Prof.
Dr. Felismar Manoel (1)
No
Brasil é bastante complicado falar em etnia, pois grande parte da
população é composta de um amálgama étnico, e eu não fujo à
regra.
1
- Etnia do lado materno:
1.1
- Indios Puri - Oriundos da Zona da Mata de Minas Gerais, mais
notadamente, das regiões que faz limites entre Minas, Espírito
Santo e Rio de Janeiro. Uma jovem índia é capturada e feita
prisioneira de uma fazenda de portugueses, onde lhe arranjam um nome
com o qual é batizada no catolicismo romano, nome que ela nunca
aceitou e assimilou, passando a referir-se sobre sí própria como
"Indira Puri", sendo Indira um dos nomes comuns na sua
tribo e Puri o orgulho de sua nação indígena; cultivou a arte da
cerâmica de utilitários domésticos, de transagens de cipós,
fibras, bambus e taquaras, arte que transmitiu a sua filha.
1.2
- Negros Mina - Escravo africano jovem, servidor da fazenda dos
portugueses, que igualmente recebeu um nome e o batismo do
catolicismo romano, nome que nunca reconheceu e assimilou, passando a
referir-se sobre si mesmo como "Tongo Mina", sendo Tongo um
nome tribal comum e Mina o orgulho de sua nação africana; cultivou
a arte do cultivo de plantas medicinais, hortaliças e agricultura de
subsistência.
1.3
- Tongo Mina e Indira Puri se casaram e tiveram uma filha (mais ou
menos em 1880) que foi batizada com o nome de Maria Graciana, (não
tenho referências se houve mais filhos), tendo assimilado o seu nome
de batismo e o devocionismo católico romano, embora vivenciando o
hibridismo de valores, tanto indígenas, como africanos comuns entre
os povos das aldeias e vilas, mas transferiu seus valores e artes
culturais para seus filhos, sem forçá-los.
1.4
- Com a libertação dos escravos, modificou um pouco o panorama
vivencial dos povos, com relação a fixação no solo, ali pelas
regiões de Pombo, Guaianases, Guidoval, Miraí, Ubá, podendo dizer
que, com relação à escravidão, houve certas possibilidades de
melhora para Maria Graciana, que casou com um português chamado
Juaquim Soares de Souza Lima e tiveram quatro filhos: Silvino,
Salvina, Castorina e Maria. O português Juaquim era universitário
de Coimbra, "engenheiro de estradas e pontes", com
concentração em artes pirotécnicas (arte que transmitiu para os
filhos), mas tendo se dedicado com carinho à ciência homeopática
(parece que com formação também em Portugal), sendo uma referência
nas localidades interioranas para socorrer as populações em
questões de saúde e doença. Havia um pouco de "nebulosidade"
nas informações sobre o avô Juaquim, sendo um homem simples, muito
estudioso das ciências e da Bíblia e conformado com a falta de
estudos dos filhos, que pouco falava sobre si mesmo.
1.5
- Maria Soares teve o seu primeiro casamento com um nativo da região
do Pombo, salvo engano, com o qual teve quatro filhos: Onesta,
Carlita, Nair e Omiro. Seu marido morreu baleado, deixando-a viúva
com os filhos, sendo recolhidos pelos pais e avós.
1.6
- O amálgama étnico do lado materno inclui, portanto, etnia puri
(indígena), etnia mina (africana) e etnia portuguesa (européia).
Vejamos agora o lado paterno.
2
- Etnia do lado paterno:
2.1
- Maria Barbieri, de Gênova na Itália, excelente administradora da
fazenda e do lar, zeladora no uso da língua italiana em família,
para as orações do ângelus e durante as refeições; aberta às
manifestações culturais locais, com diálogo interativo entre as
devoções populares e a étnomedicina puri; casada com Giovani, a
seguir referido.
2.2
- Giovani Emanueli Giulini, de Calábria na Itália, agricultor,
acomodado as circunstâncias históricas locais, colaborador nas
decisões da esposa. Casal muito alegre nos encontros familiares
(família grandiosa que veio para o Brasil), de falatório alto e
constantes celebrações.
2.3
- Do casamento de Maria Barbieri com Giovani tiveram vários filhos:
Otaviano (nascido na Itália), Elmira (nascida em águas brasileiras
quando vinham de navio), Felício, Emílio, Maria, José, João
(nascidos no território brasileiro). Não estou seguro, mas parece
que havia uma outra filha de nome Constanza. Não tenho dados muito
precisos sobre essa irmandade, pois na minha infância, após a morte
da nona (avó), não se conservou uma boa relação entre irmãos
(meus tios), não sendo inimigos uns dos outros, mas com certo
distanciamento nas convivências, principalmente porque uns eram
ricos e outros pobres.
2.4
- Felício se casou com uma italiana, herdeira da Fazenda dos
Guilhermes, instalada pacifica e harmoniosamente nas regiões de
aldeias puri, no vasto território do Município de Guiricema,
próximo ao vilarejo Cruzeiro de Guiricema. Os aldeões eram
aculturados aos brancos locais e por sua vez, essa população local
também aculturada aos valores dos indígenas puri, onde surgiram
casamentos, compadrescos, interatividade laboral, cultural,
religiosa, comemorativa de eventos das duas realidades culturais.
Surgiu uma nova realidade populacional conhecida como "puri",
talvez um "neo-puri"; identificar que alguém era "puri"
naquela região, era afirmar que ele era um nativo, ou nativa daquela
nova estrutura de convivência, e que era um descendente da nova
mistura étnica e que se identificava com os valores das culturas
loco-regionais; esta é uma razão pela qual me considero um "puri",
principalmente por ser a cultura da minha adolescência, a que mais
assimilei nas minhas muitas convivências com diferentes culturas, e
a que mais conciliou os meus valores da área científica,
filosófica, teológica e de espiritualidade.
Do
casamento de Felício com a italiana nasceram filhos: Maria, Luzia,
Alverina, Alcenira e José. Infelizmente a mãe dessas crianças
morreu nova deixando Felício viúvo na fazenda cuidando dos filhos.
2.5
- A viúva Maria Soares se casa com o viúvo Felício Manoel Julinho
(os cartórios brasileiros aportuguesaram os nomes), em vez de
"Emanueli Giulini" ficou "Manoel Julinho",
passando todos os descendentes a constar como, ... "fulano"
Manoel Julinho, quando deveria ser ... "fulano" Emanueli
Giulini. Do novo casamento dos viúvos nasceram mais filhos: Messias,
Joaquim, João, Edes, Felismar (eu) e Sudário, que passou a conviver
na fazenda, com muita constância toda essa nova irmandade,
resultante dos filhos dos três casamentos.
2.6
- Com esse casamento dos dois viúvos, o amálgama étnico é
enriquecido agora com mais dois elementos de etnias europeias, de
matriz italiana (Gênova e Calábria).
3
- Amálgama Étnico Brasileiro:
3.1
- Não existe um estudo apurado, etnologicamente elaborado das
realidades brasileiras, até porque necessitaria de múltiplas
etnografias loco-regionais consistentes, para que se pudesse concluir
comparações e conclusões etnológicas.
Considero-me
um puri, provavelmente um neo-puri, embora tendo perdido os
semantemas da língua original puri, porque das culturas de
convivências participativas da minha vida, é a cultura dos nativos
puri a que mais me identifico, por sua harmonização entre natureza
e ciência, entre ciência e espiritualidade, entre o novo e o velho;
por sua abertura para o novo, sem abandonar a responsabilidade de
testemunhar a valorização do antigo, dialogando com o novo, em prol
de uma convivência útil e harmoniosa entre os diferentes seres
humanos, entre os seres humanos e a natureza da qual ele se faz
parte, entre os valores das culturas e ciências humanas e sua
compatibilização com a transcendência, por seu senso de irmanação
entre todas as criaturas de Deus, por seu profundo olhar
misericordioso, benevolente, igualitário, para o outro diferente e
para todas as coisas.
3.2
- Memorial de minha vida pessoal. Me cobram a publicação de minha
autobiografia, ou relatos de minhas experiências de vida. Mas tenho
estado envolvido em tantas atividades em prol de causas mais
essenciais, durante esta minha existência de 73 anos, que não tem
sobrado tempo suficiente para desenvolver um trabalho de tal
natureza.
Minha
experiência missionária junto às diferentes comunidades, desde
meus dezesseis anos, trouxe-me bagagens, principalmente sob a ótica
antropológica e eclesial, que me inclina a uma futura publicação.
Mas é muito difícil, para quem viveu e continua vivendo do trabalho
assalariado, ter disponibilidade material e de tempo suficiente para
tal empreitada. Hoje tenho a felicidade de exercer o Magistério
Superior na Universidade Grande Rio, Instituição que muito amo e
estimo por seus múltiplos empenhos, com singular desempenho dos
elevados ideais do seu fundador Reverendo Pastor José de Souza
Herdy. Fazer o que gosto e em ambiente compromissado com ideais
elevados, é confortador para mim. Deus seja louvado.
Espero
em tempos não muito distantes, até porque já tenho 73 anos,
atualizar o meu "Memorial" e torná-lo público em meu
blog. Com saudosismo de minha adolescência entre os puri e revivendo
o espírito do romantismo da alma, despeço-me, firmado no nome puri,
que na adolescência escolhi...
Nhãmanrúri
Schuteh (Córrego tranquilo, bonito)
Felismar
Manoel - Duque de Caxias, RJ - Natal de 2012
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(1) - Professor
Mestre Adjunto I da UNIGRANRIO; Doutor em Filosofia da Religião -
SETESA/Não Capes; Mestre em Ciências da Motricidade Humana -
UCB/Capes; Formação em Psicanálise Clínica - SFPC; Formação em
Psicomotricidade Sistêmica - CEC; Formador-Didata em Terapia
Psicomotora Analítico Clínica - TEPAC do CEBRASC; Especialista em
Docência Superior - IBMR; Bacharel em Fisioterapia - IBMR; Bacharel
em Filosofia - SETESA; Bacharel em Teologia - SETESA; Bispo Primaz
do Catolicismo Evangélico Salomonita - ICAI-TS.
Obrigada meu saldoso tio avô Felismar Manoel.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirObrigado tio-bisavô. Sou bisneto da Maria com Arquimedes e neto da Mariinha com Anezito. Filho da Benete (Maria) com José Ribeiro. Nasci em Visconde do Rio Branco/MG. Sou o Luciano José Ribeiro, e moramos em Piracicaba/SP, à sua disposição. Venha passar o Ano Novo com a gente.
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