Educação
para a Vida
Prof.
Dr. Felismar Manoel (1)
Tem
havido pedidos de alunos, para que eu publique as políticas, métodos
e técnicas que o Catolicismo Evangélico Salomonita usa, para
implantação dos programas pastorais de "promoção humana e
educação para a vida" junto às diferentes comunidades
sociais, onde atuam nossas missões, capelas e paróquias. Esta
publicação atende a essas solicitações.
1
- Atenção Básica às Comunidades do Povo de Deus.
Na
atenção básica às comunidades promovida pela ICAI-TS, o alvo
principal é a promoção humana inspirada no Evangelho Libertário
de Jesus Cristo, que alforria o Ser Humano, não só subjetivamente
do pecado, na sua vida pessoal, mas também na vida social, familiar
e dos grupos que partilham experiências na sua caminhada no planeta
terra. Por isso há uma preocupação em educar para a vida.
Vida
aqui é tomada nos seus dois sentidos eruditos: o bios (biologia)
enquanto “processos vitais orgânicos, e também o zoês (zoesia),
enquanto vida objetiva existente em Deus, o Vivente Universal, vida
subjetiva dos humanos, partilhada pela comunhão com o Vivente
Universal e plenificada pela vivência das ordenanças evangélicas,
viés revelado por Jesus Cristo.
Neste
contexto, vida é sinônimo de saúde e deve ser vista enquanto
processos, cujas fases podem ser operacionalizadas pelo ser humano de
modo consciente, como sujeito do processo e como ator no cenário
onde vive e compartilha experiências.
O
modo principal de operar essas mudanças na vida do ser humano é
através da Educação para a Vida. Por isso temos em todas as
comunidades os Centros de Instrução pró Vida – CIVIDA. Aqui a
educação é percebida enquanto processo, através de fases.
Assim
a educação deve acontecer mínimamente seguindo as fases seguintes:
SENSIBILIZAÇÃO
<===> INFORMAÇÃO;
INFORMAÇÃO
<===> MOTIVAÇÃO;
MOTIVAÇÃO
<===> EXPERIMENTAÇÃO;
EXPERIMENTAÇÃO
<===> ADOÇÃO DO NOVO.
Na
realidade, só terá acontecido a educação, quando houver a adoção
do comportamento novo.
Só
haverá a construção do sujeito, quando houver a sua
conscientização e a assunção do seu papel no processo, quando
então o sujeito se tornará ator no cenário da sua comunidade,
agente capaz de transformar a realidade na construção de um mundo
melhor.
I
- Caminhos a Seguir:
1
– Vistoriar a região da comunidade para se conhecer a realidade
local (quando houver tempo e recursos, aconselha-se usar o método
etnográfico participativo). Normalmente utiliza-se o “diário de
campo” (um caderno) para anotar tudo que for significativo, ou
relevante, quando se "passeia" pela comunidade, anotando
tudo de significativo que percebe, tanto os de aspectos positivos,
quanto os de aspectos negativos;
2
– A partir dos diários de campo, se reúnem e elaboram um
Relatório de Vistoria Sistematizado - RVS, (sistematizar é por
ordem sistemática nos dados registrados) para fornecer subsídios à
identificação dos problemas;
3
– Análise do RVS, identificação dos problemas e construção de
uma MATRIZ DE PROBLEMAS - MdP. (Deve-se analisar os dados do RVS,
identificando os problemas que podem ser resolvidos e anotando-os em
separado em uma folha de papel, que constitui a Matriz dos Problemas)
4
– A partir da MdP elabora-se um DIAGNÓSTICO SITUACIONAL- DS. (A
partir dessa MdP é que vai se pensar, raciocinar e encontrar o
Diagnóstico da Situação Local).
5
- Segue-se uma análise conjuntural participativa para escolha de
prioridades. (É sempre conveniente a participação dos membros das
comunidades, que possam fornecer subsídios dos pontos complicadores
existentes nas comunidades, principalmente daqueles que representam
os CONTRA-VALORES e que podem oferecer riscos para os agentes de
pastorais e para os membros das comunidades que se envolvem). (A
análise da conjuntura é extremamente importante, e nela deve
participar as pessoas amadurecidas, lúcidas e responsáveis das
próprias comunidades, além de técnicos, pois ela visa evitar
complicações, interdições, conflitos; quando existem atividades
marginais, caciquismo ideológico, político, ou até mesmo
religioso, tém-se que ter cuidados nas comunidades. Na análise
conjuntural deve-se atentar também para esses aspectos).
6
– Com base na análise conjuntural constrói-se a MATRIZ DE
ESTRATÉGIAS DE AÇÃO - MEA. (A matriz de estratégias de ação
MEA, é a relação das ações possíveis para resolver os problemas
existentes, anotadas em folha de papel, que será uma peça
importante do trabalho comunitário).
7
– A partir das MEA elabora-se os Projetos de Intervenções para
implementação das ações transformadoras das realidades passíveis
de mudanças. É a partir da Matriz de Estratégias de Ação, que o
grupo de Agentes Pastorais irão construir os Projetos de
Intervenção para solucionar os problemas. (Poderá surgir a
necessidade de pesquisas também, tanto no sentido fenomenológico
(avaliar o que é percebido pelas pessoas), quanto no cartesiano
(coletar dados quantitativos), visando esclarecer pontos obscuros
antes de iniciar as intervenções).
8
– Na Implementação das ações deve-se fazer o acompanhamento,
através de avaliação do controle do processo em andamento e
avaliar também o impacto das ações interventoras na comunidade.
(Aqui deve-se ter cuidado em adotar um mecanismo para fazer o
controle do processe de intervenção - Relatórios de Vistoria
Técnica, Memoranda, Questionários, etc. Também deve fazer o
controle do impacto das intervenções junto à Comunidade, aplicando
Questionários Comunitários antes de iniciar e após a implantação
dos projetos).
II
- Alguns Fatores Existentes, já conhecidos de Saúde e Qualidade de
Vida nas Comunidades (recomendados por Instituições Internacionais
e Públicas), que servem de focos de nossas observações:
1)
- Educação formal acessível; 2) - saneamento básico existente e
mantido (refere-se a drenagem de águas e esgotos com bitolagens
progressivas das tubulações, calçamento, asfaltamento, etc); 3) -
habitação adequada à dignidade da pessoa humana; 4) - renda
suficiente para a sustentabilidade da vida; 5) - trabalho
dignificante; 6) - alimentação adequada; 7) - meio ambiente
equilibrado (É bom que haja conscientização dos fatores antrópicos
comprometedores do equilíbrio ambiental, que podem ser evitados);
8) - bens e serviços essenciais acessíveis; 9) - espaços de
convivência sociocultural disponíveis; 10) - espaços para
atividade física e lazer disponíveis; 11) - segurança civil; 12)
- transporte para o ir e vir; 13) - livre expressão
filosófico-religiosa e ideológica, entre outros.
III
- Bases para Implantação das Linhas Pastorais. O ser humano é uma
entidade complexa, devendo ser respeitada essa complexidade, quando
do nossos projetos de intervenções:
1
– Qualquer linha de intervenção deve considerar o ser humano em
sua totalidade, em sua integralidade. É muito difícil uma abordagem
verdadeiramente holística, no sentido grego do termo, mas é
possível desejar aproximar o mais que for possível desta
totalidade, para o que adotamos o termo pró holística;
2
– Ao implementar as ações busque envolvimento sinérgico de
outras forças vivas da comunidade ou do Município;
3
– É necessário o envolvimento e a participação da comunidade,
por isso é recomendado adotar os encontros de discussões com seus
membros para o necessário empoderamento, visando torná-los
sujeitos do processo de transformação da realidade local,
verdadeiros atores daquele cenário onde vivem – pode-se aproveitar
as datas comemorativas, os eventos sociais, etc;
4
– Outro ponto importante é a participação social, através de
parcerias, de preferência, da região onde as ações se
desenvolvem;
5
– Na distribuição dos benefícios das ações têm-se que ser
equitativos, não podendo privilegiar apenas os que são
simpatizantes ou adeptos do seu credo religioso, filosófico, ou
político;
6
– Para a implementação das ações é conveniente, diria mesmo
essencial, que haja múltiplos envolvimentos estratégicos, para que
tais ações se consolidem, não como modismo, mas como ação
transformadora da realidade;
7
– Para que não seja modismo, é necessário que as ações
implementadas sejam sustentadas ao longo do tempo, para que possam
envolver as bases do imaginário das pessoas da comunidade, desde as
crianças, adolescentes e adultos.
IV
- Roteiro para os Projetos ou Programas de Intervenção nas
Comunidades:
É
interessante notar que qualquer projeto ou programa de intervenção,
tem necessariamente que envolver o processo educacional, embora
permeie outros eixos de pertinência.
Falamos
tanto da educação formal, quanto da educação informal. Para isso
adotamos um Roteiro para a Montagem dos Projetos ou Programas de
Intervenções.
Este
Projeto ou Programa de Intervenção é perpassado por diferentes
Eixos de Pertinências, conforme as áreas da realidade que se quer
transformar:
1
– Área de Intervenção - (focar os problemas que se quer
resolver, aclarando os diferentes eixos de pertinência que serão
considerados: saúde, trabalho, educação, moradia, segurança,
transporte, etc);
2
– Beneficiários ou Público Alvo que se quer atingir,
considerando cada eixo de pertinência;
3
– Objetivos Gerais – Poderá ser aclarado por eixos de
pertinência, ou genericamente.
Objetivos
Específicos – O ideal é que os objetivos Específicos sejam
aclarados por cada eixo de pertinência;
4
– Justificativas – (referir-se à importância das intervenções,
ações, ou projetos, com relação aos problemas identificados em
cada eixo de pertinência);
5
– Programação das atividades – (apresentar a programação das
atividades a serem implantadas, por eixos de pertinência,
preferentemente mediante cronograma das ações, mesmo que tenha
flexibilidade para adaptações e mudanças);
6
– Descrição das Metodologias de Ações – (os métodos de ação
devem ser apresentados por cada eixo de pertinência);
7
– Órgãos participantes – (aqui são aclarados os parceiros que
estão comprometidos ou envolvidos em nossa empreitada pastoral,
podendo ser por eixos de pertinência);
8
– Programação Orçamentária – (a programação orçamentária
deve ser efetuada minuciosamente, mesmo que com recursos da própria
ICAI-TS, pois o orçamento facilita o controle dos custos, a
prestação de contas e favorece a análise de parceiros sociais.
Para nós na ICAI-TS, quase sempre montamos os nossos projetos com a
boa vontade de servir, COM A CARA E A CORAGEM, como se diz
popularmente);
9
– Administração do Projeto ou Programa de Intervenção –
(indicar quem gerenciará a execução e desenvolvimento do projeto
ou programa, por eixos de pertinência);
10
– Metodologias de Acompanhamento dos Projetos e Programas – (é
necessário avaliar a execução das diferentes etapas das execuções
de projetos e programas, por isso se define a metodologia para
avaliar o controle do processo de desenvolvimento, bem como para
avaliar o impacto que a implantação dos projetos ou programas
produzem nas comunidades, isto poderá ser feito por cada eixo de
pertinência).
Observação
– Aqui, quando se fala em Programas, está se referindo ao aspecto
de empreitada pastoral guarda-chuva, que abriga diferentes projetos e
ações, geralmente de longa duração.
Quando
se fala em projetos, são empreitadas mais focais, tanto de pesquisas
prévias, quanto de intervenção direta para transformação de
alguma realidade local, com menor tempo de duração e geralmente
abrigados em um programa maior.
Referenciais
Norteadores :
Cartas
Internacionais de Saúde e Modelos para Implantação de programas e
Projetos Comunitários seguindo as influências da Fundação Getúlio
Vargas..
Felismar
Manoel – Implantação de Linhas Pastorais transformadoras da
realidade para a construção de um mundo melhor – Capivari (Vila
Coqueirinho), Duque de Caxias, abril de 1994.
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(1)
- Professor Mestre Adjunto I da UNIGRANRIO; Doutor em Filosofia da
Religião - SETESA/Não Capes; Mestre em Ciências da Motricidade
Humana - UCB/Capes; Formação em Psicanálise Clínica - SFPC;
Formação em Psicomotricidade Sistêmica - CEC; Formador-Didata em
Terapia Psicomotora Analítico Clínica - TEPAC do CEBRASC;
Especialista em Docência Superior - IBMR; Bacharel em Fisioterapia -
IBMR; Bacharel em Filosofia - SETESA; Bacharel em Teologia - SETESA;
Bispo Primaz do Catolicismo Evangélico Salomonita - ICAI-TS.
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