domingo, 15 de setembro de 2013

Implantação de Projetos Comunitários


Educação para a Vida

Prof. Dr. Felismar Manoel (1)



Tem havido pedidos de alunos, para que eu publique as políticas, métodos e técnicas que o Catolicismo Evangélico Salomonita usa, para implantação dos programas pastorais de "promoção humana e educação para a vida" junto às diferentes comunidades sociais, onde atuam nossas missões, capelas e paróquias. Esta publicação atende a essas solicitações.

1 - Atenção Básica às Comunidades do Povo de Deus.

Na atenção básica às comunidades promovida pela ICAI-TS, o alvo principal é a promoção humana inspirada no Evangelho Libertário de Jesus Cristo, que alforria o Ser Humano, não só subjetivamente do pecado, na sua vida pessoal, mas também na vida social, familiar e dos grupos que partilham experiências na sua caminhada no planeta terra. Por isso há uma preocupação em educar para a vida.
Vida aqui é tomada nos seus dois sentidos eruditos: o bios (biologia) enquanto “processos vitais orgânicos, e também o zoês (zoesia), enquanto vida objetiva existente em Deus, o Vivente Universal, vida subjetiva dos humanos, partilhada pela comunhão com o Vivente Universal e plenificada pela vivência das ordenanças evangélicas, viés revelado por Jesus Cristo.
Neste contexto, vida é sinônimo de saúde e deve ser vista enquanto processos, cujas fases podem ser operacionalizadas pelo ser humano de modo consciente, como sujeito do processo e como ator no cenário onde vive e compartilha experiências.
O modo principal de operar essas mudanças na vida do ser humano é através da Educação para a Vida. Por isso temos em todas as comunidades os Centros de Instrução pró Vida – CIVIDA. Aqui a educação é percebida enquanto processo, através de fases.

Assim a educação deve acontecer mínimamente seguindo as fases seguintes:
SENSIBILIZAÇÃO <===> INFORMAÇÃO;
INFORMAÇÃO <===> MOTIVAÇÃO;
MOTIVAÇÃO <===> EXPERIMENTAÇÃO;
EXPERIMENTAÇÃO <===> ADOÇÃO DO NOVO.

Na realidade, só terá acontecido a educação, quando houver a adoção do comportamento novo.
Só haverá a construção do sujeito, quando houver a sua conscientização e a assunção do seu papel no processo, quando então o sujeito se tornará ator no cenário da sua comunidade, agente capaz de transformar a realidade na construção de um mundo melhor.

I - Caminhos a Seguir:

1 – Vistoriar a região da comunidade para se conhecer a realidade local (quando houver tempo e recursos, aconselha-se usar o método etnográfico participativo). Normalmente utiliza-se o “diário de campo” (um caderno) para anotar tudo que for significativo, ou relevante, quando se "passeia" pela comunidade, anotando tudo de significativo que percebe, tanto os de aspectos positivos, quanto os de aspectos negativos;

2 – A partir dos diários de campo, se reúnem e elaboram um Relatório de Vistoria Sistematizado - RVS, (sistematizar é por ordem sistemática nos dados registrados) para fornecer subsídios à identificação dos problemas;

3 – Análise do RVS, identificação dos problemas e construção de uma MATRIZ DE PROBLEMAS - MdP. (Deve-se analisar os dados do RVS, identificando os problemas que podem ser resolvidos e anotando-os em separado em uma folha de papel, que constitui a Matriz dos Problemas)
4 – A partir da MdP elabora-se um DIAGNÓSTICO SITUACIONAL- DS. (A partir dessa MdP é que vai se pensar, raciocinar e encontrar o Diagnóstico da Situação Local).

5 - Segue-se uma análise conjuntural participativa para escolha de prioridades. (É sempre conveniente a participação dos membros das comunidades, que possam fornecer subsídios dos pontos complicadores existentes nas comunidades, principalmente daqueles que representam os CONTRA-VALORES e que podem oferecer riscos para os agentes de pastorais e para os membros das comunidades que se envolvem). (A análise da conjuntura é extremamente importante, e nela deve participar as pessoas amadurecidas, lúcidas e responsáveis das próprias comunidades, além de técnicos, pois ela visa evitar complicações, interdições, conflitos; quando existem atividades marginais, caciquismo ideológico, político, ou até mesmo religioso, tém-se que ter cuidados nas comunidades. Na análise conjuntural deve-se atentar também para esses aspectos).

6 – Com base na análise conjuntural constrói-se a MATRIZ DE ESTRATÉGIAS DE AÇÃO - MEA. (A matriz de estratégias de ação MEA, é a relação das ações possíveis para resolver os problemas existentes, anotadas em folha de papel, que será uma peça importante do trabalho comunitário).

7 – A partir das MEA elabora-se os Projetos de Intervenções para implementação das ações transformadoras das realidades passíveis de mudanças. É a partir da Matriz de Estratégias de Ação, que o grupo de Agentes Pastorais irão construir os Projetos de Intervenção para solucionar os problemas. (Poderá surgir a necessidade de pesquisas também, tanto no sentido fenomenológico (avaliar o que é percebido pelas pessoas), quanto no cartesiano (coletar dados quantitativos), visando esclarecer pontos obscuros antes de iniciar as intervenções).

8 – Na Implementação das ações deve-se fazer o acompanhamento, através de avaliação do controle do processo em andamento e avaliar também o impacto das ações interventoras na comunidade. (Aqui deve-se ter cuidado em adotar um mecanismo para fazer o controle do processe de intervenção - Relatórios de Vistoria Técnica, Memoranda, Questionários, etc. Também deve fazer o controle do impacto das intervenções junto à Comunidade, aplicando Questionários Comunitários antes de iniciar e após a implantação dos projetos).

II - Alguns Fatores Existentes, já conhecidos de Saúde e Qualidade de Vida nas Comunidades (recomendados por Instituições Internacionais e Públicas), que servem de focos de nossas observações:

1) - Educação formal acessível; 2) - saneamento básico existente e mantido (refere-se a drenagem de águas e esgotos com bitolagens progressivas das tubulações, calçamento, asfaltamento, etc); 3) - habitação adequada à dignidade da pessoa humana; 4) - renda suficiente para a sustentabilidade da vida; 5) - trabalho dignificante; 6) - alimentação adequada; 7) - meio ambiente equilibrado (É bom que haja conscientização dos fatores antrópicos comprometedores do equilíbrio ambiental, que podem ser evitados); 8) - bens e serviços essenciais acessíveis; 9) - espaços de convivência sociocultural disponíveis; 10) - espaços para atividade física e lazer disponíveis; 11) - segurança civil; 12) - transporte para o ir e vir; 13) - livre expressão filosófico-religiosa e ideológica, entre outros.

III - Bases para Implantação das Linhas Pastorais. O ser humano é uma entidade complexa, devendo ser respeitada essa complexidade, quando do nossos projetos de intervenções:

1 – Qualquer linha de intervenção deve considerar o ser humano em sua totalidade, em sua integralidade. É muito difícil uma abordagem verdadeiramente holística, no sentido grego do termo, mas é possível desejar aproximar o mais que for possível desta totalidade, para o que adotamos o termo pró holística;

2 – Ao implementar as ações busque envolvimento sinérgico de outras forças vivas da comunidade ou do Município;

3 – É necessário o envolvimento e a participação da comunidade, por isso é recomendado adotar os encontros de discussões com seus membros para o necessário empoderamento, visando torná-los sujeitos do processo de transformação da realidade local, verdadeiros atores daquele cenário onde vivem – pode-se aproveitar as datas comemorativas, os eventos sociais, etc;

4 – Outro ponto importante é a participação social, através de parcerias, de preferência, da região onde as ações se desenvolvem;

5 – Na distribuição dos benefícios das ações têm-se que ser equitativos, não podendo privilegiar apenas os que são simpatizantes ou adeptos do seu credo religioso, filosófico, ou político;

6 – Para a implementação das ações é conveniente, diria mesmo essencial, que haja múltiplos envolvimentos estratégicos, para que tais ações se consolidem, não como modismo, mas como ação transformadora da realidade;

7 – Para que não seja modismo, é necessário que as ações implementadas sejam sustentadas ao longo do tempo, para que possam envolver as bases do imaginário das pessoas da comunidade, desde as crianças, adolescentes e adultos.

IV - Roteiro para os Projetos ou Programas de Intervenção nas Comunidades:

É interessante notar que qualquer projeto ou programa de intervenção, tem necessariamente que envolver o processo educacional, embora permeie outros eixos de pertinência.
Falamos tanto da educação formal, quanto da educação informal. Para isso adotamos um Roteiro para a Montagem dos Projetos ou Programas de Intervenções.
Este Projeto ou Programa de Intervenção é perpassado por diferentes Eixos de Pertinências, conforme as áreas da realidade que se quer transformar:

1 – Área de Intervenção - (focar os problemas que se quer resolver, aclarando os diferentes eixos de pertinência que serão considerados: saúde, trabalho, educação, moradia, segurança, transporte, etc);
2 – Beneficiários ou Público Alvo que se quer atingir, considerando cada eixo de pertinência;
3 – Objetivos Gerais – Poderá ser aclarado por eixos de pertinência, ou genericamente.
Objetivos Específicos – O ideal é que os objetivos Específicos sejam aclarados por cada eixo de pertinência;
4 – Justificativas – (referir-se à importância das intervenções, ações, ou projetos, com relação aos problemas identificados em cada eixo de pertinência);
5 – Programação das atividades – (apresentar a programação das atividades a serem implantadas, por eixos de pertinência, preferentemente mediante cronograma das ações, mesmo que tenha flexibilidade para adaptações e mudanças);
6 – Descrição das Metodologias de Ações – (os métodos de ação devem ser apresentados por cada eixo de pertinência);
7 – Órgãos participantes – (aqui são aclarados os parceiros que estão comprometidos ou envolvidos em nossa empreitada pastoral, podendo ser por eixos de pertinência);
8 – Programação Orçamentária – (a programação orçamentária deve ser efetuada minuciosamente, mesmo que com recursos da própria ICAI-TS, pois o orçamento facilita o controle dos custos, a prestação de contas e favorece a análise de parceiros sociais. Para nós na ICAI-TS, quase sempre montamos os nossos projetos com a boa vontade de servir, COM A CARA E A CORAGEM, como se diz popularmente);
9 – Administração do Projeto ou Programa de Intervenção – (indicar quem gerenciará a execução e desenvolvimento do projeto ou programa, por eixos de pertinência);
10 – Metodologias de Acompanhamento dos Projetos e Programas – (é necessário avaliar a execução das diferentes etapas das execuções de projetos e programas, por isso se define a metodologia para avaliar o controle do processo de desenvolvimento, bem como para avaliar o impacto que a implantação dos projetos ou programas produzem nas comunidades, isto poderá ser feito por cada eixo de pertinência).

Observação – Aqui, quando se fala em Programas, está se referindo ao aspecto de empreitada pastoral guarda-chuva, que abriga diferentes projetos e ações, geralmente de longa duração.
Quando se fala em projetos, são empreitadas mais focais, tanto de pesquisas prévias, quanto de intervenção direta para transformação de alguma realidade local, com menor tempo de duração e geralmente abrigados em um programa maior.

Referenciais Norteadores :

Cartas Internacionais de Saúde e Modelos para Implantação de programas e Projetos Comunitários seguindo as influências da Fundação Getúlio Vargas..

Felismar Manoel – Implantação de Linhas Pastorais transformadoras da realidade para a construção de um mundo melhor – Capivari (Vila Coqueirinho), Duque de Caxias, abril de 1994.

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(1) - Professor Mestre Adjunto I da UNIGRANRIO; Doutor em Filosofia da Religião - SETESA/Não Capes; Mestre em Ciências da Motricidade Humana - UCB/Capes; Formação em Psicanálise Clínica - SFPC; Formação em Psicomotricidade Sistêmica - CEC; Formador-Didata em Terapia Psicomotora Analítico Clínica - TEPAC do CEBRASC; Especialista em Docência Superior - IBMR; Bacharel em Fisioterapia - IBMR; Bacharel em Filosofia - SETESA; Bacharel em Teologia - SETESA; Bispo Primaz do Catolicismo Evangélico Salomonita - ICAI-TS.



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