Dança da Integração / Natenã íuã Kondonimí
Felismar Manoel / Nhãmãrrúre Stxutér
Quando falamos do povo pury da região de Guiricema (de cerca de 1750 a 1957), estamos nos referindo ao povo pury que situava nas margens do Rio Bagres, à esquerda, indo até o alto da serra de Tuiutinga e daí até a aldeia do sapé, em Guidoval. Existiram organizações em aldeias na Fazenda dos Gregórios, nas proximidades do Povoado Cruzeiro dos Gregórios, na localidade do Valão ao pé da serra, nas Marianas do alto da serra e a do sapé, como já citei, na localidade de Guidoval. Havia uma preocupação do povo pury em se integrar com a população da vizinhança, para o que montaram estratégias sanderí / festeira, muito do gosto das famílias sãbonã, mas aderindo muito também os nirondê / andarílhos, das famílias xamixúma através das danças corporais da aproximidade / natenã íuã kondonimí, envolvendo livremente os participantes com a saudação uérráka, o conceito de abraço pury, e aproveitando o tempo de duração das festas para conversas, consultas aos ancestrais, bem como as famosas benzeduras pelos mais velhos e parteiras das aldeias e comunidades. Tudo era regido por cantorias e danças aos toques dos famosos tambores pury / purima môborára.
Os participantes se aproximavam em busca de integração entre vizinhos, usando a prática do abraço pury, a uérráka, colocando ambas as mão um no outro, nos ombros, e tocavam a testa de um no outro (por causa dos episódios de gripes deixaram de fazer o roçado dos narizes), podendo participar do evento festivo, cantando, dançando, conversando, consultando, buscando benzeduras, entre outras. A dança kondonimí mais utilizada era a bundána, podendo haver dançarina / bosébundána e dançarino / kosébundana, via de regra usavam as tangas pury, a atupá (feminina) e a iapá (masculina), sendo a feminina geralmente adornadas com flores, em especial as flores do cipó de São João, mas poderiam ser outras flores. As dançarinas com ambas as mãos abria a amplitude da tanga mostrando as flores para seu par, enquanto o dançarino abria seus braços ao nível do peito demonstrando proteger a dançarina. Enquanto isto, outras pessoas comiam quitutes naturais, conversavam, se consultavam e buscavam as bençãos das parteiras e dos mais velhos. Muita saudade traz essas lembranças. Não sei se algumas das nossas regiões das Minas Gerais ainda praticam essas danças integrativas consolidando laços de camaradagem e boa vizinhança / Natenã íuã Kondonimí.
Uma homenagem a tio Xico Mariano Pury e tia Pina Pury, casal nirondê mas grandes parceiros sanderí. Homenagem também a tio Juka Pury de nossa família uãbóri, fiel compositor de cantorias para as nossas festas dos tambores pury. - 31/10/2024
Ksapernhê tinxú!
Felismar Manoel / Nhãmãrrúre Stxutér
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