Prof.
Dr. Felismar Manoel (1)
RESUMO
Através de
pesquisa bibliográfica diacrônica, procurou-se conhecer a opinião
de diferentes especialistas, sobre a ocorrência dos principais
eventos fisiológicos da adolescência e sua significância com
relação à formação da personalidade, visando aferir a
importância dessa fase do desenvolvimento humano para o processo do
tornar-se pessoa.
PALAVRAS
CHAVE
Adolescência e
puberdade, fisiologia e desenvolvimento,tornar-se pessoa.
Introdução
Objetiva o presente
trabalho enfocar os principais eventos de natureza fisiológica e/ou
consequente das alterações fisiológicas que ocorrem na
adolescência e que são significativos na formação da pessoa
humana.
Inicialmente
abordará aspecto linguístico dos termos adolescência e puberdade,
considerando o consagrado pela língua portuguesa e as contribuições
advindas das línguas latina e grega.
Em sequência fará
uma breve exposição das principais ocorrências de cunho
fisiológico, que surgem na adolescência, ou das alterações
resultantes e, que, constituem características básicas dessa fase
do desenvolvimento.
Por fim discorrerá
sobre as possibilidades que a adolescência oferece para a formação
da pessoa e seu ajustamento bio-psico-social contributivo para o seu
bem estar individual e para uma participação exitosa como membro da
sociedade onde vive.
O estudo resulta de
pesquisa bibliográfica de alguns autores que editaram seus trabalhos
em livros, (incluindo duas revistas apenas), sem ter um compromisso
com a sincronicidade das publicações e preocupado simplesmente com
o assunto, na visão de diversos especialistas, incluindo médicos,
psicólogos, antropólogos, pedagogos, psicanalistas,
psicomotricistas, psicopedagogos, filósofos, fisiólogos,
professores de educação física, teólogos etc. O trabalho,
portanto, não tem uma visão de completude, mas apenas dos dados
mais gerais relacionados com a fisiologia do adolescente, que
constituem fatores para um desenvolvimento normal do ponto de vista
psico-físico e que resultam na formação de uma pessoa ajustada, em
harmonia consigo mesma e com o seu meio social.
Francisco da
Silveira Bueno em seu Dicionário Escolar da Língua Portuguesa
(1981), registra o verbete adolescência, substantivo feminino,
significando o período da vida do homem entre a puberdade e a
virilidade, que vai dos quatorze aos vinte e cinco anos.
Embora tal
definição seja tipificada para o sexo masculino, os verbetes do
adjetivo e substantivo adolescente admitem os dois gêneros,
significando, que, ou o que está na adolescência.
Em linguagem do
senso comum fala-se de adolescência e puberdade como significando
uma mesma coisa, referindo-se principalmente à crise vivencial muito
comum na adolescência (Jérome 1962).
A língua latina,
que deu origem aos vocábulos da língua portuguesa, registra
adolescentia como o período da vida humana entre a puberdade
e a virilidade, que vai dos quatorze aos trinta anos (Faria 1994). O
termo deriva do verbo adolesco, que em sentido próprio
significa crescer, desenvolver-se, engrossar, tornar-se maior, mas
que Vergilio empresta também o sentido figurado, significando arder,
queimar, transformar-se em vapor (Georgicas 4, 379).
Quanto ao termo
pubertate, deriva o mesmo do verbo pubesco, que em
Cícero tem o sentido de cobrir-se de pêlos, chegar à puberdade (De
Officiis 1118).
Percebe-se que
tanto no latim como em português, puberdade denota idéia de um
fenômeno de transformação corporal, universalmente presente,
enquanto adolescência significa o processo ou a fase em que ocorre o
processo psico-social de inserção do jovem no mundo dos adultos,
variando de acordo com as culturas, podendo até mesmo estar ausente,
conforme relatam estudos antropológicos (Grace 1978).
O grego, que
exerceu influência sobre as línguas latina e portuguesa, traz
colaboração importante de adequação ao ponto de vista
fisiológico, pois dentro do conceito de efebeia ()
inclui as idéias de puberdade e adolescência em todas as suas
fases, sendo hebe ()
o desabrochamento do novato (=
neotes) (Lauro 1940), desde o surgimento dos pêlos e
transformações corpóreas (
= tricotes) até o exalar de sua sexualidade, vigor
e maturidade (=
tragos) (Pereira 1976).
Embora o critério
de definição de adolescência da língua grega seja mais adequado
para reflexões fisiológicas, como é esclarecido anteriormente, ao
fazer considerações sobre os principais aspectos fisiológicos da
adolescência e puberdade, como aqui se pretende, este texto seguirá
a definição de Weineck (1991, pág. 254) que ao considerar o
desenvolvimento humano, coloca a infância escolar tardia por
volta dos dez anos, como a entrada na puberdade e esta,
abrangendo duas fases distintas, primeiro a da pubescência,
entre os onze a quatorze anos para as meninas e entre os doze a
quinze anos para os meninos; e a segunda a da adolescência,
situada entre treze a dezoito anos para as meninas e dos quatorze aos
dezenove anos para os meninos. Depois disso seguirá a fase da idade
adulta.
A idéia de fases
do desenvolvimento significa os períodos de um desenvolvimento
uniforme, que permite nítida distinção entre eles, através de
características claramente diferenciadas. Weineck citando
Keller/Wiskott diz que, desenvolvimento é a soma dos processos de
crescimento e diferenciação do organismo, que finalmente levam ao
seu tamanho, forma e função definitivos (Weineck 1991 pág. 254).
Crianças e
adolescentes necessitam para um desenvolvimento psico-físico
harmonioso, de uma dose suficiente de movimentação (Weineck 1991).
Isto acontece graças a um mecanismo fisiológico do pallidum,
então com dominância de impulsos, produzindo uma maior movimentação
(Korolkovas 1991) e por outro lado a uma outra característica do ser
jovem, que tem a capacidade de perceber o esforço para suportar
carga diminuída com relação ao adulto, o que sugere devam ser,
consideradas as particularidades referentes ao crescimento das
crianças e adolescentes no gerenciamento das atividades físicas
(Weineck 1991).
Os segmentos
corporais das crianças e adolescentes apresentam crescimentos em
intensidades diferentes, acarretando alterações nas proporções
corporais, significativas para a prática de exercícios,
principalmente na fase da pubescência.
Weineck (1991 pág.
248) citando Zurbrugg diz que ocorre um crescimento centrípeto, ou
seja, pés e mãos amadurecem antes que pernas e antebraços e estes
amadurecem antes que coxas e braços.
O desenvolvimento
normal da criança e adolescente faz coincidir a idade cronológica
com a biológica, não acontecendo o mesmo nos casos de
desenvolvimento precoce, quando ocorre uma sucessão acelerada das
fases do desenvolvimento corporal em um ou mais anos e nos casos de
desenvolvimento tardio, um retardamento por um ou mais anos. Tais
variações no crescimento físico podem ser perturbadora para o
adolescente (Telford 1980).
Nos três tipos de
desenvolvimento existe um crescimento harmônico, em relação ao
desempenho orgânico, às medidas dos órgãos e ao sistema
esquelético (Weineck 1991).
Na criança, ou
adolescente, em fase de crescimento, o metabolismo estrutural
desempenha um papel muito especial, em razão do crescimento e
diferenciação que exigem diversos processos de estruturação e
restruturação, com conseqüente aumento do metabolismo basal em
cerca de 20 a 30% mais que no adulto, necessitando, portanto, de
maior quantidade de vitaminas, minerais e outros nutrientes. Há uma
necessidade maior de proteína, na ordem de 2,5 g por quilo de peso
corporal, sendo esta necessidade mais aumentada ainda em caso de
cargas adicionais conseqüente de exercícios, para se evitar que o
metabolismo funcional prejudique o metabolismo estrutural e interfira
no crescimento do organismo infantil (Weineck 1991).
Diz a Lei de
Mark-Jansen (citado por Weineck 1991, pág. 249) que “a
sensibilidade do tecido é proporcional à velocidade de
crescimento”. Assim a criança ou o adolescente, quando comparados
ao adulto, estão muito mais expostos ao perigo de danos de carga,
através de estímulos não fisiológicos da carga, pois seus ossos,
tendões e ligamentos, que compõem as estruturas do aparelho
locomotor passivo, estando ainda em crescimento, não mostram a mesma
resistência à carga que na idade adulta, constituindo um fator de
desempenho limitante (Weineck 1991).
Eis algumas
particularidades da infância e adolescência:
- Os ossos são
mais flexíveis e menos resistentes à pressão e tração, devido a
um armazenamento relativamente maior de material orgânico mole.
- O tecido dos
tendões e ligamentos ainda não é suficientemente resistente à
tração, devido ao fraco ordenamento micelar (estruturas semelhantes
a redes de cristais) e predominância de substâncias intercelulares.
- O tecido
cartilaginoso e os discos epifisários ainda não ossificados,
representam um perigo em relação às forças de pressão e torção,
devido à sua alta taxa de divisão, condicionada ao crescimento.
Pode-se afirmar que
impulsos de carga adequados ao crescimento - submáximos, exigindo de
forma múltipla o complexo todo do aparelho locomotor passivo -
oferece um estímulo apropriado, tanto para o crescimento quanto para
a melhora da estrutura (Weineck 1991).
Há semelhança
entre a célula muscular esquelética da criança e do adulto. O que
diferencia é a formação quantitativa de subestruturas da célula
muscular, sendo, a parcela de fibras ST (slow twitch -
contração lenta) na faixa dos doze anos, equivalente a 64,2 ± 11%
nas meninas e 72,8 ± 11% nos meninos.
Até o início da
puberdade há pouca diferença de massa e força musculares entre
meninos e meninas. Só a partir de então e em conseqüência de
alterações hormonais ocorrem acentuadas taxas de crescimento em
relação à massa muscular e desenvolvimento diferenciado,
específico do sexo e características corporais (Weineck 1991).
Em termos de
termorregulação existem diferenças entre crianças e adultos.
A superfície
corporal absoluta da criança é menor, mas ao contrário, sua
superfície relativa em relação ao peso corporal, é cerca de 36%
maior que a do adulto. Entretanto, apesar dessa superfície corporal
relativa ser maior, as crianças apresentam uma menor taxa de
transpiração, em cerca de 2,5 vezes menor que no adulto por
glândula sudorípara. Além disso a criança tem menor número de
glândulas sudoríparas ativas.
Há também uma
limitação no hipotálamo, segundo se pensa, elevando o limiar de
temperatura para que a transpiração se inicie (Weineck 1991).
O desenvolvimento
da cabeça, cérebro e todo o corpo acontece de modo muito variado.
O cérebro tem um
crescimento muito rápido, atingindo 90 a 95% do tamanho do adulto já
aos seis anos de idade (Weineck 1991).
As células
nervosas do sistema nervoso central, sofrem um entrançamento e
proliferação intensiva até o terceiro ano de vida, podendo ser
estimuladas por meio de exercícios adequados (Le Boulch 1978).
Durante o
crescimento ou sob treinamento, as fibras musculares cardíacas tem
um desenvolvimento harmonioso, com aumento no seu comprimento e
diâmetro, propiciando diminuição da freqüência cardíaca,
aumentos do espaço interno do coração e do volume de pulsação,
levando o coração a um trabalho mais efetivo e econômico.
O sistema
cárdio-circulatório de crianças e jovens, sob estímulos de
treinamento, realiza alterações adaptativas positivas,
principalmente sob o treino de resistência, podendo alcançar um
volume cardíaco relativo por quilo de peso corporal, de 14,9 a 18,1
ml, quando a normalidade para um coração esportivo adulto é da
ordem de 12 ml (Weineck 1991).
O crescimento do
corpo todo, em sua estatura normal, ao contrário do cérebro, só
vai acontecer no término da puberdade, em torno dos vinte anos
(Weineck 1991).
A arrancada para
este crescimento acontece em torno dos nove a dez anos, quando o
hipotálamo secreta os fatores de liberação que irão influenciar a
hipófise anterior levando-a a produzir o hormônio somatotrófico
que impulsionará o crescimento corporal e os hormônios
gonadotróficos que estimularão o desenvolvimento dos caracteres
sexuais primários e secundários (Korolkovas 1991).
O esquema corporal
tem uma evolução lenta durante a infância, alcançando seu pleno
desenvolvimento aos onze ou doze anos, portanto na fase puberal.
O esquema corporal
é definido como uma intuição global ou conhecimento imediato do
nosso corpo, em estado de repouso ou em movimento, em função da
interrelação de suas partes e sobretudo da relação com o espaço
e os objetos que o rodeiam, uma relação ajustada entre o indivíduo
e seu meio (Le Boulch 1969).
A elaboração
definitiva do esquema corporal, ocorre, graças a tomada de
consciência dos diferentes elementos corporais e ao controle de sua
mobilidade com vista a ação, levando a diversos ganhos:
- Desenvolvimento e
instalação das possibilidades de relaxamento global e
segmentar;
- Independência
dos braços e pernas com relação ao tronco;
- Independência da
direita com relação à esquerda;
- Independência
funcional dos diversos segmentos e elementos corporais;
- Transposição do
conhecimento de si ao conhecimento dos demais.
Desenvolve diversas
capacidades de aprendizagem e de relação com o mundo exterior,
tendo meios para conquistar sua autonomia.
Sua relação com o
adulto, se distanciará cada vez mais até chegar a cooperação e ao
compartilhamento das responsabilidades (Vayer 1973).
Amplia as condições
para o aperceber-se da sua singularidade e complexidade, fornecendo
os elementos essenciais para o tornar-se pessoa (Mondin 1980).
Embora existam
diferentes teorias sobre os conflitos da adolescência, estudos
etnográficos indicam que, as circuntâncias sociais concretas da
vida da criança determinam a duração do período da adolescência,
e a existência ou ausência de crises conflitivas e dificultosas e o
caráter da passagem da infância à idade adulta. Deriva desses
estudos a idéia de que “no homem o natural não pode ser
contraposto ao social, porque nele o natural é o social”
(Dragunova, 1979).
Há a necessidade
de por em relevo a nova formação básica na consciência do
adolescente, esclarecendo a situação social do desenvolvimento que,
em cada idade, constitui um sistema irrepetível de relações entre
a criança e o meio. A reestruturação desse sistema de relações
cosntitue o conteúdo fundamental da crise da idade transicional
(Vigotski, 1960).
A posição
imprecisa do adolescente, que se reconhece adulto em alguns aspectos
e não em outros, e as exigências que se apresentam em seu meio
social, quando em um desenvolvimento psicofísico normal e
assistência pedagógica devida, servirá ao jovem de dinamizador na
busca de valores positivos para adornar a sua personalidade, como
assimilação de operações intelectuais complexas, desenvolvimento
da autoconsciência, capacidade de comunicação e de vida emocional,
iniciativa social, formação da concepção de mundo, adoção de
ideário filosófico, social, espiritual, político, filantrópico ou
profissional que possibilita a sua autotranscendência e o caminhar
para a integralização da sua pessoa (Kon, 1979).
A Adolescência e o Tornar-se Pessoa
A questão da
pessoa não era totalmente desconhecida dos sábios da antigüidade,
mas foi no Cristianismo que ela se delineou claramente através do
Personalismo, quando os Pais da Igreja se ocuparam em estudar a
Pessoa de Cristo, que por extensão levou a uma melhor compreensão
da pessoa humana. Desde então, estudiosos se voltam para a reflexão
sobre uma melhor definição do que constitui a pessoa humana (Mondin
1980).
Atualmente, o
Humanismo, em suas diversificadas nuances e variações (Feijó
1992), devota especial interesse pela totalidade da pessoa humana,
servindo de base para a abordagem holística, adotada por diferentes
profissionais das áreas de saúde e educação no trato com o homem,
preocupando-se com a totalidade da pessoa, em resposta à crise de
fragmentação imposta pela ciência e suas especializações (Crema
1994).
A pessoa não é um
resultado já belo e adquirido desde o nascimento, mas é, antes uma
fonte de ricas possibilidades pela qual se faz uma conquista,
oportunizada durante toda a vida do adulto (Mondin 1980).
Tornar-se adulto do
ponto de vista social varia com cada cultura, sendo a puberdade o
evento natural demarcador da fase transicional entre a infância e a
vida adulta, mesmo naquelas culturas sem contagem cronológica, que
se valem dos “ritos de passagem” para conferir o status de
adulto aos membros de suas comunidades (Mair 1984).
O começo da
puberdade forma um marco no desenvolvimento psicofísico do
adolescente, sem nenhum equivalente na vida adulta (Weineck 1991).
Sua intensa criatividade e sua reatividade aliada aos valores de sua
individualidade, constituem aspectos fundamentais de estimulação
para que se consiga uma boa maturidade psicossocial e futura relação
harmoniosa com o mundo (Mondin 1980).
Durante a
adolescência o jovem adquire saber e crescimento corporal, não
podendo o seu desenvolvimento saudável ser dissociado de um bom
ambiente escolar, familiar e social (Naiying 1996). É nessa fase que
se encontram as bases para se delinear a orientação geral na
formação das atitudes morais e sociais da personalidade que
continuará desabrochando na vida da pessoa humana (Petrovski 1979).
É essa a ocasião de se aprender tudo aquilo para o qual a vida
humana deve ser orientada, para que se torne uma vida plenamente
valiosa.
O valor funcional
desse acesso aos valores sociais é considerável. A inteligência e
a afetividade do adolescente, do adulto jovem, devem ser mobilizadas
para proporcionar uma vida nova, na qual será muito importante o
espírito de responsabilidade, tão fundamental a uma vida adulta
plenamente realizada (Wallon, citado por Ajuriaguerra).
Segundo Feijó
(1992, p. 43), “O indivíduo é uma organização psicossomática
em constante processo, em perene desabrochar. Em outras palavras, a
personalidade é um sistema com dimensões históricas, com um
princípio, meio e fim. Seu vir-a-ser é a elaboração da história
passada projetando-se na direção da história futura.” O
adolescente não pode ser explicado simplesmente pela interferência
entre o biológico e o sociológico. Se é verdade que ele deve fazer
a história, também é verdade que ele é fruto de sua história
pessoal (Ajuriaguerra sem data); pois as peculiaridades das
manifestações e do curso do período da adolescência estão
determinadas por circunstâncias sociais concretas da vida e do
desenvolvimento do adolescente e por sua situação social no mundo
dos adultos, constituindo subsídios importantes na formação da
pessoa (Petrovski 1985).
A pessoa humana só
pode ser compreendida mediante a ligação que a une ao seu meio
inter-humano. “Quando o ser humano integra as atividades orgânicas
e biológicas que mantém sua existência e a ligam ao seu meio
biológico, ele se chama corpo; quando ele integra suas atividades
orgânicas, suas necessidades de afeto ou sua afetividade,
identificando-se então, parcialmente, com os objetos de seus grandes
interesses visuais e ligando-se a outros seres humanos vivos, ele se
chama indivíduo; quando ele integra suas atividades orgânicas, suas
atividades instintivas, suas atividades de estruturas complexas,
identificando-se então com seus semelhantes e com ele mesmo, como
projeção espiritual de qualquer ideal, tornando-se então um ser
com valores, um ser com direitos, com deveres e um ser ainda mais
ligado aos outros homens em sua intimidade moral, é que ele adquire
mais autonomia e liberdade, chamando-se pessoa” (Hesnard, citado
por Ajuriaguerra).
O ser humano tem
internalizado como seu, elementos importantes do meio sócio-cultural,
científico e espiritual que constituem e definem sua pessoa
(Vigotski 1960). Assim os filósofos reconhecem como características
principais da personalidade, quatro elementos essenciais que permitem
definir a pessoa como um indivíduo dotado de autonomia quanto ao
ser, de autoconsciência, de comunicação e de autotranscendência
(Mondin 1980), adquiridos em um processo que tem início na
adolescência e que poderá ser aperfeiçoado durante toda a vida
(Petrovski 1985).
As transformações
que ocorrem no corpo durante a adolescência e que culminam com a
forma corporal definitiva do adulto, surgem em conseqüência de
fatores fisiológicos e são importantes para a formação da
personalidade.
Tais mudanças tem
início com a fase da puberdade, mas são desencadeadas um pouco mais
cedo através de mecanismos neuroendócrinos, que estimulam a
produção dos hormônios responsáveis pelo desenvolvimento do corpo
e dos caracteres sexuais primários e secundários.
Para um
desenvolvimento harmonioso, a criança e o adolescente necessitam de
muita movimentação. Isto é conseguido graças a dominância de
estruturas encefálicas, que produzem mais impulsos motores, e por
outro lado, pela diminuição da capacidade de percepção do esforço
para suportar cargas. Essa atividade motora aumentada é
significativa para o adolescente porque estimula também o
metabolismo estrutural, aumentado necessariamente, para atender a
maior demanda conseqüente dos processos de estruturação e
restruturação, envolvidos no crescimento e diferenciações do
corpo, que culminam com a forma corporal definitiva do adulto,
possibilitando a elaboração e introjeção do esquema corporal,
instrumento útil para uma relação ajustada entre o indivíduo e
seu meio, desenvolvendo a sua autonomia, capacidade de cooperação
social e compartilhamento de responsabilidades, pela percepção de
sua singularidade e complexidade pessoal.
As circunstâncias
sociais concretas da vida do adolescente, quando em um
desenvolvimento psico-físico ideal, mesmo que desencadeie uma crise
existencial pela fase transicional da infância para a vida adulta,
possibilita que ele desenvolva a sua autoconsciência, delimite as
fronteiras da heteronomia em que vive e conquiste a sua autonomia
enquanto ser, estabelecendo relações saudáveis consigo mesmo, com
o meio e com as outras pessoas, que amplia a sua capacidade de
comunicação e vida afetiva, adotando a participação social e os
ideais altruístas, filantrópicos, espirituais, filosóficos e
profissionais que permitem a realização de sua personalidade e
autotranscendência, evidenciadas na sua manifestação enquanto
pessoa.
Referências Bibliográficas
AJURIAGUERRA, J.
de, Manual de Psiquiatria Infantil, 2ª edição, Masson, Brasil, sem
data.
BUENO, F. da
Silveira, Dicionário Escolar da Língua Portuguesa, 11ª edição,
FENAME, Rio de Janeiro, 1981.
CREMA, Roberto,
Homo Holisticus, in Pensando o Corpo e o Movimento, Organizado por
Estélio H. M. Dantas, Shape, Rio de Janeiro, 1994.
DRAGUNOVA, T. V.,
Características Psicologicas del Adolescente, Editorial Progresso,
Moscú, 1979.
FARIA, Ernesto,
Dicionário Escolar Latino-Português, 6ª edição, FAE, Rio de
Janeiro, 1994.
FEIJÓ, Olavo G.,
Corpo e Movimento. Uma Psicologia Para o Esporte, Shape, Rio de
Janeiro, 1992.
GALLIANO, A.
Guilherme, O Método Científico, Harbra, São Paulo, 1979.
GRACE, Miriam S.
Nicholson, Philip T., Lipsitf, Don R., Introdução ao Estudo da
Psicologia, Cultrix, São Paulo, 1978.
JÉROME, J., O
Escrúpulo, volume 9, Edições Palmas, São Paulo, 1962.
KON, J. S.,
Psicologia de la Primera Juventud, Ed. A.C.P., Moscú, 1960.
LE BOULCH, Jean, La
Educacion por el Movimiento, Paidós, Buenos Aires, Argentina, 1969.
———, Hacia
uma Ciencia del Movimiento Humano, Paidós, Buenos Aires, Argentina,
1978.
LELLO e Irmãos,
Dicionário Prático Ilustrado Luso-Brasileiro, Porto, Portugal,
1961.
LOURO, José Inez,
O Grego Aplicado à Linguagem Científica. Edit. Educação Nacional,
Porto, Portugal, 1940.
MAIR, Lucy,
Introdução à Antropologia Social, 6ª edição, Zahar Editores,
Rio de Janeiro, 1984.
MANNARINO, Celina,
Aspectos Psicossociais dos Distúbios da Puberdade, Arquivo
Brasileiro de Pediatria 3(5):127-128. 1996.
MONDIN, B., O
Homem, Quem é Ele? Elementos de Antropologia Filosófica, Edições
Paulinas, São Paulo, 1980.
NAIYING, Pang,
Helpi Geknabojn en ilia Adoleskanteco, El Popola Cinio 11(458):4-6,
1996.
PEREIRA, Isidro,
Dicionário Grego-Portugês, Português-Grego, 5ª edição, Livraria
Apostolado da Imprensa, Porto, Portugual, 1976.
PETROVSKI, A.,
Psicologia Evolutiva y Pedagogica, Editorial Progreso, Moscú, 1985.
TELFORD, C. W. e
SAWREY, J. M., Psicologia, 5ªedição, Cultrix, São Paulo, 1980.
VAYER, Pierre, El
Niño Frente al Mundo, Editorial Científico-Medica, España, 1973.
VIGOTSKI, L. S.,
Desarrollo de las Funciones Psiquicas Superiores, Ed. A.C.P., Moscú,
1960.
WEINECK, J.,
Biologia do Esporte, Editora Manole, São Paulo, 1991.
---------------------------------------------------------------------------------------------------------
(1) - Professor
Mestre Adjunto I da UNIGRANRIO; Doutor em Filosofia da Religião -
SETESA/Não Capes; Mestre em Ciências da Motricidade Humana -
UCB/Capes; Formação em Psicanálise Clínica - SFPC; Formação em
Psicomotricidade Sistêmica - CEC; Formador-Didata em Terapia
Psicomotora Analítico Clínica - TEPAC do CEBRASC; Especialista em
Docência Superior - IBMR; Bacharel em Fisioterapia - IBMR; Bacharel
em Filosofia - SETESA; Bacharel em Teologia - SETESA; Bispo Primaz
do Catolicismo Evangélico Salomonita - ICAI-TS.