quinta-feira, 29 de outubro de 2020

As Pukitanas Pury

 

Ho Puky! O Grito de Afirmação Étnica de um Povo

Nhãmãrrure Stxutér / Felimar Manoel



 “As Pukitanas Pury”. Assim era conhecida pela população, o grito de afirmação étnica pury; à medida que foram desestruturadas as organizações das aldeias pury rurais, ainda se conservou por algum tempo, nas regiões cercanas de Cruzeiro (a vila), Pé da Serra de Tuiuitinga e na Sede Distrital de Tuiuitinga, os costumes das festas e festivais pury, com suas danças, suas comilanças e seus cantos.


Quando durante os cantos e canções se pronunciava o “Ho Puky”, todos os puris dispersos e presentes na multidão, emitiam seus gritos de afirmação étnica, em um uníssono ondulante e agudo. Beleza de se ouvir! Quem nos dera ouvir de novo! Pois cantantes de “ho puky” já os temos novamente entre nós. O grito de afirmação étnica pode ser interpretado como um ondulante alarido de todos os puris, em uníssono, em grito agudo, característico de nossa etnia. Infelizmente não consigo mais reproduzí-lo, em virtude de ter sido acometido de uma neuropatia idiopática que me produziu um desvio labial esquerdo, que não mais me permite assobiar (assoviar), ou fazer o alarido agudo de nossa afirmação étnica, que o povo denomina de “grito de guerra”.


Em 1957, em Cruzeiro, por ocasião da “dança dos caboclinhos”, em homenagem a São Sebastião, dentro da capela da vila, quando meu opê-tarré, que dirigia a roda de dança, quando ele bradou o Ho Puky, quase não mais se percebeu, além de mim, o nosso grito de afirmação, e isto por dois motivos, conforme foi possível constatar:

* alguns silenciaram por medo de perseguições, e outros, emudeceram o seus gritos, porque já começavam a assimilar a versão dos inimigos, a versão dos bugres, de que ser pury, ou ser índio, era ua condição inferior, de atraso intelectual, ou fraca inteligência. Foi muito triste constatar, mas não o suficiente para eu desistir.


Continuei me afirmando pury, com consciência e ufania de o poder ser, como aprendi com minha inhã (mãe), meu opê-tarré (instrutor) e nosso opê antár (chefe ancião da aldeia). Um apelo aos artesãos dos saberes puris e cantantes de nossas canções do agora: Cantem e dancem embalados por nossas canções e resgatem por nossas canções, a nossa afirmação étnica, produzindo o entusiasta alarido, agudo e ondulante de nosso Ho Puky! Tenu-arrí!


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