terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Minhas Origens Étnicas


Prof. Dr. Felismar Manoel (1)


No Brasil é bastante complicado falar em etnia, pois grande parte da população é composta de um amálgama étnico, e eu não fujo à regra.

1 - Etnia do lado materno:

1.1 - Indios Puri - Oriundos da Zona da Mata de Minas Gerais, mais notadamente, das regiões que faz limites entre Minas, Espírito Santo e Rio de Janeiro. Uma jovem índia é capturada e feita prisioneira de uma fazenda de portugueses, onde lhe arranjam um nome com o qual é batizada no catolicismo romano, nome que ela nunca aceitou e assimilou, passando a referir-se sobre sí própria como "Indira Puri", sendo Indira um dos nomes comuns na sua tribo e Puri o orgulho de sua nação indígena; cultivou a arte da cerâmica de utilitários domésticos, de transagens de cipós, fibras, bambus e taquaras, arte que transmitiu a sua filha.

1.2 - Negros Mina - Escravo africano jovem, servidor da fazenda dos portugueses, que igualmente recebeu um nome e o batismo do catolicismo romano, nome que nunca reconheceu e assimilou, passando a referir-se sobre si mesmo como "Tongo Mina", sendo Tongo um nome tribal comum e Mina o orgulho de sua nação africana; cultivou a arte do cultivo de plantas medicinais, hortaliças e agricultura de subsistência.

1.3 - Tongo Mina e Indira Puri se casaram e tiveram uma filha (mais ou menos em 1880) que foi batizada com o nome de Maria Graciana, (não tenho referências se houve mais filhos), tendo assimilado o seu nome de batismo e o devocionismo católico romano, embora vivenciando o hibridismo de valores, tanto indígenas, como africanos comuns entre os povos das aldeias e vilas, mas transferiu seus valores e artes culturais para seus filhos, sem forçá-los.

1.4 - Com a libertação dos escravos, modificou um pouco o panorama vivencial dos povos, com relação a fixação no solo, ali pelas regiões de Pombo, Guaianases, Guidoval, Miraí, Ubá, podendo dizer que, com relação à escravidão, houve certas possibilidades de melhora para Maria Graciana, que casou com um português chamado Juaquim Soares de Souza Lima e tiveram quatro filhos: Silvino, Salvina, Castorina e Maria. O português Juaquim era universitário de Coimbra, "engenheiro de estradas e pontes", com concentração em artes pirotécnicas (arte que transmitiu para os filhos), mas tendo se dedicado com carinho à ciência homeopática (parece que com formação também em Portugal), sendo uma referência nas localidades interioranas para socorrer as populações em questões de saúde e doença. Havia um pouco de "nebulosidade" nas informações sobre o avô Juaquim, sendo um homem simples, muito estudioso das ciências e da Bíblia e conformado com a falta de estudos dos filhos, que pouco falava sobre si mesmo.

1.5 - Maria Soares teve o seu primeiro casamento com um nativo da região do Pombo, salvo engano, com o qual teve quatro filhos: Onesta, Carlita, Nair e Omiro. Seu marido morreu baleado, deixando-a viúva com os filhos, sendo recolhidos pelos pais e avós.

1.6 - O amálgama étnico do lado materno inclui, portanto, etnia puri (indígena), etnia mina (africana) e etnia portuguesa (européia). Vejamos agora o lado paterno.

2 - Etnia do lado paterno:

2.1 - Maria Barbieri, de Gênova na Itália, excelente administradora da fazenda e do lar, zeladora no uso da língua italiana em família, para as orações do ângelus e durante as refeições; aberta às manifestações culturais locais, com diálogo interativo entre as devoções populares e a étnomedicina puri; casada com Giovani, a seguir referido.

2.2 - Giovani Emanueli Giulini, de Calábria na Itália, agricultor, acomodado as circunstâncias históricas locais, colaborador nas decisões da esposa. Casal muito alegre nos encontros familiares (família grandiosa que veio para o Brasil), de falatório alto e constantes celebrações.

2.3 - Do casamento de Maria Barbieri com Giovani tiveram vários filhos: Otaviano (nascido na Itália), Elmira (nascida em águas brasileiras quando vinham de navio), Felício, Emílio, Maria, José, João (nascidos no território brasileiro). Não estou seguro, mas parece que havia uma outra filha de nome Constanza. Não tenho dados muito precisos sobre essa irmandade, pois na minha infância, após a morte da nona (avó), não se conservou uma boa relação entre irmãos (meus tios), não sendo inimigos uns dos outros, mas com certo distanciamento nas convivências, principalmente porque uns eram ricos e outros pobres.

2.4 - Felício se casou com uma italiana, herdeira da Fazenda dos Guilhermes, instalada pacifica e harmoniosamente nas regiões de aldeias puri, no vasto território do Município de Guiricema, próximo ao vilarejo Cruzeiro de Guiricema. Os aldeões eram aculturados aos brancos locais e por sua vez, essa população local também aculturada aos valores dos indígenas puri, onde surgiram casamentos, compadrescos, interatividade laboral, cultural, religiosa, comemorativa de eventos das duas realidades culturais. Surgiu uma nova realidade populacional conhecida como "puri", talvez um "neo-puri"; identificar que alguém era "puri" naquela região, era afirmar que ele era um nativo, ou nativa daquela nova estrutura de convivência, e que era um descendente da nova mistura étnica e que se identificava com os valores das culturas loco-regionais; esta é uma razão pela qual me considero um "puri", principalmente por ser a cultura da minha adolescência, a que mais assimilei nas minhas muitas convivências com diferentes culturas, e a que mais conciliou os meus valores da área científica, filosófica, teológica e de espiritualidade.
Do casamento de Felício com a italiana nasceram filhos: Maria, Luzia, Alverina, Alcenira e José. Infelizmente a mãe dessas crianças morreu nova deixando Felício viúvo na fazenda cuidando dos filhos.

2.5 - A viúva Maria Soares se casa com o viúvo Felício Manoel Julinho (os cartórios brasileiros aportuguesaram os nomes), em vez de "Emanueli Giulini" ficou "Manoel Julinho", passando todos os descendentes a constar como, ... "fulano" Manoel Julinho, quando deveria ser ... "fulano" Emanueli Giulini. Do novo casamento dos viúvos nasceram mais filhos: Messias, Joaquim, João, Edes, Felismar (eu) e Sudário, que passou a conviver na fazenda, com muita constância toda essa nova irmandade, resultante dos filhos dos três casamentos.

2.6 - Com esse casamento dos dois viúvos, o amálgama étnico é enriquecido agora com mais dois elementos de etnias europeias, de matriz italiana (Gênova e Calábria).

3 - Amálgama Étnico Brasileiro:

3.1 - Não existe um estudo apurado, etnologicamente elaborado das realidades brasileiras, até porque necessitaria de múltiplas etnografias loco-regionais consistentes, para que se pudesse concluir comparações e conclusões etnológicas.
Considero-me um puri, provavelmente um neo-puri, embora tendo perdido os semantemas da língua original puri, porque das culturas de convivências participativas da minha vida, é a cultura dos nativos puri a que mais me identifico, por sua harmonização entre natureza e ciência, entre ciência e espiritualidade, entre o novo e o velho; por sua abertura para o novo, sem abandonar a responsabilidade de testemunhar a valorização do antigo, dialogando com o novo, em prol de uma convivência útil e harmoniosa entre os diferentes seres humanos, entre os seres humanos e a natureza da qual ele se faz parte, entre os valores das culturas e ciências humanas e sua compatibilização com a transcendência, por seu senso de irmanação entre todas as criaturas de Deus, por seu profundo olhar misericordioso, benevolente, igualitário, para o outro diferente e para todas as coisas.

3.2 - Memorial de minha vida pessoal. Me cobram a publicação de minha autobiografia, ou relatos de minhas experiências de vida. Mas tenho estado envolvido em tantas atividades em prol de causas mais essenciais, durante esta minha existência de 73 anos, que não tem sobrado tempo suficiente para desenvolver um trabalho de tal natureza.
Minha experiência missionária junto às diferentes comunidades, desde meus dezesseis anos, trouxe-me bagagens, principalmente sob a ótica antropológica e eclesial, que me inclina a uma futura publicação. Mas é muito difícil, para quem viveu e continua vivendo do trabalho assalariado, ter disponibilidade material e de tempo suficiente para tal empreitada. Hoje tenho a felicidade de exercer o Magistério Superior na Universidade Grande Rio, Instituição que muito amo e estimo por seus múltiplos empenhos, com singular desempenho dos elevados ideais do seu fundador Reverendo Pastor José de Souza Herdy. Fazer o que gosto e em ambiente compromissado com ideais elevados, é confortador para mim. Deus seja louvado.
Espero em tempos não muito distantes, até porque já tenho 73 anos, atualizar o meu "Memorial" e torná-lo público em meu blog. Com saudosismo de minha adolescência entre os puri e revivendo o espírito do romantismo da alma, despeço-me, firmado no nome puri, que na adolescência escolhi...

               Nhãmanrúri Schuteh (Córrego tranquilo, bonito)
           Felismar Manoel - Duque de Caxias, RJ - Natal de 2012


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(1) - Professor Mestre Adjunto I da UNIGRANRIO; Doutor em Filosofia da Religião - SETESA/Não Capes; Mestre em Ciências da Motricidade Humana - UCB/Capes; Formação em Psicanálise Clínica - SFPC; Formação em Psicomotricidade Sistêmica - CEC; Formador-Didata em Terapia Psicomotora Analítico Clínica - TEPAC do CEBRASC; Especialista em Docência Superior - IBMR; Bacharel em Fisioterapia - IBMR; Bacharel em Filosofia - SETESA; Bacharel em Teologia - SETESA; Bispo Primaz do Catolicismo Evangélico Salomonita - ICAI-TS.

3 comentários:

  1. Obrigada meu saldoso tio avô Felismar Manoel.

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  2. Obrigado tio-bisavô. Sou bisneto da Maria com Arquimedes e neto da Mariinha com Anezito. Filho da Benete (Maria) com José Ribeiro. Nasci em Visconde do Rio Branco/MG. Sou o Luciano José Ribeiro, e moramos em Piracicaba/SP, à sua disposição. Venha passar o Ano Novo com a gente.

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