quinta-feira, 31 de outubro de 2024

Tambor Pury / Pury Borára

 

Dança da Integração / Natenã íuã Kondonimí

Felismar Manoel / Nhãmãrrúre Stxutér



Quando falamos do povo pury da região de Guiricema (de cerca de 1750 a 1957), estamos nos referindo ao povo pury que situava nas margens do Rio Bagres, à esquerda, indo até o alto da serra de Tuiutinga e daí até a aldeia do sapé, em Guidoval. Existiram organizações em aldeias na Fazenda dos Gregórios, nas proximidades do Povoado Cruzeiro dos Gregórios, na localidade do Valão ao pé da serra, nas Marianas do alto da serra e a do sapé, como já citei, na localidade de Guidoval. Havia uma preocupação do povo pury em se integrar com a população da vizinhança, para o que montaram estratégias sanderí / festeira, muito do gosto das famílias sãbonã, mas aderindo muito também os nirondê / andarílhos, das famílias xamixúma através das danças corporais da aproximidade / natenã íuã kondonimí, envolvendo livremente os participantes com a saudação uérráka, o conceito de abraço pury, e aproveitando o tempo de duração das festas para conversas, consultas aos ancestrais, bem como as famosas benzeduras pelos mais velhos e parteiras das aldeias e comunidades. Tudo era regido por cantorias e danças aos toques dos famosos tambores pury / purima môborára.


Os participantes se aproximavam em busca de integração entre vizinhos, usando a prática do abraço pury, a uérráka, colocando ambas as mão um no outro, nos ombros, e tocavam a testa de um no outro (por causa dos episódios de gripes deixaram de fazer o roçado dos narizes), podendo participar do evento festivo, cantando, dançando, conversando, consultando, buscando benzeduras, entre outras. A dança kondonimí mais utilizada era a bundána, podendo haver dançarina / bosébundána e dançarino / kosébundana, via de regra usavam as tangas pury, a atupá (feminina) e a iapá (masculina), sendo a feminina geralmente adornadas com flores, em especial as flores do cipó de São João, mas poderiam ser outras flores. As dançarinas com ambas as mãos abria a amplitude da tanga mostrando as flores para seu par, enquanto o dançarino abria seus braços ao nível do peito demonstrando proteger a dançarina. Enquanto isto, outras pessoas comiam quitutes naturais, conversavam, se consultavam e buscavam as bençãos das parteiras e dos mais velhos. Muita saudade traz essas lembranças. Não sei se algumas das nossas regiões das Minas Gerais ainda praticam essas danças integrativas consolidando laços de camaradagem e boa vizinhança / Natenã íuã Kondonimí.


Uma homenagem a tio Xico Mariano Pury e tia Pina Pury, casal nirondê mas grandes parceiros sanderí. Homenagem também a tio Juka Pury de nossa família uãbóri, fiel compositor de cantorias para as nossas festas dos tambores pury. - 31/10/2024


Ksapernhê tinxú!

Felismar Manoel / Nhãmãrrúre Stxutér


quinta-feira, 17 de outubro de 2024

Dia Mundial da Alimentação…

 

Trago hoje uma memória sofrida do meu povo pury das Regiões de Guiricema - Ainda no século XVIII, os pury meus familiares desceram da Serra da Mantiqueira seguindo as nascentes de águas ali surgidas e foram habitar as margens dos rios, ribeirões e córregos, onde plantavam e semeavam nos espaços sem árvores, às margens das florestas ou nos clarões desarborizados das matas, vivendo em áreas diversas e principalmente nas margens do Rio Bagres, morando da sua margem esquerda até o alto da Serra de Tuiutinga e dai até Muriaé e Guidoval pelo alto das montanhas.

Nos inícios do século XIX tiveram suas terras invadidas por pessoas que se diziam proprietárias das terras, cujos títulos de propriedades nunca viram, mas se firmaram na localidade do primeiro distrito onde se formou sede, na localidade de Cruzeiro (aí uns tais Gregórios), na localidade do Valão (os tais Soares Souza Lima) e em outras áreas próximas outros assumiram, ficando nosso povo sem local próprio para viver, nem mais para onde fugir.

Nas décadas finais do século XIX tais terras foram vendidas em parte para o Povo italiano, que em grande parte plantaram novas matas de cafezais, pois era este o entendimento do povo pury, ficando eles sem nenhum local para plantar os produtos de sua subsistência, restando-lhes os brejas não cultivados por italianos, em cujas margens os pury plantavam arroz, inhame rosa e araruta, que infelizmente se perdia o arrozal quando surgiam as enchentes. Houve um período que adoeceu quase todos os pury da região, para o que a medicina da época reconheceu que era consequência de longo período se alimentando apenas de araruta e inhame, pois estes, quando surgiam as enchentes, destruía-se seus ramos e folhas, mas as raízes permaneciam no solo pantanoso, permitindo serem colhidos e comidos por todos eles, sendo os únicos alimentos que podiam cultivar e colher para sobreviverem.

É doloroso para mim lembrar disto ainda hoje, aos meus 86 anos a completar, mas é necessário levantar a minha voz, para que outros saibam as penúrias e agruras que foram nossos dias de fome, silenciamento, apagamento e miscigenação dirigida através de estratégias e táticas para nossa extinção.

Infelizmente, nunca surgiu alguém interessado em conhecer nossas angústias e registrar os sofrimentos a que estivemos submetidos enquanto existência étnica, de cuja etnia pury se tentou retirar até a dignidade e o caráter purinã, nos desterritorializando e nos deixando à míngua enquanto sobreviventes humanos que somos. Graças a Nhãnhãdú/Dokóra que realmente aprendemos a sobreviver, podendo chegar até aqui e levantar a minha voz: Socorro!!!

Neste dia mundial da alimentação, atentem para a justiça, a empatia, a alteridade, e não continuem a negar aos Povos da Terra o seus direitos de existência e determinação.

Viva o Povo Pury de Guiricema e adjacências!
Que nossos ancestrais gritem comigo: ... Socorro!!!

Muitos ainda sofrem, e talvez morram, em consequência dos ouvidos moucos de quem recebeu a tarefa de governar.

* Felismar Manoel / Nhãmãrrúre Stxutér

terça-feira, 1 de outubro de 2024

Salve o Mastro Pury de Tupã! Salve a Cruz de Jesus Cristo!

 

Salve a União dos Povos na Tekuára Sú, na qual e pela qual lutaram os Pury de outrora e lutam ainda os Pury da atualidade!


Havia uma fraternal comunhão e convivência solidária entre a descendência pury e a descendência italiana, nos dias de minha infância e juventude nas terras de Guiricema; havia certo festejo mútuo nos dias 14 de setembro de cada ano, pois os pury comemoravam Tupã (aste vertical da cruz) e os italobrasileiros comemoravam o Cristo Salvador, o Tupéa Malaléka para os pury (aste horizontal da cruz), no seu Grande Abraço da humanidade toda, e de todos os seres viventes. Nesses dias todas as cruzes plantadas nas beiradas das estradas, nas margens dos terreiros das casas, ou penduradas nas suas paredes externas pelas famílias das redondezas, eram enfeitadas (a cargo dos pury) com flores de papel de seda, sendo o mastro vertical em uma cor mais viva e o braço horizontal em tons mais claros, com cores alternadas, em memória ao abraço universal de Tupéa Malaléka, o acolhedor de todos.


Viva o Bem Viver na União de Todos os viventes na Tekuára Sú!

domingo, 29 de setembro de 2024

A Txambô nas aldeias rurais e comunidades pury e o aprendizado sobre a nossa Ancestralidade

 

As Famílias Raízes - A Txambô é um cerimonial da nossa história ancestral pury e tem por objetivo a formação da consciência purinã nos mais jovens e conservar na memória coletiva a trama das nossas lutas durante as nossas vivências enquanto povo e etnia.


Conta -se que em passado muito distante, antes da chegada dos invasores europeus, nossas famílias pury viviam junto ao Povo Goitaká em territórios entre os Rio São Mateus e Rio Doce, e que viviam mal porque não se harmonizavam com o caráter beligerante e feroz daquele povo, o que levou-as a praticarem a koroná, pedindo ajuda e orientação à Nhãmãdú/Dokóra. Depois de certo tempo três famílias receberam as visitas instrucionais dos Deuálamãe, Sãbonã orientando a uma família como organizar e comemorar as festividades, Uãbóri orientou a outra família como cuidar da terra com seus viventes, e Xamixúma orientou a terceira família como proteger o povo dos perigos nas matas e florestas quando nas caças e coletas para alimentação e sobrevivência, constituindo essas três as famílias raízes pury, que junto às outras famílias deveriam se separarem do coletivo Goitaká e constituir-se como o Povo Pury, uma etnia coesa, daí formando as famílias troncos pelos casamentos entre seus filhos, e também as famílias ramos pelas uniões de seus filhos, se espalhando pelas redondezas da Serra da Mantiqueira.


Assim, nosso povo pury se espalhou descendo também a serra e habitando as margens dos rios, ribeirões e córregos, se reunindo episódicamente em nação, quando buscavam decisões gerais que deveriam envolver a todos.


Salve o Povo Pury!

Salve as memórias das aldeias e comunidades pury de Guiricema, Cruzeiro dos Gregórios, Valão, Tuiutinga, Marianas e Sapé em Guidoval, cujos testemunhos de lutas povoou a minha infância e juventude.

Ksapernhê tinxú!

segunda-feira, 13 de maio de 2024

Práxis Pastoral de Dom Manoel Ceia Laranjeira Diocese São José – Rio de Janeiro, RJ

 Igreja Católica Livre no Brasil Ordem de Santo André - Capítulo Rio de Janeiro Igreja Católica Apostólica Independente no Brasil Av. Nossa Senhora de Fátima, 66 - Rio de Janeiro, RJ Av. Rio Branco, 120/301 – Rio de Janeiro, RJ Rua da Chita, 15 - SETESA – Rio de Janeiro, RJ Rua Joaquim Silva, 81 – Rio de Janeiro, RJ Palavras Iniciais Sob o lema “SOMOS UM EM CRISTO”, o Rev. Salomão Ferraz iniciou o seu ministério pastoral, promovendo a união entre os diversos grupos cristãos que nutriam relações de intolerâncias entre si, buscando firmar-se nas fundamentações evangélicas e nas tradições apostólicas do Novo Testamento que se harmonizassem com a clara bitola dos quatro evangelhos canônicos, isto já em 1902 (e mantido durante todo o seu ministério), quando começou a praticar a hoje chamada “HOSPITALIDADE EUCARÍSTICA” e “UM SÓ BATISMO” conforme Jesus ordenou, em nome da Santíssima Trindade e com água. Sob o lema “CONHECEREIS A VERDADE E A VERDADE VOS LIBERTARÁ”, desde 1951 desenvolveu o seu ministério pastoral o Bispo Dom Manoel Ceia Laranjeira, no seu território diocesano, mantendo acesa a chama da união entre os cristãos na experiência do testemunho intra-eclesial e promovendo as afirmações do Credo Social da própria igreja livre, preocupando sempre com as minorias sociais, os excluídos, os marginalizados e por isso, estabelecendo através de seus religiosos e padres as comunidades de serviços, buscando a promoção humana junto as comunidades carentes, quer nos espaços centrais urbanos, nas periferias urbanas e nas áreas rurais. Dom Manoel Ceia Laranjeira não tinha preocupação de construir grandes templos, suntuosas catedrais, coisas parecidas; ele orientava a seus padres para serem servidores entre os irmãos, compartilhando, carregando os fardos uns dos outros, na solidariedade, na caridade, na generosidade, mas também nas reflexões da palavra de Deus, na adoração, na prática da comunhão em Cristo, comunhão com Deus, comunhão com todos os santos, comunhão com todos os irmãos em Cristo. Deixarei de relatar aqui dados relacionados ao período 1951 a 1958, pois nessa época não militava no seio dessa abençoada Igreja de Cristo, mas ainda vivenciava a espiritualidade franciscana conforme se praticava na romanidade papal, acontecendo a minha conversão, graças ao ministério pastoral de Dom Salomão Ferraz e Dom Manoel Ceia Laranjeira em 1959. Duque de Caxias, em 06/08/2016 Dom Felismar Manoel Bispo Primaz – Catolicismo Salomonita ICAI-TS Faltou Divulgação para as Comunidades no Passado Nas atuais manifestações do nosso clero via wats ap, muitas questões se afloraram, havendo um certo desvelamento revelador de temperamentos, caráter e educação de base pessoal, que se abafam sob a figura do clérigo tradicionalmente construído pela história através dos séculos. Além das belas orações e palavas bonitas dos cenários devocionais e celebrativos das liturgias, quem na verdade somos nós como pessoas, como indivíduos, em nossas singularidades e idiossincrasias? Sabemos que de fato Deus nos conhece no íntimo e com Ele teremos que nos ajustar algum dia. Houve uma palavra de Dom Raimundo Augusto que foi muito importante para mim, quando afirmou que conhecia o trabalho apostólico de Dom Manoel Ceia Laranjeira dentro da linha do catolicismo românico, mas nada sabia sobre o seu envolvimento com o catolicismo evangélico aqui nas terras do Rio de Janeiro. Dom Raimundo Augusto é um Bispo sério, responsável, transparente em suas convicções religiosas e em seu zelo apostólico e pessoal. Esse fato fez-me “tomar consciência” que não se divulgava relatórios dos trabalhos pastorais de Dom Manoel Ceia Laranjeira; sendo assim, como os que viviam militando em outros cenários distantes, poderiam saber o que se passava por aqui? Dom Manoel tinha um perfil de dinâmica pastoral diverso do perfil de Dom Salomão Ferraz. Enquanto Salomão Ferraz se constituía em um verdadeiro evangelista, divulgador dos pensamentos, das ideias e das doutrinas extraídas dos evangelhos do Senhor, através dos púlpitos, pregações, conferências e textos impressos, já Manoel Ceia Laranjeira era zeloso aplicador do Credo Social do Catolicismo Salomonita, orientando sua dinâmica pastoral, no sentido do “carregar os fardos uns dos outros”, estabelecendo trabalhos de aplicação dos princípios evangélicos na promoção da pessoa humana. Lembro-me de uma observação de Dom Manoel feita a mim, juntamente com Dom Salomão, lá nos idos de 1959, na época em que eu fazia o Seminário Propedêutico, ao saber que no ambiente franciscano eu me preparava para ser missionário na África (Nigéria/Niger), ele então me disse, em tom de observação: “Porque sair daqui e ir para a África para ser missionário, se temos aqui muitas áfricas sofridas, abandonadas, em nossos meios urbanos, em meio a essas selvas de asfaltos, de pedras, de concretos, de ganâncias, esperando por corações e mentes missionárias. em função do evangelho alforriador de Nosso Senhor Jesus Cristo?” Essa observação do venerável pai espiritual foi significativa na minha redefinição de rumos para meu apostolado. Pontuação de Algumas Atividades Advertência – Em nosso meio eclesial, nunca se temeu os rótulos de católicos e ou protestantes, pois todos nos sentimo honrados em ostentar essas características, isto conforme as definiu Salomão Ferraz: I - Sou católico porque …1 - tenho reverência pelo elemento sobrenatural da religião; 2 - tenho respeito pela piedosa tradição dos séculos baseada no testemunho das sagradas escrituras; 3 - tenho alto apreço pelos sacramentos instituídos por Jesus Cristo e por ele recomendados com carinho, culminando no Santíssimo Sacramento do Altar; 4 - tenho a crença humilde e singela na real presença do Senhor na Santa Eucaristia. II – Mas também sou protestante porque … 1 - tenho respeito pelo valor do indivíduo que não deve ser anulado para atender a interesses de nenhuma máquina, seja ela industrial, política ou eclesiástica; 2 - tenho sentimento de responsabilidade individual direta para com Deus e os humanos, não necessitando de nenhum intermediário indiscreto, sou portanto uma pessoa correta; 3 - obedeço como lei suprema, aos ditames de minha consciência esclarecida ; 4 - em nome dessa consciência, sou capaz de levantar em tempo a bandeira de uma justa rebelião. “Me sinto muito honrado em ostentar esses dois nomes, pela graça de Deus sou católico e sou protestante também.” Também como ministrava pastoralmente Dom Manoel Ceia Laranjeira em prol da união cristã: 1- A Igreja Católica Livre (catolicismo salomonita) não se considera espiritualmente separada do catolicismo romano, nem do anglicano, nem do ortodoxo, nem de outros ramos da Igreja universal; 2 - Os seus termos da fraternidade são livres, amplos e generosos, como os da paz de Cristo, que é "dada", e "de graça", sem cálculos interesseiros; 3 - A verdadeira unidade religiosa e social é a que se encontra "diretamente" em Cristo, o grande Mediador, não somente entre Deus e os homens, mas também dos homens nas suas relações uns com os outros; 4 - O que dificulta a paz na igreja e entre as nações, são os falsos medianeiros, que pretendem tomar o lugar do único Mediador, Mediador indispensável, que é Jesus Cristo. Fatos no Tempo sob o Pastoreio de Dom Manoel Ceia Laranjeira 1959/1960 – Nessa época se deu a minha conversão ao catolicismo salomonita graças ao ministério e assistência pastoral de Dom Salomão Barbosa Ferraz e Dom Manoel Ceia Laranjeira e fui admitido no Seminário Propedêutico. Tive como Tutores o Rev. Padre Joaquim Jacob Pinto (padre Jacob) e o Rev. Padre Belmiro de Castro Ruas (padre Ruas). O seminário propedêutico fica a cargo de cada diocese e tem o objetivo de observar o temperamento, caráter e personalidade do seminarista, se estão alinhados ao que se espera de um religioso e ministro do evangelho e desenvolve também com o seminarista as disciplinas do curso de catolicismo salomonita, visando construir o perfil identitário da tradição salomonita de cristão unionista. Período muito proveitoso para mim, quando pude exercitar-me na piedade e santidade pessoal, e conhecer a consagração pessoal de nossos bispos, padres, religiosos e crentes fieis. 1961/1964 – Iniciou-se a minha formação acadêmica, sendo matriculado no bacharelado de filosofia no SETESA-RJ (Seminário Teológico Santo André – Campus Rio de Janeiro). No curso de filosofia minha área de concentração, meu foco de interesse foi “Comportamento Humano”, razão de aprofundamento em “antropologias”, “psicologias” , “pedagogias” e clínica pastoral. Me dediquei às pesquisas de campo sobre a realidade social da cidade Rio de Janeiro, para embasar as estratégias pastorais adotadas e supervisionadas por Dom Manoel Laranjeira. Minhas pesquisas se voltavam para menores, crianças e adolescentes, marginalizados, delinquentes, (população de rua), às vezes se envolvendo em questões de lares desestruturados. 1964/1967 – Continuei a minha formação acadêmica no SETESA-RJ, agora no bacharelado de teologia, sendo a minha área de concentração, o meu foco de interesse a “teologia bíblica fundamental”, a “teologia pastoral”, a “teologia do culto”, a “eclesiologia” e a “psicologia pastoral”. Tive o prazer de conhecer o Pe. Dr. Francisco Alves Correa, professor do SETESA-RJ, que acabou por ser o meu Professor Orientador por ocasião do meu Doutorado em Filosofia da Religião. Durante o bacharelado de teologia, fiquei sob a tutoria de Dom Salomão Ferraz e Dom Manoel Laranjeira, tendo dois encontros avaliativos com cada tutor em cada semestre, bem como continuei com os dois preceptores, padre Jacob para as questões do rito românico e padre Ruas para os ritos evangélicos, ortodoxos e ascéticos. Para as preceptorias éramos encaminhados a outras comunidades que colaboravam com nossa igreja, sob a supervisão de nossos preceptores, assim eu estagiei na igreja ortodoxa São Nicolau do Rio de Janeiro - liturgia bizantina (Rua Gomes Freire), igreja do catolicismo melquita – rito melquita (de obediência papal) no centro do Rio de Janeiro (Rua República do Líbano); com as igrejas batistas em Nova Iguaçu – Presidente Juscelino ( experiências em comunidades) e na Fundação Deodoro (trabalho com a juventude), Deodoro, Rio de Janeiro; estagiei com o Exército de Salvação de Rio Comprido (culto de ruas, evangelização nos “antros” de pecado, nos “guetos sociais”, dispensando cuidados com as populações, carentes, excluídas e marginalizadas) Rua Campos da Paz, Rio de Janeiro. Após as preceptorias básicas éramos encaminhados às comunidades pastoreadas por Dom Manoel, para fazer a preceptoria pré-ordenação, assim fui encaminhado a fazer preceptoria na congregação dos Padres Missionários Cristo Sacerdote Eterno, sob o governo do Superior Geral padre Benedito Pereira Lima, em Nova Iguaçu (Bairro Moquetá), recebendo ali, das mãos de Dom Manoel Ceia Laranjeira a minha ordenação diaconal. O Superior Geral foi sagrado bispo pelas mãos de Dom Manoel Ceia Laranjeira por aquela época, e então, Dom Benedito Pereira Lima me conferiu a ordenação presbiteral. Nessa época houve uma tentativa de aumentar o contingente clerical que buscava a união com Roma, (pois a situação da Ordem de Santo André estava estacionada, nem era romana, nem era católica livre), isto com o apoio do bispo diocesano de Nova Iguaçu (não me lembro o nome), sendo arrolado meu nome no dossiê que seria encaminhado à Roma, sem a minha autorização (o que levou a um certo constrangimento, pois requeri a devolução de meus documentos, tendo que recolhê-los das mãos do Cardeal do Rio de Janeiro, Dom Jaime de Barros Câmara, gerando certa querela desagradável entre eu e ele, o cardeal). Em fins do ano 1965 Dom Salomão nos convocou a restaurar o movimento original do Catolicismo Livre, pois tinha perdido as esperanças que a Igreja de Roma cumprisse os protocolos verbais de união assumidos, respeitando os nossos carismas. Suas palavras foram: “Toquem o barco para a frente e para o alto; permanecerei na jurisdição romana para evitar as perseguições a vocês; estou muito velho para reiniciar, e minha permanência aqui, mesmo com sofrimento e sob amargura, será uma boa estratégia com relação a validade das ordens, pois terei refrigério na plena comunhão com Cristo.” Assim fizemos o Concílio e restauramos o movimento com o nome de Igreja Católica Apostólica Independente no Brasil, no início do mês de janeiro de 1966, tendo eu participado do Primeiro Conselho Geral da Igreja. 1968/1972 – Nessa época éramos muito atacados pelo clero romano, que nos acusavam de não ser bem preparados, de não possuir títulos acadêmicos, coisas assim, e então resolvi fazer o Doutorado em Ciência da Religião no SETESA-RJ, no que recebi um grande incentivo de Dom Manoel Ceia Laranjeira e do casal batista amigo, com quem tinha feito estagio comunitário, o Rev. Pastor José de Souza Herdy e sua esposa Dona Nilza. Minha área de concentração foi Filosofia da Religião e tive como Professor Orientador o Pe. Dr. Francisco Alves Correa, titulado pela Universidade Gregoriana de Roma, tendo eu defendido a tese sobre Fé e Razão, cujo título foi “A Sedução e a Razão como Subsídios da Fé de Abraão”. Assim que conclui o meu doutorado fui encaminhado por Dom Manoel para fazer pesquisas de campo e montar estratégias pastorais para as Missões Urbanas, pois o seu alvo era sempre construir um mundo melhor à luz das doutrinas do evangelho e aplicar o Credo Social da Igreja Livre (no Missal Brasiliense era repetido nas Missas dos Primeiros domingos com o Nome de Comunhão dos Santos). Hoje, nosso Credo Social está presente na Profissão de Fé e Renovação de Compromissos, liturgicamente vivenciada nos dias de Santo André apóstolo. Missões Urbanas, nas Áreas da Periferia aos Centros Urbanos e nas Áreas Rurais do Rio de Janeiro, sob o Pastoreio de Dom Manoel Ceia Laranjeira. Não tenho precisão nas datas dos fatos que vou apontar, pois nossos arquivos foram desviados no período laperciano, e de memória não consigo resgatar as datas com precisão. 1 - Em Cabuçu, município de Nova Iguaçu, Dom Manoel pastoreou a Congregação de catolicismo oriental (atual Igreja Ortodoxa Constantinopolitana), tendo à frente Dom Luz Valdigem que foi sagrado bispo por mim. 2 – Missão Jardim das Palmeiras, em Nova Iguaçu, congregação de catolicismo evangélico, pastoreada por mim. No período laperciano ele me afastou da função e vendeu o templo para um terreiro de umbanda. 3 - Missão no Bairro Wona, em Belford Roxo, congregação de catolicismo românico, no período laperciano foi transferida para a igreja ortodoxa canônica. 4 – Missão no Bairro Cangulo, Duque de Caxias, congregação de catolicismo românico, no período laperciano transferida para a igreja ortodoxa canônica. 5 – Missão no Bairro Comendador Soares em Nova Iguaçu, desenvolvia duas congregaçoes no mesmo templo, pela manhã catolicismo românico e a tarde catolicismo evangélico, no período laperciano foi o prédio vendido para uma igreja assembleia de Deus. 6 – Missão no Bairro São Mateus, em São João de Meriti, junto ao Lar de Menores São Judas Tadeu. Congregação de catolicismo românico pastoreada por dom Lapércio, que vendeu o prédio para ser transformado em locaçoes comerciais. 7 – Missão no Bairro Vila Rosali, em São João de Meriti, anexo a Abadia São José Operário, congregação de catolicismo românico, pastoreada por dom Lapércio, que não conseguiu manter o aluguel do imóvel. 8 – Missão no Bairro Juscelino, em Nova Iguaçu, duas congregações, pela manhã de catolicismo românico e à tarde de catolicismo evangélico, usando parceria com a igreja batista. 9 – Missão no Bairro de Fátima, no Rio de Janeiro, congregação de catolicismo românico, pastoreada diretamente por dom Manoel Ceia Laranjeira, anexa a residência e escritório episcopal, mais tarde transferida para Bangu e Av. Rio Branco. 10 – Missão do Bairro Bangu, Rio de Janeiro, tendo os anexos SETESARJ, Residência Episcopal e funcionando episodicamente as quatro congregações: Congregação de catolicismo românico para assistência local, congregação de catolicismo evangélico, congregação de catolicismo oriental e congregação de ordens ascéticas para as aulas práticas de pastoral e liturgia do SETESA-RJ, diretamente sob o pastoreio de Dom Manoel Ceia Laranjeira, extinguiu-se com a morte de dom Manoel no período laperciano. 11 – Missão no Bairro da Lapa, Rio de Janeiro, funcionando duas congregações sob o meu pastoreio, pela manhã congregação de catolicismo românico e à tarde congregação de catolicismo evangélico, tendo anexo a residência episcopal e o espaço de psicologia de clínica pastoral sob minha responsabilidade. No período laperciano eu fui afastado, e após a morte de Dom Manoel, houve invasão do prédio com queima de arquivos e mobiliários da igreja. 12 – Missão do Bairro Cruz Vermelha, Rio de Janeiro, congregação de catolicismo ascético (Superior Padre Ramon), com assistência pastoral e social a população de baixa renda. Foi desativado com a morte do Padre superior. 13 – Missão doméstica do Padre Cabral, na margem da Via Dutra, em Nova Iguaçu, congregação de catolicismo evangélico junto as famílias nas vizinhanças da residência do padre Cabral. Foi desativada por motivo de doenças na família. 14 – Missão itinerante na Área Metropolitana do Grande Rio, com congregações de catolicismo evangélico, desenvolvendo o Apostolado de André e Felipe junto as famílias (anunciar a Jesus Cristo e prover assistência às famílias), em atividade até os dias de hoje, sob minhas responsabilidades. 15 – Missão do Bairro São Cristovão, no Rio de Janeiro, com congregações de catolicismo evangélico e catolicismo ascético, sob minha responsabilidade atual supervisão episcopal, desenvolvendo o apostolado de André e Felipe e Ministério Litúrgico. Palavras Finais Acho interessante que em todas as dioceses e arciprestados, passemos a produzir os relatórios das nossas atividades pastorais, para que tenhamos registro de memórias próprias e para que possamos divulgar para os irmãos o que estamos fazendo. Lamento que todas essas atividades nunca tinham sido alinhadas em publicações de relatórios, o que leva o nosso clero a não tomar conhecimento do que outros irmãos e colegas estão fazendo em outras localidades. Só me dei conta dessa lacuna, através da fala de Dom Augusto em áudio no wats ap. Peço que me perdoem por esse lapso. Que Deus nos abençoe Em 06/08/2016 Dia da Transfiguração do Senhor – dedicado à honra e consagração das vestes litúrgicas e religiosas - para nos lembrar que nas funções litúrgicas e ministeriais, devemos sempre estar revestidos do Cristo de Deus. Dom Felismar Manoel – Bispo primaz Catolicismo Apostólico Salomonita

segunda-feira, 22 de abril de 2024

Santas Regras de Atitudes Comportamentais Salomonitas (*) Para os Irmãos e Irmãs Salomonitas

 

(*) Estas Santas Regras foram compostas e assumidas sob juramento pelo Venerável Reverendo Salomão Barbosa Ferraz, Pastor Cristão Presbiteriano em 04/12/1902, e observadas por toda a sua vida, até a sua morte em 1969, enquanto Superior Geral da Ordem de Santo André e estando sob a Jurisdição da Igreja de Roma como Bispo Auxiliar de São Paulo e Titular de Eleutérnia. – Atualização em língua portuguesa do Brasil em 2023 - Dom Felismar Manoel


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1.0 - Regras de Vida e Comprometimento Social


O Rev. Salomão Barbosa Ferraz, Pastor Presbiteriano, em 04/12/1902 jurou observar estes princípios em toda a sua vida, tendo-os cumpridos até sua morte em 1969, e são propostas como orientações para as atitudes comportamentais de todos e todas que assumem conviver conforme o carisma de seu apostolado unionista cristão credal apostólico, tanto na vida pessoal, como pastoral, social e espiritual, para a construção de um mundo melhor, digno do Reino da Boa Nova, conforme propõe o seu Credo Social.


1.2 – Regras de Vida - Ter atitudes comportamentais em quaisquer ambientes em que se encontrar, conforme segue:


I – Acolher com reverência e amor as orientações das Sagradas Escrituras do Velho e do Novo Testamentos, contextualizadas com os Santos Evangelhos de Jesus Cristo, tendo este como bússola para a vida e as práticas religiosas e espirituais;


II – Praticar a oração como um dever na vida, buscando seguir os exemplos de Jesus Cristo e dos seus apóstolos (Luc. 6: 12; Atos 6:4);


III – Não fazer comentários sobre as coisas que excitam e impressionam de modo pessoal, primeiro conversar sobre elas com Cristo em colóquios de oração;


IV – Não praticar o que excita a sua vaidade pessoal, ou desperta o seu desejo de reconhecimento, salvo se for absolutamente indispensáveis ao cumprimento do dever;


V – Não cultivar alegria em qualquer bem terreno, sem antes reconhecer nele a dádiva de Deus, tendo um coração agradecido;


VI – Não cultivar má vontade, nem indisposição, nem causar prejuízo para com ninguém e assumir como dever supremo, manter-se acolhedor, com boa vontade, coração compassivo e com lábios anunciadores das boas palavras.



1.3 – Comprometimentos Sociais – Assumir este Credo Social em união com todos como uma práxis, capaz de produzir uma harmoniosa convivência social e natural entre os seres vivos e um mundo melhor para toda a ordem da criação de Deus:



I –Empenhar-se nos votos de lealdade ao Senhor Jesus Cristo, ao seu Império espiritual e social, buscando a restauração de tudo em seu amor na Amada Pátria Brasileira ou quaisquer outras nações acolhedoras;


II – Comportar-se enquanto crente fiel a Jesus Cristo, buscando viver à vista de Deus, em comunhão com a irmandade dos humanos, todos os santos, anjos e criaturas de Deus; com a Igreja Universal, visível e invisível, de todos os tempos, no passado, no presente e no futuro, pondo-se como honrado/a e feliz nessa solidária e fraternal companhia;


III – Reconhecer e confessar sempre a paternidade de Deus para toda a ordem de criaturas existentes, como a origem de todas as coisas e também da humanidade, sendo todos nós, portanto, irmãos de origem de todas as criaturas de Deus, sem impedimento de raça, de nacionalidade, de classe, de gênero, de identidade e de credo, ou outras singularidades;


IV – Reconhecer que os mais pequeninos e humildes membros do gênero humano, são os que merecem maior cuidado e solicitude de seus irmãos;


V – Empenhar-se para que não falte aos seres humanos, nem o trabalho honroso, nem o pão de cada dia, nem o agasalho, nem a moradia, nem a educação, nem a saúde, ou quaisquer outras coisas que imponha o respeito à dignidade da pessoa, para que todos cheguem a Deus, a Fonte Suprema da Luz, do Amor e de todo o Bem;


VI – Empenhar-se para que o mal seja banido do mundo e que as bençãos temporais e espirituais da vida sejam partilhadas por todos os seres humanos na face da terra em paz e solidariedade com todas as criaturas de Deus na ordem da criação em nosso planeta;


VII - Confiar sempre na força do Senhor Jesus Cristo para cumprir tais propósitos, buscando e promovendo a união com todos quantos confessam o Santo Nome de Deus e Jesus Cristo, nosso Irmão, Mestre, Senhor e Salvador.


1.4 – Testemunhar a Sagrada Fé Cristã Credal Apostólica, conforme segue:


I – Praticar um Catolicismo autêntico, acolhedor, vinculado à Sucessão Apostólica, que oportuniza a salvação eterna para quaisquer tipos de pecadores, disponibilizando a todos e todas os sete sacramentos e demais riquezas espirituais e litúrgicas do Ministério Cristão, voltado para Deus, para os seres humanos e para as Pátrias ou Nações onde estiver em atividades pastorais e espirituais;


II – Manter-se como movimentos apostólicos ou institucionais autônomas, livres de quaisquer tutelas políticas, tanto nacional como de sedes estrangeiras, com independência para agir tão somente, em Nome de Jesus Cristo, o Santo Alforriador, Chefe da Santa Igreja Católica Apostólica no mundo, conforme as legítimas tradições apostólicas e de santos padres, tendo os Santos Evangelhos como bússola norteadora de dúvidas e dissenções.


Dom Felismar Manoel – Abuna do Ancianato do Monastério Sagrada Compaixão. Duque de Caxias, RJ