comportamento contrário ao padrão religioso aceito.
Antiéticos
= Pessoas que se comportam de modo contrário aos padrões ideais do
grupo cultural.
Caráter
= Modo de ser verdadeiro de cada um de nós.
Cidadania
=
Refere-se ao atributo da pessoa alteritária em sociedade, dotada de
direitos e deveres.
Cognoscitivo
=
Refere-se à capacidade de conhecer.
Cosmovisão
= Modos de ver o mundo, de interpretar a realidade circundante.
Cultura
= Tudo o que é produzido pelo ser humano.
Dinâmica
da Alteridade
= Refere-se a aceitação do outro como ele é, diferente de si, sem
imposições, ou preconceitos e de se revelar ao outro,
autenticamente, como si é.
Ethos
=
Palavra originária da língua grega, com a idéia de costumes
locais.
Etnocentrismo
Cultural Transitório =
Posição de identificação com a cultura, na fase da juventude,
ajudando na construção da identidade, formação do caráter e
personalidades.
Etnocentrismo
Social =
Posição preconceituosa de sobrevalorização de uma cultura,
julgando-a a melhor que as demais.
Ética
da Convicção =
Comportamento ostensivo baseado nas convicções pessoais.
Ética
Humana
= Diz-se do comportamento ostensivo baseado nas normas sociais de
condutas aprovadas pela maioria cultural em uma sociedade.
Hethos
= Palavra originária da língua grega, com a idéia da "dinâmica
da localidade", para influenciar na formação da cultura da
convivência do grupo.
Idiossincrasia
= O que é próprio da singularidade de alguém, resultante de
múltiplas influências, presente no seu jeito de ser.
Identidade
Cultural =
Relação de afinidades e identificação que ocorre entre o
indivíduo e sua cultura.
Imorais
= Fala-se de pessoas que adotam um comportamento ostensivo contrário
ás normas de conduta adotadas pela maioria .
Interação
Social
= Aproximação colaborativa que ocorre entre as pessoas que vivem em
comunidades sociais.
Leis
Positivas =
Fala-se das leis sancionadas, ou outorgadas por autoridades
legítimas.
Moral
Etnocêntrica
= Norma de conduta aprovada pelo grupo cultural e livremente
internalizada.
Moral
Social
= Norma de condutas aprovada pela maioria das culturas da sociedade.
Multiculturalidade
= Existência de múltiplas culturas em uma sociedade convivendo em
harmonia e colaboração.
Monocultural
=
Refere-se a sistema social onde predomina uma única cultura.
Personalidade
=
Modos de ser dos individuos diante das várias situações, ou
circunstâncias, revelando traços do caráter pessoal.
Processos
Sociais =
Fases que ocorrem com as pessoas, na convivência comunitária,
podendo ser tanto associativo, quanto dissociativo.
Relativismo
Cultural =
Conceito antropológico de que as culturas são sempre úteis para
seus praticantes formarem identidades, caráter e personalidade,
não havendo uma cultura melhor que outra, sendo as mesmas, apenas
diferentes entre si.
Símbolos
= Significantes de algo, através de um sinal arbitrário.
Subjetividade
= O
que é singular em cada um, fazendo de nós indivíduos únicos, sem
outro igual.
2.1
- Hethos Local, Visão de Mundo, Valores e Bem Comum.
Convivência
Local Compartilhada
- Existe uma dinâmica na vida compartilhada, quando habitamos em uma
mesma localidade, convivendo uns com os outros. Vivendo nessa
localidade juntamente com outros, temos a tendência de interpretar a
realidade à nossa volta, dando-lhe sentido de valor.
Achamos que algumas coisas são boas para nós, como individuos,
grupos ou comunidade, enquanto achamos que outras coisas não são
boas. Aprovamos certas realidades existentes, enquanto condenamos
outras. Este é o nosso juizo de valor, que no conjunto de
conceituações vai criar a cultura local.
Os
gregos antigos usavam a palavra
hethos
para designar a realidade da dinâmica desta vida compartilhada em
uma localidade com uma mesma visão de mundo, agregada a valores,
visando o bem geral do grupo, e usavam a palavra ethos
para
designar os costumes que se observava na vida dessa comunidade a
partir desses valores cultivados ostensivamente.
Esse
modo de interpretar as realidades do ambiente, os fatos e atos da
vida do grupo, os fenômenos naturais, as interpretações da vida,
do mundo; esse modo geral de interpretar as coisas, constitui a
cosmovisão,
ou visão de mundo
dos que ali formam uma comunidade.
Esses
conceitos construídos pelos que compartilham a vida local, são
agregados às idéias de que são bons, ou são maus para a vida da
maioria dos que ali vivem, constituindo seus valores
culturais.
Esse
conjunto de “verdades” construidas pelo grupo local, passa a
constituir a sua cultura,
aquilo que é aceito e cultivado pelo grupo como certo, o melhor , o
que convém àquela comunidade, pois são esses valores que garantem
o bem geral do grupo.
2.2
–Identidade Cultural, Moral Etnocêntrica, Ética da Convicção e
Socialização da Convivência.
Esta
cultura local passa a ser admirada pelas novas gerações que com ela
se identificam. As crianças e jovens percebem que seus valores são
bons e constroem suas referências a partir deles; criam com eles
afinidades
e identidade
cultural.
Esses
saberes e definições que surgem nessa localidade em consequência
da sua cosmovisão, com seus valores , seus símbolos
e significâncias, constitui o patrimônio cultural com o qual o
grupo vai se identificar e viver , como modos de ser, em vida
compartilhada socialmente.
Essa
identificação é significativa para que os indivíduos construam
suas subjetividades,
tanto cultural como de gênero, que serão manifestas pelas
idiossincrasias
pessoais. Nesse sentido vai surgir aí um certo etnocentrismo
cultural transitório,
considerando esta cultura como significativa para cada um, ajudando
seus membros na construção do caráter
e estruturação da personalidade,
principalmente
na fase da adolescência.
Fala-se
de etnocentrismo cultural transitório, porquanto é util para a
construção da identidade cultural, principalmente na juventude, mas
que não deve prevalecer como etnocentrismo
social,
por ser esse uma postura preconceituosa, que se julga melhor que
outros sistemas culturais; deve-se ceder lugar ao relativismo
cultural,
quando da convivência com outros padrões culturais diferentes, pois
o mesmo afirma que todas as culturas, mesmo sendo diferentes, são
úteis para seus praticantes.
A
cultura local construída e alimentada pelas pessoas visando o bem
geral da comunidade, faz surgir alguns princípios, como normas de
condutas preferidas para aqueles que ali vivem. Essas normas de
condutas preferidas pelo grupo, quando são aceitas e internalizadas
livremente por seus membros, passam a constituir a moral
etnocêntrica
dessas pessoas.
Em
consequência dessa moral etnocêntrica livremente internalizada
pelos membros do grupo, surgirão também os padrões de
comportamentos livremente aceitos, classificados como ética
da convicção
desse grupo cultural que ali compartilha a experiência da vida em
comunidade.
A
socialização
da convivência
ocorrerá, através das instituições sociais adotadas, como a
familia, a escola, a igreja, o estado, etc., cuidando de consolidar
os ideais ali elaborados, em favor do bem estar geral da
comunidade.
Quando
convivemos em uma sociedade compostas por diversas comunidades, de
modo multicultural, a convivência nossa com outras culturas, com
suas diferenças de simbolos, significados e valores, não deve ser
motivos para uma inibição de nossa cultura internalizada, a cultura
que solidifica nossas convicções; também não deve nos levar ao
desrespeito pela cultura dos outros, diferentes da nossa, pois a
convivência harmoniosa com as diferenças e os diferentes enriquece
a sociedade humana, tornando-a mais solidária e fraterna.
Na
convivência com outras culturas deve-se dar lugar a ideia do
relativismo cultural, que afirma ser as culturas , nem melhores nem
piores umas em relação às outras, sendo as mesmas apenas
diferentes entre si.
2.3
– Comunidade, Dinâmica da Alteridade e Cidadania.
Em
uma comunidade
social
poderá haver diversos grupos sociais de convivência, mas há um
certo vínculo afetivo unindo as pessoas, além de certos limites
territoriais; há aí uma tendência da continuidade do modo de
vida de uma geração com outra; as pessoas tendem a ter um estilo
de vida que vai do berço ao túmulo; a proximidade física permite
vínculos mais significativos.
É
nesse ambiente que surgirá a dinâmica
da alteridade
orientando as relações interpessoais, ajudando a conhecer-se melhor
através do outro , diferentes nas subjetividades, mas um ser igual
ao outro em direitos e deveres (cidadania).
A
alteridade é uma relação dialogal que se estabelece entre duas
pessoas, - entre um eu e um tu. Trata-se de uma relação
igualitária, ordeira e equilibrada; nenhuma das partes se
sobrepõe à outra de nenhuma forma ; a relação entre as duas
pessoas se estabelece em prol de uma terceira relação, que poderá
ser uma causa comum, um ideal, ou algo a ser construido em
conjunto.
O
cultivo da alteridade produz a verdadeira
cidadania,
onde se protege e cumpre direitos e deveres, gerando a
solidariedade, a paz e a convivência mais humana e fraterna.
2.4
– Sociedade, Moral Social, Ética Humana e Lei Positiva.
A
sociedade se caracteriza
pela convivência em um espaço onde há um conjunto de leis e
regulamentos racionalmente elaborados. As relações sociais tendem a
ser formalizadas e impessoais. Ai os individuos não dependem uns dos
outros para seu sustento e estão menos comprometidos moralmente
entre si.
A
sociedade é composta de agrupamentos humanos, diversas comunidades
sociais, onde predominam contatos sociais secundários e
interpessoais, com uma complexa divisão do trabalho e forte presença
do Estado, que é sustentado por forte aparelho burocrático.
Nas
sociedades tem lugar a multiculturalidade,
pois diferentes comunidades culturais as compõem. É aí que vai
conviver cidadãos de diversos matizes culturais com seus diferentes
costumes, seus valores, suas morais etnocêntricas e suas respectivas
éticas das convicções.
Nesse
conjunto variado de normas de condutas e padrões de comportamento
de cada comunidade cultural, em constantes contatos de comunicação
, aproximação e convivência das diferenças, além de melhor
conhecer uns aos outros, reforça-se normas de condutas que são
comuns, ou que se adequam aos diferentes grupos culturais, passando a
ser aceitos e constituídos como moral
social.
De
modo semelhante ocorre com os diferentes padrões de comportamentos
ostensivos, das éticas das convicções dos variados grupos
culturais, facilitando a identificação daqueles pontos que são
similares nas diferentes éticas, compondo pontos em comum, ou que
se adequam à maioria dos grupos culturais, passando a constituir a
ética
humana.
O
Estado ao elaborar as Leis Positivas nas sociedade multiculturais
para o controle da ordem, o faz em sintonia com a moral e a ética
comum da sua população, considerando-se a moral social e a ética
humana comumente reconhecidas.
Em
uma sociedade, ou mesmo nas comunidades sociais , ou grupos
culturais, surgem membros do grupo que se tornam indiferentes às
normas de condutas e aos padrões de comportamento, constituindo-se
nos amorais
e aéticos.
Por
outro lado, ocorrem aqueles que se colocam contra as normas morais e
contra os padrões éticos aceitos, sendo considerados imorais
e antiéticos.
Esses
imorais e antiéticos trazem grave prejuizo a normalidade da vida
comunitária e social, levando o Estado a elaborar as Leis Positivas,
no sentido de impor a ordem e normalizar a vida coletiva.
O
cumpridor da lei é o cidadão de bem, regularmente aceito e
recomendado na vida social. O descumpridor da lei é considerado
marginal, meliante , ou criminoso, sendo punido pelo Estado que detém
o poder de polícia.
Também
as Igrejas (as religiões), que se organizam como instituições de
direito privado, elaboram suas leis positivas para ordenar a vida dos
seus membros no seio da comunidade, sendo os cumpridores dessa lei
considerados crentes ou fieis, bem aceitos, enquanto os
descumpridores são considerados anáthema
e geralmente mal vistos pela comunidade.
É
nos grupos culturais, nas comunidade sociais e nas sociedades que
ocorrem a interação
social
, podendo ser de pessoa a pessoa, de pessoa a grupo, e de grupo a
grupo, supondo assim, a existência de reciprocidade nas ações
entre individuos.
Também
ocorrem os processos
sociais
podendo ser processos associativos, como cooperação, acomodação
e assimilação, que estabelecem formas de ações por esforço
comum, convivência harmoniosa e consenso no grupo em prol do bem
comum; ou processos dissociativos, como competição e conflito,
quando relacionados a formas de divergência, oposição e querelas,
que podem se manifestar de modos diferentes, desarmonizando a
convivência.
Os
profissionais de saúde, quando desenvolvendo missões de saúde em
outros paises, ou outras culturas, devem estar atentos; pois
existem repúblicas monoculturais,
onde não se permitem outras manifestações culturais; suas
respectivas morais etnocêntricas e éticas das convicções, são ,
nesses casos, impostas como moral social e ética humana.
Um
bom indicativo para o profissional de saúde, nessas situações
acima referidas, é, em primeiro lugar, observar os costumes
praticados pela população e respeitá-los; em segundo lugar ,
procurar conhecer os principios que norteiam tais normas de
condutas e padrões de comportamentos; pois assim, estará
conhecendo a moral social e a ética humana, adotada por aquela
monocultura; e por último, conhecer a lei positiva que vigora
naquela localidade.
É
sempre bom e até imperativo, que os profissionais de saúde sejam
cumpridores da lei do pais ou nação onde estiverem exercendo suas
profissões.
Ainda
é conveniente uma reflexão sobre as estratificações sociais.
A
estratificação social é
o
agrupamento dos membros de uma sociedade em camadas ou estratos
superpostos e hierarquizados segundo algum critério de importância
sociológica. Existem sociedades nas quais os seus estratos se fazem
por castas, como acontecia no inicio do Brasil Colônia, onde havia o
povo, o clero e a nobreza e ainda se vislumbra alguma presença deste
sistema em alguns paises, como na India.
Em
nossa sociedade atual capitalista, consumista, prevalece o sistema de
classes sociais baseada no poder econômico, como se houvesse "mais
valia" em quem tem o maior poder aquisitivo. Esse tipo de
sociedade geralmente se perde no "ter", ignorando o
"ser", embora os valores confessados em nossa civilização
ocidental, de origem judaico-cristã, sejam pelo ser, afirmando-se na
cidadania jurídica, filosófica e cristã.
Em
nossa sociedade fala-se em classe baixa, classe média e classe alta,
podendo ser pensada em forma de uma pirâmide social, onde a base
muito mais ampla é formada pela classe baixa dos assalariados, um
pouco acima, no centro da pirâmide, em número menor situa a classe
média e acima, no topo da pirâmide fica a classe alta, de maior
poder econômico, composta com um menor número de pessoas. Este tipo
de sociedade sustenta um sistema desequilibrado de distribuição das
riquezas do país.
Embora,
teoricamente exista a mobilidade
social,
permitindo que seus elementos migrem de uma situação para outra,
sabe-se que é muito difícil os elementos da classe baixa, mais
ampla, migrarem para a classe média e classe alta, sendo talvez os
estudos superiores e técnicos especializados, o meio mais eficiente
para permitir a ascensão social no Brasil atual.
Questionário
– Para fixar o conhecimento, consulte o texto acima e responda as
questões que seguem:
1
- Diferencie os conceitos de hethos e ethos.
2
- O que quer dizer identidade cultural?
3
- Qual a diferença entre etnocentrismo cultural transitório e
etnocentrismo social?
4
- O que é relativismo cultura?
5
- Qual a diferença entre comunidade social e sociedade?
6
- O que é a dinâmica da alteridade?
7
- Diferencie moral etnocêntrica de moral social e ética da
convicção de ética humana.
8
- O que é estratificação social?
Bibliografia
Recomendada:
DIAS,
Reinaldo. Introdução à Sociologia. Reinaldo Dias, São Paulo:
Pearson Prentice Hall, 2005.
HELMAN,
Cecil G. Cultura, Saude e Doença, 4ª edição. Porto Alegre:
ArtMed, 2003.
LARAIA,
Roque de Barros. Cultura – Um Conceito Antropológico, 22ª
edição. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.
OLIVEIRA,
Pérsio Santos de. Introdução à Sociologia. São Paulo: Editora
Ática, 2004.
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Continua em III Parte - 3 de 4
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(1) Fisioterapeuta
- IBMR; Mestre em Motricidade Humana - UCB/Capes; Professor Mestre
Adjunto I da UNIGRANRIO; Doutor em Filosofia da Religião -
SETESA/Não Capes; Formação em Psicanálise Clínica - SFPC;
Formação em Psicomotricidade Sistêmica - CEC; Formador-Didata em
Terapia Psicomotora Analítico-Clínica - TEPAC do CEBRASC;
Especialista em Educação - IBMR; Bacharel em Filosofia - SETESA;
Bacharel em Teologia - SETESA; Bispo Primaz do Catolicismo Apostólico
Salomonita - CAS/ICAI-TS(1902-2010).
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